- Você enlouqueceu?!?
Gritos na casa dos Hadria não eram comuns, mas essa noite era diferente. Lamentavelmente, Grace não estava em casa, o que significava um ninho de adolescentes furiosos, incluindo um Azriel a beira de um ataque cardíaco.
Ianthe: O que foi? – Perguntou, aparecendo no segundo andar, estranhando. Azriel não gritava. Nunca.
Nestha: O que mais seria? É ela! É sempre ela! – Pra alguém daquele tamanho, Nestha era bastante corajosa. Corajosa o suficiente pra peitar o irmão, estando ele naquele ponto de raiva. – Mas me deixe te dizer, Azriel, ela não é o anjo que você pensa!
Azriel: Eu nem acredito que estou ouvindo isso. – Disse, incrédulo.
Nestha: Eu ouvi ela combinando pro namorado dela dar uma surra em você logo depois que ela te descartasse! – Entregou, cruzando os braços.
Azriel: VOCÊ ESTÁ MENTINDO! – Rugiu, avançando. Ianthe entrou no meio. As mãos de Azriel tremiam.
- QUE GRITARIA É ESSA?
Ianthe: NÃO É NADA, WARNER. – Warner estava no banho, esse era o motivo por não ter interferido ainda. – Azriel, SAI!
Azriel: NÃO SE METE, OK?! NÃO É COM VOCÊ, VOCÊ CHEGOU AQUI AGORA! –
Disse, sendo rude pela primeira vez. Ianthe recuou, exasperada.
Nestha: Eu te defendi, seu idiota! – Alegou, incrédula.
Azriel: MENTIRA! Você estava com raiva porque ela não te mimou quando você queria, e fez isso, mas você NÃO. PENSA. – Atirou. Nestha recuou, ultrajada – Imagine se as pessoas resolvessem revirar o histórico medico da nossa família, Nestha! Imagine só se elas resolvessem fazer panfletos, com fotos!
Nestha: Tenho certeza que não subiria nada podre, como é o caso dela. – Disse, tranqüila.
Azriel avançou na irmã, apanhando-a pelos ombros. Ianthe tentou apartar, mas só o que conseguiu foi desarmar Azriel dos óculos – Era algo, ele via quase tudo borrado sem eles. Mas ele não precisava ver muita coisa agora.
Azriel: VOCÊ. NÃO. TEM. O. DIREITO. – Soletrou, sacudindo a outra pelos ombros. Isso assustou Nestha. Azriel nunca se portara assim antes, e ela era inumeramente frágil perto dele.
Nestha: WARNER! – Gritou, a voz aguda pelo susto.
Azriel: INVADIR O PASSADO DAS PESSOAS, EXPÔ-LAS DESSE JEITO, NÃO FOI
ASSIM QUE NÓS FOMOS CRIADOS! – Ele estava machucando ela. As dobras do ombro dela doíam pelas sacudidas nos braços, os cabelos ricocheteando no ar. Tinha os olhos cheios d‟água – MESMO QUE ESSA SUA MENTIRA PODRE, ALIÁS, NÃO SEI DE QUEM VOCÊ PEGOU ESSA MANIA SENDO QUE AQUI DENTRO NÓS NUNCA MENTIMOS, FOSSE VERDADE, ERA EU QUEM IA APANHAR! ERA PROBLEMA MEU, NÃO SEU!
Ianthe: WARNER! – Chamou, desistindo de tentar apartar – VOCÊ VAI MACHUCAR ELA!
Warner: Que diabo... EI! – Disse, descendo as escadas de 2 em 2 degraus. Warner e Azriel eram separados por pouco, Warner sendo dois anos e pouco mais velho que Azriel, mas os dois podiam se encarar de igual pra igual, ao contrário de Nestha. Ianthe apanhou a loirinha, tremula, afastando-a dali.Warner deu um empurrão no peito de Azriel que fez o outro cambalear – QUAL O SEU PROBLEMA?
Azriel: PERGUNTE A SUA IRMÃ QUAL O MEU PROBLEMA! – Rugiu, sentindo falta dos óculos agora. Que inferno.Warner: NÃO ME IMPORTO, VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE MACHUCAR ELA,
QUEM VOCÊ TÁ PENSANDO QUE É? – Perguntou, empurrando Azriel de novo. Dessa vez, mesmo quase às escuras, Azriel revidou.
Grace: Dá pra ouvir os gritos de vocês do portão! – Disse, escandalizada, abrindo a porta. – Vocês dois, se soltem, agora! – Ordenou. Grace não precisava gritar pra que suas ordens fossem acatadas. Azriel e Warner se soltaram, ofegando de raiva pela pré-briga interrompida.
Azriel: Ianthe, cadê a porcaria dos meus óculos? – Perguntou, impaciente, passando a mão no cabelo. Ianthe acalmava Nestha.
Grace: Alguém quer me explicar o que está acontecendo aqui? – Perguntou, dura, fechando a porta.
O falatório que se seguiu era impossível de ser compreendido. Azriel recuperou os óculos. Grace fez o silencio se estabelecer, e tentou de novo. E mais uma vez. Então, aos poucos, a história foi contada. Depois de tudo, o silencio se abateu na sala.
Azriel: E se você fosse expulsa, Nestha? Se fosse pega? – Perguntou, de braços cruzados, do outro lado da sala. Warner flanqueava Nestha, atravessando o irmão – Com todos os problemas que nós já temos que passar, o que você acha que teríamos que fazer? Não, você acha que toda essa merda já não é o suficiente? – Nestha se encolheu no sofá, calada.
Grace: Azriel... Alguma vez eu bati em você? – Azriel, a contra gosto, abaixou a cabeça – Gritei com você? Seu pai fez isso alguma vez? Responda a pergunta. – Exigiu, severa.
Azriel: Não, senhora. – Respondeu, quieto.
Grace: Logo você não tem o direito, em hipótese ou ocasião alguma, de encostar um dedo na sua irmã. Não importa qual a razão, não importa quando. Isso não vai se repetir, você entendeu? – Perguntou, dura.Azriel: Sim, senhora. – Respondeu, ainda quieto. Grace assentiu, se virando pra cadeira onde a filha estava sentada.
Grace: Juro por Deus que não esperava isso de você. – Disse, com a voz carregada de decepção.
Nestha: Mãe... – O olhar de Grace a fez se calar.
Grace: Tudo bem você querer ser uma mini... – Ela tentou lembrar o termo. Azriel: Minion. – Ajudou. Grace assentiu.
Grace: Minion. – Nestha gemeu, exasperada – Eu sempre dei liberdade pra que vocês fossem o que quisessem ser. Mesmo quando Rhys chegou em casa dizendo que queria ser medico, mesmo sabendo que isso ia tirar meu filho de mim Deus sabe lá por quanto tempo, eu permiti. Mas você invadir o arquivo da escola... Você usar esses métodos pra se vingar de alguém... – Ela suspirou – E se Gwyn contar ao pai dela, Nestha? E se ele for à direção, exigindo sua punição? Você seria expulsa. Não receberia nem sequer uma carta de recomendação. Nós seriamos processados, em meio a tudo que estamos vivendo. Você se quer pensou nisso?
Azriel: Gwyn disse que não vai prestar queixa. – Disse, e Grace o olhou – O pai dela queria processar o colégio, tirá-la de lá e fazer o culpado... - Ele encarou a irmã –
...pagar pelo que fez, mas ela não quis. Nem tampouco disse a ele que foi Nestha quem fez aquilo. Ela só me contou. – Terminou, quieto. Grace suspirou.Grace: Graças a Deus por isso, então. Se ela faz isso, é por gratidão a ajuda que seu irmão dá a ela, mas você não pode atropelar as coisas assim, Nestha! – Disse, se voltando pra menina - Mentira, roubo, vingança, nós não somos assim! – Repreendeu, exasperada. – Não foi assim que seu pai e eu te criamos, e não vamos aceitar esse tipo de comportamento! Por maior que seja a magoa que você tem de Gwyn, se ponha no lugar dela. Pense no sofrimento que foi ter enfrentado a doença, vencido ela. Eles se mudaram pra cá fugindo desse passado, e você o trouxe de volta porque queria ser uma minion dela e ela te rejeitou! – Disse, exasperada – Ela não nos deve nada pelo que seu irmão está fazendo a ela, se é isso que você está pensando!
Nestha: Mãe... – Disse, tremula, se inclinando na poltrona – Pelo amor de Deus. Você não sabe... Ser uma minion é ser um capacho. É fazer as atividades dela, carregar os livros dela, apanhar a comida dela, fazer tudo o que ela quiser que você faça. É como escravidão. – Tentou.
Grace: Mais um motivo para eu não entender sua atitude. – Disse, ainda severa.
Nestha: Eu nunca quis isso. Eu sempre me mantive longe dela e das seguidoras dela. – Nestha passou a mão no rosto – Eu fiz aquilo porque ouvi ela mandando o namorado dela bater no Azriel. – Repetiu, pela enésima vez desde que aquela discussão começara. Nem mesmo Warner acreditava, só Ianthe, o que não contava ali.
Azriel: Mentira. – Rebateu.
Grace: Silencio. – Disse, a voz branda. Funcionou.
Nestha: Mãe... Eu sempre te contei tudo. Eu nunca omiti nada, eu nunca menti. Eu nunca fiz nada que te desse razão pra não acreditar em mim. – Lembrou, tremula - Então, pelo amor de Deus, estou implorando dessa vez: Confie em mim. Eu estou falando a verdade.
O silencio perdurou na sala. Nestha e Grace se encaravam. Azriel se mantinha, os braços cruzados, atrás do sofá onde a mãe estava. Warner, na mesma posição, atrás da poltrona de Nestha. Ianthe no outro sofá, sozinha. Ela acreditava que Gwyn era bem capaz de fazer isso, apesar de que não justificava a atitude de Nestha. Não havia mais o que ser dito: A decisão de Grace, certa ou errada, seria acatada e obedecida. Era assim que funcionava.