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As mãos de Bokuto ainda tremiam enquanto ele segurava o volante, repetindo mentalmente que tudo ficaria bem. Ele repirava fundo, mas de forma discreta, para que Akaashi não percebesse seu nervosismo.

As palavras do moreno ecoavam infinitamente na mente de Koutarou, fazendo-o se arrepender de ter feito aquela pergunta. Ele se sentia ansioso, pois sabia que iria perder Akaashi. Claro, ele sempre soube disso, mas não esperava que o tempo fosse tão curto. Afinal, aquela doença era rápida quando se tratava de tirar a vida de alguém, ele sabia disso muito bem, até melhor do que gostaria.

Ninguém imagina que, em questão de minutos, a pessoa ao seu lado pode deixar esse mundo. Bokuto já havia perdido sua mãe, e pela mesma doença que agora afligia a pessoa ao seu lado. E isso sufocava Koutarou, como uma pressão quase insuportável. O sentimento de culpa, aquele que fecha a garganta, que dói o corpo todo como se um peso enorme estivesse em seus ombros, o peito apertando e a falta de ar. Essa sensação era familiar pra ele.

Bokuto sabia, no fundo, que não era sua culpa. Sua mãe estava doente há anos. Ele a via morrendo lentamente todos os dias, e tentava ignorar a situação pois encarar era doloroso demais. Então ele começou a viver fugindo disso: "amanhã eu fico com ela", "vou sair hoje, amanhã eu fico em casa" "amanhã..."

"amanhã..." e o amanhã chegou.

Mas sua mãe não o viu.

Esse foi o principal motivo que levou Bokuto a ajudar Akaashi. Parte era pela atração, outra parte era por bondade, mas a maior parte era para que ele pudesse se redimir da culpa. A culpa de não ter estado ao lado de sua mãe nos últimos dias. A culpa de não ter feito desses dias boas lembranças pra ela. E ele não queria se sentir culpado de novo.

Bokuto se sentia impotente por perder outra pessoa pelo mesmo mal e não poder fazer nada em relação a isso.

Para Akaashi, não era tão desesperador assim. Ninguém se aproxima de alguém já esperando que ela vá embora, mas para Keiji, que estava ciente da situação desde o dia em que conheceu Bokuto, não era tão assustador saber que um dia o deixaria.

Era notável o desespero de Bokuto, mas aquilo não era surpreendente, todos sempre reagiam assim. Akaashi sabia que Bokuto tentaria ao máximo ser uma pessoa perfeita e provavelmente não seria ele mesmo. Todos pensam que porque ele iria morrer deviam o tratar com pena e de forma diferente, que deveriam ser pessoas boas , afinal ele morreria.

Por isso Keiji não havia contado para ninguém sobre sua doença, além de Koutarou, e depois da reação do garoto não sabia mais se realmente deveria falar pra alguém. Ele não queria ser tratado como um doente. Mas ao mesmo tempo, ele não se arrependia de ter falado, pois Bokuto provavelmente teria mais tempo pra aceitar o fato e não doeria tanto.

...

A janela aberta do veículo fazia os cabelos de Akaashi se embarassarem e baterem contra seu rosto, as vezes alcançando seus olhos e causando um leve incômodo. Estava anoitecendo, o que deixava aquele silêncio ainda mais vazio, e sua cabeça se encontrava ainda mais, nenhuma palavra surgia em sua boca.

Já para Bokuto era diferente, ele se encontrava com muitas perguntas para fazer, e seus pensamentos eram tantos que nem conseguia os organizar. O silêncio do outro o deixava ainda mais agoniado, e ele só queria que aquela noite passasse, na esperança que a chegada do sol mostrasse que ele teria mais um dia ao lado do moreno.

Bokuto nunca se questionou sobre ter ajudado Akaashi, e ele nunca se arrependeu de ter o conhecido, mas naquele momento, ele só queria acordar e ver que foi um sonho, e que o passageiro Akaashi nunca esteve ao seu lado. Talvez assim doeria menos.

Picking Flowers With Keiji Akaashi (Bokuaka)Onde histórias criam vida. Descubra agora