Capitulo 36

3.4K 287 11
                                    

— Sim, só ela. Cho sabe tudo o que você ainda precisa saber. E você não precisa saber muito, apenas siga o jogo e no final vai poder ir embora com o bolso cheio de dinheiro — ele ameaçou virar as costas mas o puxei pelo braço.
— Já chega disso, você vai me contar toda a verdade. O que significa tudo isso?
— Não se meta nos assuntos que não são da sua conta, Kaila.
— Se não me disser a verdade — cruzei os braços e olhei para o chão — eu vou fugir desse lugar.
Lúcifer aproximou-se, sempre que ele fazia isso era certo que iria soltar mais uma de suas ameaças de morte.

— Se você fugir, vai morrer — ele posicionou sua mão direita sobre a minha cabeça e bagunçou meus cabelos.
— Mais uma ameaça?
— Não, um aviso. Você não é idiota, se possui tantas perguntas estão já deve ter criado milhões de respostas para as próprias dúvidas. Mas se quer mesmo saber de alguma verdade, eu vou te dizer uma — sua voz não soava irritada e sim bem calma. Parece que finalmente ele está sendo sincero sobre algo.
— Então diz logo — o encarei, se tem algum segredo para revelar vai ter que revelar me olhando no olho.
— A verdade é que eu pretendo fazer uma coisa, mas pra conseguir eu preciso de você. Você não passa de uma chave que eu vou usar e depois vou jogar fora.

— Então... — comecei a falar mas ele me interrompeu com um beijo na testa e aquilo me causou uma espécie de conforto momentâneo.
— Ou pelo menos esse era o meu plano — ele continuou — mas agora parece que alguma coisa mudou. Não... parece que mudou a muito tempo, no dia em que eu te vi naquela lanchonete debruçada sobre o balcão com cara de tédio.
— Você já me viu antes?
— Eu disse, estou te observando a muito tempo. Não posso dizer mais que isso — ele se afastou.
— Que plano é esse e por que tinha que ser eu? — o que ele disse não serviu de nada, só alimentou ainda mais as minhas dúvidas.

— Continue aprendendo, subindo de nível e uma hora irá descobrir tudo.
Pelo menos algo eu pude entender, ele queria me usar e me descartar. Mas parece que mudou de ideia e de alguma forma isso envolve as mudanças nas minhas aulas. Estou a beira de ter um colapso de tanto pensar e a cada novo minuto percebo que todos dentro daquela mansão não são quem dizem ser. Menos Horrania, ela é ela sem tirar e nem pôr.
— Antes de ir me diga uma última coisa. Por que mudou de ideia?
— Por que percebi uma coisa, mesmo vivendo na merda, você ainda continuou em constante rebeldia contra a vida. E é disso que eu preciso, de uma dama rebelde. Agora não me perturbe com suas perguntas — ele enfim saiu andando.

— Não vou perguntar mais nada — o segui pelo corredor que levava até a sala de jantar.
— Ótimo, eu não iria responder mesmo. E o que você fez hoje terá consequências, saiba disso.
— O que eu fiz?
— Toda aquela gritaria enquanto corria, isso não será perdoado.
— Se não ficasse roubando minhas calcinhas eu não teria motivos para gritar.
— Apenas aguarde as consequências — chegamos na sala de jantar e como sempre Horrania era a primeira a estar ali.
— Você disse que tinha um presente para mim.
— E tenho, mas não vou te dar ainda.

— Deve ser alguma pegadinha — nos sentamos lado a lado.
— Acho que você vai gostar.
— Tio Lúcifer comprou um presente para a Kaila? — Horrania quis saber, pelo visto ela sempre prestava atenção nas nossas conversas.
— Quase isso — o diabo respondeu, parece que ele não consegue admitir que é capaz de fazer coisas boas.
— Uma aliança de casamento? — continuou a menina com suas perguntas malucas.
— Óbvio que não, para se casar com ela é preciso comprar uma ferradura e não uma aliança.

Aquilo gerou uma nova discussão e troca de farpas entre nós dois e ela só terminou quando começamos a comer. Bem que Bety disse que qualquer coisa já era motivo para entrarmos em guerra. Mas percebi que gosto dessas discussões e brigas bestas, isso torna os dias aqui mais divertidos e me faz esquecer que estou no meio de algo muito perigoso. Quando finalmente voltei ao meu quarto, fechei a janela e algumas nuvens de chuva haviam tomado conta do horizonte. Se não chover hoje tenho certeza que irá chover amanhã. Me deito na cama e só levanto no dia seguinte com batidas apressadas na porta seguidas da voz de Bety que me chamava.

— Pode entrar — respondi com voz de sono enquanto me espreguiçava entre os lençóis.
— Kaila, você tem que ver isso agora — ela adentrou rápido e começou a me puxar para fora da cama pelo braço.
— Isso é um sequestro? Não posso nem mijar antes?
— Acredite, você tem que ver isso. Mas já se prepara pois vai ficar muito irritada. Eu disse para não ficar provocando o patrão mas você não me escuta.

— O que ele fez agora? — perguntei enquanto ela me arrastava pelo corredor como um boneco de pano, estou com sono, muito sono. Queria poder dormir mais um pouco.
Descemos as escadas e passamos pela porta principal da mansão, ali haviam vários funcionários reunidos, alguns rindo e outros conversando alto. Mas todos fizeram silêncio ao me notarem chegar, do que será que estão falando e por que essas caras de dementes?
— Olhe — Bety apontou para um ângulo que ficava bem próximo ao chafariz, de início a luz do dia fez meus olhos doerem mas em alguns segundos toda a minha visão ficou bem clara.
— MAS QUE PORRA... — Não acredito que ele teve a coragem de fazer aquilo.

Meu Diabo FavoritoOnde histórias criam vida. Descubra agora