dez.

943 191 100
                                    

Às três e dezesseis da tarde, Mateus passou aqui em casa com a mãe dele para me oferecer carona, já que Bia tinha nos chamado pra ir na casa dela durante a aula hoje, e óbvio que eu e ele tínhamos aceitado.

Bia, dentre nós três, era a que tinha mais condições financeiras, e ir na casa dela significava comer comidas caras e ficar de bobeira na sala, vendo filmes na TV a cabo da casa ou jogando no computador do pai dela. E nem em sonho que eu negaria aquilo.

Então, depois que ajudei Rita a arrumar o cabelo, almocei com mamãe e rapidamente tomei um banho. Já tinha avisado sobre ir na casa de Bia mais cedo, e mamãe não tinha muito o que falar sobre. Estava na primeira semana de aula de qualquer jeito, não tinha provas pra estudar e eu tinha lavado a louça do almoço, então tinha passe livre pra sair de casa.



A mãe de Mateus dirige um um Ford Escort vermelho, com um dado felpudo também vermelho pendurado no retrovisor. Ela era meio... desesperada dirigindo, e eu sempre batia a cabeça no teto inúmeras vezes quando andava no carro com ela. Mas eu não podia reclamar muito, batendo a cabeça no teto ou não, ir de carro era mil vezes melhor que andar a pé ou pedalar até lá.

— Maria, — a mulher me chamou, me olhando pelo retrovisor. — Como tá a sua mãe?

— Tá bem, Dona Célia. Ela perguntou de você esses dias mesmo. — Olhei para o lado de fora, para as casinhas passando rápido, e suspirei. Se tinha uma coisa que eu odiava na vida era conversa fiada. Eu nunca sabia o que falar quando perguntavam coisas do tipo, e na minha opinião, tudo se resolveria mil vezes mais rápido se as pessoas resolvessem se ligar ao invés de me perguntar sobre.

— E suas irmãs? Rita ainda tá estudando?

Assenti.

— Tá sim. Acho que ela deve prestar vestibular daqui a alguns meses — respondi. Tá vendo? Se ela tivesse ligado pra minha mãe antes eu não teria que estar falando sobre coisas que não são da minha vida que eu nem tenho certeza sobre.

— Entendi. Dá boa-sorte pra ela, viu? Época de vestibular é sempre difícil.

Balancei a cabeça, assentindo.

Felizmente, de carro, a casa de Bia acabava ficando perto, então menos de cinco minutos depois nós já estávamos tocando a campainha da casa da menina, observando o a frente da sua casa pelas grades do portão.

Quando nos recebeu, Beatriz estava, por algum motivo, usando roupas mais chiques que o normal, com sua blusinha branca de babados, calça jeans e tênis. Cheguei a pensar quem usava tênis dentro da própria casa? antes dela explicar, ao ver os olhares confusos de nós dois.

— Minha tia rica tá de visita. Ajam igual gente.

Eu e Mateus nos entreolhamos. Eu sabia me comportar, mas por outro lado eu só tinha vestido uma bermuda e uma camisa de malha comum antes de sair de casa, e não era nada lá essas coisas. Mas, pelo menos eu arrumei o cabelo depois de tomar banho, então não estaria parecendo tão bicho do mato assim.

Nós entramos, e a primeira coisa que vejo é a mulher sentada no sofá com cara de entojada. Ela apenas lançou um olhar pra gente antes de se virar de novo pra mãe de Bia, que estava sentada ao seu lado, e concluir o assunto que estavam falando antes de chegarmos.

— Tia, esses aqui são os meus amigos que eu falei que iam vir aqui mais cedo — Bia explicou, parecendo nervosa. Apontou pra mim primeiro. — Essa é a Mari. E esse — apontou para o menino do meu lado —, o Mateus.

— "Mari" o quê? — A mulher me olhou de cima a baixo, e eu engoli em seco.

— Maria Madalena Sayão.

Os Fantasmas de Boa-Morte ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora