┆ ⤿ 🎱 ⌗ +16, violência, linguagem imprópria, drogas lícitas e ilícitas, gatilhos
﹙⁰².⁰⁶.²⁰²³ - ¿¿﹚
⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘
Uma das maiores máfias de Nova York estava caindo em um buraco cada vez mais fundo após começar a passar por ameaças e ataques de fort...
❝ Me dê um shot para minha dor E um trago para minha tristeza. Vou ficar confuso hoje Mas vou ficar bem amanhã. ❞
— Liquor Store Blues,Bruno Mars
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
New York City, 18 de abril 19°C ⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘
Os passos no corredor pareciam estar ficando mais próximos. Alguém estava indo na direção de minha sala, tentando desesperadamente não fazer barulho e falhando aos meus ouvidos agéis. Eu não sabia quem era, mas naquele ponto, deixar o revólver de minha gaveta em algum lugar de fácil acesso parecia uma boa opção. Entretanto, se fosse apenas um funcionário curioso, não seria muito fácil explicar o porquê de ter uma arma comigo. Ao sentir que a pessoa estava se aproximando mais, coloquei meus óculos e deixei o charuto Montecristo N° 5 que estava fumando em cima de meu copo de whisky, nesse ponto já vazio, reforçando meus hábitos noturnos saudáveis, e fui para perto da porta de minha sala. Puxei a maçaneta lentamente, e a deixei alguns centímetros aberta. Mais abruptamente do que eu esperava, a pessoa caiu dentro de minha sala. Por alguns segundos, me assustei, mas logo percebi quem era. Eu deveria imaginar.
— Olá. — Sorri para ela, meio involuntariamente, e estendi a mão.
Por alguns segundos, ela apenas me encarou, sem resposta. Eu me peguei pensando o que deveria passar em sua cabeça naquele momento. Ela provavelmente não imaginava que eu estava por trás de tudo, e provavelmente estava muito assustada. Parecia querer dizer algo, mas não conseguia. Desnorteada, ela agarrou minha mão e se levantou, então fui até minha mesa e puxei uma cadeira.
— Sente-se. — Ela assentiu e obedeceu. Servi um copo de Royal Salute para ela, mas como recusou, percebi que deveria estar com fome. Peguei uma caixa de mini donuts de dentro de uma de minhas gavetas e ofereci, o que ela aceitou sem pestanejar.
Tive que rir, pois parecia que ela não via comida há algums meses. Não que eu duvidasse que isso tivesse mesmo acontecido, mas eu nunca havia a visto desse jeito. Enquanto ela comia, peguei o charuto de cima de meu copo e traguei, tentando manter a fumaça longe dela.
— Sabe... Obrigada. — Ela disse, depois de alguns minutos em silêncio, sorrindo e olhando em meus olhos.
— Obrigada pelo que, Amaya? — Soltei a fumaça do charuto, em sua direção desta vez, e ajeitei meus óculos, os empurrando para cima pela ponte.
— Por tudo. Por me atender de madrugada, por salvar minha vida, essa e todas as outras vezes. Você é o mundo para mim, Lost Soul. — Eu sorri. Era estranhou ouvir coisas desse tipo vindas dela, Amaya não tinha o costume de demonstrar abertamente o que sentia.
— Não, Amaya. Eu apenas gostaria que você soubesse que ninguém aqui te esqueceu, e isso nunca vai mudar. Nós fomos sua família por tanto tempo, e sempre seremos quando você precisar. Mas, por outro lado, é impossível esquecer o que você fez. A sua sala ainda está vazia, Amaya. Nós nunca deixamos de precisar de você aqui também. — Vi uma lágrima brilhar enquanto passava por sua bochecha. Amaya também não costumava chorar. Quem era aquela em minha frente?
— Eu mudei, Lost Soul... Eu não sei o que aconteceu comigo...
— Eu percebi. Lyanne te chamou de vadia e voltou para contar com todos os dentes ainda na boca. — Eu ri, lembrando da cena da enfermeira indignada entrando em minha sala e dizendo que se visse Amaya de novo, ela sairia do hospital e passaria a ficar no necrotério.
Ficamos um tempo em silêncio. Eu observava a fumaça do charuto voar pela sala, e não pensava em absolutamente nada. Como meu pai sempre dizia, "a madrugada é o horário em que tudo está resolvido, mesmo que não esteja realmente". Entretanto, eu precisava, em algum momento, continuar aquela conversa.
— Você vai voltar para ele? — Olhei nos olhos de Amaya. A resposta para essa pergunta me preocupava, e muito.
— Ele quem? — Ela passou a me encarar.
— Theodor, porra. — Revirei os olhos. O sono deveria estar afetando-a.
— Ah... Eu... Eu não tenho para onde ir...
Eu estava mesmo ouvindo isso?
— Você sabe que tem. — Soltei mais fumaça em sua direção, me inclinando sobre a mesa e ajeitando meus óculos. Quem sabe aquilo a acordasse.
— Mas... Não é fácil assim...
— Amaya, eu estou te dizendo que você pode voltar para cá, eu preciso apenas de um sim, e você ganha absolutamente tudo que precisa. E você me diz que é difícil? Caralho, Amaya, qual é seu problema?
— Me desculpe, eu preciso pensar... Eu não sei se sirvo mais para isso...
— Você nasceu aqui, você nasceu para isso. Você tem noção de quanta gente queria ter a oportunidade de ser da elite, Amaya? Essa merda era literalmente a sua vida, e você quer me convencer de que não serve mais para isso?
— Eu preciso pensar, Lost Soul. Desculpa, me desculpa mesmo... — Eu assenti. Estava completamente incrédulo. Nunca tinha ouvido tanta merda em minha vida.
— Pare de me pedir desculpas, isso está ridículo. Vá para seu quarto, e pense o tanto que tem para pensar. Mas não esqueça do que eu te disse, Amaya. — Eu olhei em seus olhos, esperava que tivesse plena consciência de que eu estava falando sério. — Não tome outra decisão errada, eu não quero te ver estragando sua vida de novo.
Quando a porta de minha sala se fechou, ficamos somente eu e o vazio ali, outra vez. Eu já estava acostumado; precisava estar. Mas doía tanto, que droga, por que doía tanto? Peguei a garrafa de whisky próxima à mim, enchi meu copo e bebi o líquido que descia cortando minha garganta como se fosse água. Olhei para o porta-retratos em minha mesa, com uma foto de minha esposa. O peguei com cuidado, como se estivesse tocando a própria. Uma lágrima desceu por minha bochecha.
— Eu sinto sua falta, meu amor... Você é tudo para mim... — Sussurrei para a foto, enquanto a acariciava com o polegar.
Aquela fotografia era a última que tínhamos revelado. Ela estava usando um vestido branco de lese que ia até acima dos joelhos, e seus cabelos loiros com ondas nas pontas voavam ao vento. A barriga de grávida ainda era apenas uma pequena protuberância, e minha mulher sorria. Aquele era o sorriso mais bonito do mundo. Dei um beijo demorado no retrato e o coloquei de volta no lugar, voltando para meu charuto e soltando a fumaça em sua direção. Não permiti que mais nenhuma lágrima caísse, e permaneci lá por um bom tempo, até que ouvi um grito vindo do andar de cima.
Apaguei o charuto e me levantei. Dei uma olhada no corredor, mas não havia nada lá. Fui andando até o térreo, mas ao chegar lá, também não encontrei absolutamente nada. De onde teria vindo o grito? Comecei a vasculhar as salas do primeiro andar, abrindo as portas, até que achei uma que estava trancada. Outro grito, dessa vez abafado, veio de lá. Forcei a maçaneta, mas não adiantou. Então, me afastei um pouco da porta e joguei meu peso contra ela, repetindo duas vezes, e finalizando com um chute. A porta se abriu, e a primeira coisa que vi foi Amaya e seu marido deitados no chão, um por cima do outro. Primeiro, achei aquilo muito estranho. Quando entendi, fiquei com raiva. Muita raiva. Mas tudo isso passou quando vi a faca na mão de Theodor, e a velocidade em que Amaya rolou para o lado para escapar do golpe. Imediatamente, entrei no meio. Enquanto Amaya rastejava sentada para a parede, Theodor ia até ela em pé - manco, porém em pé - e com a faca na mão. Corri e o acertei com um soco no olho. Ele voou alguns centímetros para trás e caiu sentado. Enquanto ele se levantava, parti para cima de novo e o golpeei com outro soco, dessa vez no olho esquerdo. Ele não perdeu tempo, e me acertou na costela. Como retribuição, dei uma joelhada em sua coxa, e o peguei pelo pescoço. Olhei nos olhos daquele sujeito. Ele tinha um olhar vazio. Me senti culpado por ter permitido que Amaya se casasse com alguém como ele, mesmo que eu nunca tivesse ficado realmente à par da situação. Ele parecia não ter alma, sentimentos, qualquer coisa. Era vazio, como uma árvore seca e morta. Agora, estava pior ainda, com sangue saindo de sua gengiva e nariz, e olhos inchados. Amaya havia feito um bom trabalho antes de eu chegar.