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Um dia se passou, Lyne e eu dividimos um quarto no castelo, encolhidas e braçadas na cama. Contei-lhe sobre minha passagem naquela terra, sobre tudo o que estava diferente, e ela tomou nota de cada comentário, disposta a mudar cada um daqueles cenários. Antes de dormirmos, brinquei com as mechas platinadas de seu cabelo e adormeci com sua mão sobre a minha. Quando acordamos, ela me envolveu em seus braços e lembrou de Tala, surpreendendo-se quando um sorriso triste surgiu em meu rosto.

— Preciso deixá-lo ir — contei, ela concordou em um aceno, a cabeça pousada em meu ombro. — Vou me despedir, não estou pronta para isso… mas a hora dele chegou e quero contar o quanto o amo, o quanto ele foi importante para mim.

Troquei de roupa, tirando o lindo e destruído vestido de Harling por calças e um gibão. Antes de deixar o quarto, Lyne me chamou:

— Estarei aqui por você, eu e seus amigos — prometeu com seriedade.

— Eu sei, meu bem — Calo-me no momento em que o provável apelido deixa meus lábios, minhas bochechas esquentam. Finjo tossir. — Eu sei agora, que sempre haverá alguém aqui por mim.

Que tal uma compensação antes de partir?

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Que tal uma compensação antes de partir?

Indagou o Guardião quando o encontrei  no jardim, deitado na grama, os olhos fechados e as espirais rosas de seu corpo girando.

— Olá!

Diga algo, Nyfi, que queria de coração.

Suas palavras pesam. Penso em pedir que afaste a Morte de meu avô, porém depois de tudo que passei, o que mais quero é que Tala possa finalmente descansar. Só havia uma coisa, que era meu maior desejo desde menina, uma vontade escondida e reprimida:

— Eu queria abraçar minha mãe!

Uma brisa leve envolve as flores e me faz fechar os olhos brevemente, quando volto a abrir, vejo, vindo por trás de uma roseira, a silhueta em forma de luz de uma mulher. Ela vem até mim devagar, os braços abertos para me abraçar. Meu corpo despenca e é amparado por ela, o toque tão suave e familiar que inunda meu peito. Ela toca meus cabelos, contorna meu rosto com os dedos e diz meu nome de forma tão amorosa que quero pular de alegria por finalmente poder abraçar minha mãe. Aproveito a eternidade que os breves minutos parecem ter. Digo que a amo, ela diz que fui a coisa mais importante de sua vida.

— Tenho orgulho de você — diz ela, antes que a luz que lhe formava empalidecesse, até sua silhueta desaparecer e eu ficar sozinha no centro do jardim com pétalas de rosas caindo.

— Adeus, mamãe!

A casa estava silenciosa, Ljus, Anne e Vis velavam Tala, que despertou assim que meu peso afundou o colchão

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A casa estava silenciosa, Ljus, Anne e Vis velavam Tala, que despertou assim que meu peso afundou o colchão.

— Minha querida, Nyfi. — murmurou os olhos ainda fechados.

— Meu amado avô — disse enquanto deixava um beijo em sua testa e me aninhei ao seu lado, passando um braço por seu corpo e sentindo seu calor.

A sombra da Morte deslizou para fora da janela, acenando um adeus para mim, e Vis abraçou-me por trás.

A luz laranja do início de um novo dia invadiu as janelas do quarto e, à medida que eu e minha família recebíamos o calor da aurora, senti o calor de Tala se esvaindo, junto das lágrimas que desceram de mim.

— Adeus, vovô, você teve uma linda vida.








O Cântico do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora