Aidan Denver
Elizabeth entrou no carro esboçando um sorriso.
— Bom dia, filho! — ela se inclinou e beijou minha bochecha, quando voltou para a o seu lugar no banco do carona, arregalei os olhos ao notar o novo visual.
— Cortou o cabelo? — perguntei vendo as mechas loiras mais curtas, estilo Chanel? Acho que é esse o nome do corte. Além do cabelo curto, ela usava um vestido mídi vermelho e um salto nude, uma maquiagem leve ressalta os olhos azuis e as finas linhas de expressão ficam um pouco mais aparente quando sorri para mim.
— Gostou? — pergunta passando a mão pelo cabelo. — Confesso que estou estranhando um pouco, mas tinha tanto tempo que usava cabelo longo que quis mudar.
— Gostei sim, combinou contigo. — Elizabeth parecia ter rejuvenescido alguns anos com o novo corte de cabelo, ela parecia diferente também, o tempo que passou fora fez bem à ela, apesar de não ter sido fácil para mim, fico feliz em vê-la feliz. — Cheia de mudanças...
Ela deu um sorriso constrangido, mas eu não disse com o intuito de a recriminar, pelo contrário, estou feliz por ela estar se permitindo mudanças. A ida para uma nova casa, o corte de cabelo, a maquiagem leve diferente das que tinha o costume de usar. A mulher na minha frente, mostrava uma nova versão de minha mãe, uma que parecia muito mais independente e se afastando da criação rígida da sua mãe.
— Espero que as ache positivas. — comentou olhando o movimento da rua. Desviei o olhar para ela, sempre preocupada com a opinião dos outros, porém desde a sua viagem/sumiço algo parecia estar mudando, ela parecia mudada e disposta a fazer coisas diferentes, Elizabeth não tinha mais um marido e eu estou com quase vinte e três anos, ela não tem que e não deve viver mais para nenhum de nós dois.
— Eu acho, estou gostando da sua nova versão. — o seu sorriso dessa vez não foi constrangido, nem encabulado, foi aberto e agradecido.
Ela escolheu uma música e fomos ouvindo enquanto dirigia a cafeteria para tomar café, trânsito não era dos mais intensos, por isso não demoramos muito para chegar. A cafeteria não era nada parecida com as que ficavam próximas à Universidade ou ao meu apartamento. Dois andares, estilo clássico misturado com o moderno, o lugar é bonito, mas um café aqui, só o café, deveria custar uns vinte dólares, por isso esperava que Elizabeth pagasse hoje porque com vinte dólares eu podia beber um café, comer um pedaço de torta e ainda sobraria troco se fossemos no Isla.
— Como descobriu esse lugar? — perguntei, o estabelecimento com toda a certeza é novo, já que passei aqui na frente há algumas semanas e não lembro de tê-lo visto.
— Vim aqui ontem com Joseph. — respondeu enquanto o garçom se aproximava.
— Bom dia, Senhora! — ele lançou um olhar desconfiado para mim, encarando meu jeans escuro e camiseta branca simples, bem diferente dos engravatados sentados nas mesas. Ele foi rápido em me avaliar dos pés à cabeça, queria saber qual o problema de pessoas que trabalham em lugares caros, eles, na maioria das vezes, se achavam no direito de julgar que não estava vestido de maneira "apropriada". — Mesa para dois?
— Sim, por favor.
— Por aqui. — respondeu a acompanhando e o deixando para trás. Esperava que ele não desse em cima da minha mãe bem na minha frente, não queria lidar com uma situação constrangedora logo de manhã. Chegamos na mesa indicada, ela ficava próxima à uma janela e quando fui me aproximar para puxar a cadeira para minha mãe, o garçom foi mais rápido.
— Obrigada. — Elizabeth agradeceu com um sorriso e o garçom sorriu de volta adquirindo um tom avermelhado nas bochechas e logo se retirou afirmando que logo traria o cardápio. — O que foi, Aidan? Está com uma cara estranha.
— Nada, só o garçom faltando babar em cima de você. — sei que minha mãe é bonita, ouvia comentários quando era mais novo e por isso, nunca gostei que fossem na minha casa realizar trabalhos ou tarefas da escola.
— Besteira, Aidan, ele só estava sendo simpático. — simpático, simpático, até parece. Ela deu uma boa olhada em mim, estreitando os olhos. — Toda vez que te vejo você parece maior.
— Não quero crescer mais, só vou manter.
— Está bronzeado também.
— Sim, ontem quando voltei da Universidade, Ryen me chamou para ir a praia, passamos o resto do dia lá. — falei como quem não quer nada, mas fiquei atento às suas reações. Elizabeth franziu um pouco o cenho, porém foi rápida em desfazer a expressão.
— Vocês estão bem próximos. — muito próximos, tão próximos que nem sei como contar à você.
— Não foi fácil no começo, mãe. Na verdade, foi terrível no começo, mas não era culpa dela, assim como não era minha. — ela concordou com um aceno e eu prossegui. — Além disso, é difícil ignorar alguém bagunceira como a Ryen. — Elizabeth riu e foi a primeira vez que ela riu sobre algo relacionado a outra filha de Adam. — Para, mãe, não tem graça, ela deixa tudo espalhado pelo apartamento, uma vez eu fui sentar no sofá e fui espetado por um palito de unha. — contei, relembrando do dia, Ryen tinha feito a unha na sala e largado tudo na mesa de centro, quando fui sentar no sofá para relaxar fui espetado por um palito de unha esquecido. Elizabeth, ao contrário do que pedi, não parou de rir, sua risada não é escandalosa ou alta, só que é de mim que ela ria, o que não gostei muito.
— Desculpa, filho. — ela se recompôs tomando um gole de água. — Mas tenho que admitir que é engraçado ver sua mania de organização ser testada. — bom, eu não achava nada engraçado ser furado por um palito de unha. — Isso me lembra a minha adolescência e as tentativas de sua vó de me tornar uma moça mais organizada. — o seu sorriso foi sumindo aos poucos junto com o seu brilho. — E como foi na praia? — perguntou, mudando rápido de assunto.
— Foi bom, fazia anos que não ia, então foi um dia bem legal. — principalmente quando ela confiou em mim para levá-la para perto do mar e seus olhos se encheram de lágrimas ao sentir a água salgada mais uma vez em contato com sua pele.
— A última vez que fomos à praia foi...? — Elizabeth se esforçou para puxar na memória.
— Quando fomos para o Rio de Janeiro. — foi a primeira vez que não viajamos para a Europa nas férias, passamos uma semana no Rio conhecendo as praias e os pontos turísticos, Elizabeth não curtiu muito porque segundo ela a cidade é muito quente. E realmente é, esperava levar Ryen para lá, ela ia gostar.
— Cidade quente, não faz muito estilo.
— Acredite, eu sei, mãe. — o garçom enfim voltou para à nossa mesa com o cardápio, ele entregou o cardápio para minha mãe todo cheio de sorrisos simpáticos. Porra, eu não mereço passar por isso, não esfregado na minha cara, cacete! Revirei os olhos diante da cena, ele se virou para mim e entregou o cardápio para mim, sem nenhum entusiasmo.
— Logo retorno para anotar os pedidos. — ele se retirou novamente.
— Olha aí, viu a diferença de tratamento. — reclamei com minha mãe cruzando os braços, primeiro a Maria dando em cima de Ryen e hoje o garçom dando em cima, de forma sútil, em Elizabeth.
— Filho, não se importe com isso, eu poderia ser mãe dele, pelo amor.
— Poderia, mas não é, e ele sabe. — estreitei os olhos em direção do garçom que atendia outra mesa todo cheio de sorrisos. Ele estava querendo arrumar uma mulher rica, isso sim.
— Pare com isso, Aidan! — Elizabeth me repreendeu. — Não tenho interesse em rapazes dessa idade. — dessa idade? E de outras idades? — E outra, estou focada em outros planos e eles não envolvem um interesse romântico.
— Desculpa, mãe. — pedi diante de seu olhar irritado. — E que planos são esses? — perguntei, interessado.
— Bem... — ela cruzou os dedos, os apertando. — Nesse tempo que fiquei fora, eu voltei a estudar. — Elizabeth está insegura em me contar, ela torcia as mãos e colocou o cabelo atrás da orelha. — Nunca exerci minha profissão, Aidan, fiz faculdade porque seu avô queria todos os filhos graduados, mas quando casei com seu pai no final dela, fiquei em casa, cuidando dela e gerindo eventos sociais. — ela deu um sorriso sem graça, como se estivesse desconfortável pelas decisões que tomou. — Eu queria exercer minha profissão, me formei em contábeis e quero praticar minha profissão, enquanto estive na Europa fiz um MBA em gestão empresarial e pretendo trabalhar na nossa companhia. — ela terminou de falar, sua expressão é de firmeza com um quê de insegurança.
Minha mãe é uma mulher com cinquenta anos que vai entrar no mercado de trabalho agora, vinte e sete anos depois do esperado, ela abriu mão de sua vontade para cuidar e gerir a casa, para cuidar de mim e ser o apoio que Adam precisava no seu caminho para o sucesso, ela tinha vivido muito tempo em função dos outros, está na hora de viver para ela.
— Não vai dizer nada? — perguntou, ansiosa. Me levantei da cadeira caminhando em sua direção, passei os braços ao seu redor a tirando da cadeira, apertando seu corpo num abraço. — Aidan!
— Lógico que vou dizer algo, mãe. — falei depois que a soltei. Elizabeth passou as mãos pelo vestido desamassando o tecido e voltando a se sentar, voltei para o meu lugar.
— Então? — ela perguntou.
— Acho uma ótima ideia, mãe. — ela sorriu aliviada, recobrando a segurança e vivacidade. — Aquela companhia é tão sua quanto dos outros irmãos, nada mais certo que você trabalhar lá também, se for realmente à sua vontade.
— É a minha vontade, filho, eu quero trabalhar e contribuir para o nosso crescimento e quero estar lá para te guiar quando você entrar na companhia. — Elizabeth começou a contar sobre seus planos do futuro, de ingressar na companhia na parte do financeiro, ela discorreu sobre o período que passou fora, como foi entrar numa sala de aula depois de tanto tempo. Ela falava com um sorriso no rosto, viva e brilhante, minha mãe parecia renascer na minha frente, uma nova mulher, mais jovial e moderna.
Sorri, ouvindo suas palavras, sua empolgação, Elizabeth estava se abrindo para o novo e para suas antigas vontades e naquele café, ignorei todas as preocupações sobre mim, Ryen e ela e curtir o tempo com minha mãe, dando opiniões e a incentivando em seguir suas vontades.
Só esperava que todo esse novo pensamento, recaísse em mim quando finalmente tivesse coragem para contar a ela que estou com Ryen.
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Apareci depois de uma semana de novo kkkkk desculpem, fiquei enrolada resolvendo b.os da vida adulta. Minhas aulas vão voltar semana que vem e vou precisar estruturar uma rotina para poder estudar e escrever.
O que acharam do capítulo?
Acham que essas mudanças de Elizabeth vão ajudar quando ela souber do Aidan e da Ryen?
Atenciosamente,
Verbena