Capítulo 20 - O último adeus

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Já era quase meio dia quando as 17 mulheres entraram nas três primeiras carruagens estacionadas no grande pátio do palácio. Agitavam pequenos panos brancos em direção a multidão que formara-se para despedir delas e desejar sorte para a nova jornada.

A felicidade era palpável! Era como se tivessem ganho uma segunda oportunidade e quisessem segurar nela com todas as forças. Poderiam recomeçar as suas vidas em uma cidade diferente e quem sabe algum dia serem felizes.

As carruagens deram a partida e os cavalos relincharam em direção ao portão doirado. A viagem para o Feudo Nordenha seria longa, mas com certeza não importavam-se com isso.

O rei e o duque espreitavam a partida do segundo andar e acenavam para as pessoas.

Gina segurava nos braços da minha sobrinha e fitava o portão com um semblante triste. Ofereci-lhe um aceno de mão e ela retribuiu com um sorriso forçado estampado no rosto.

— Gina, tudo bem? — Perguntei-a e ela negou com a cabeça olhando para o chão.

— Queria tanto ir para a Nordenha. — A sua voz falhou e manteve a cabeça baixa.

— Ela não conseguiu uma vaga. — Alina sussurrou baixinho no meu ouvido e olhei para ela com pesar.

— Então vamos combinar uma coisa. — Peguei-a em suas mãos e captei a sua atenção. Ela encarou-me fazendo os seus olhos azuis escuros dilatarem em contato com os pequenos raios de sol que atravessavam a cúpula invisível. — Assim que as coisas melhorarem iremos todos para Nordenha e tu irás connosco. —Ela deu de ombros e escondeu um pequeno sorriso que se formava no seu rosto.

— Obrigada Maly. — As suas bochechas ruborizaram assentando ainda mais a sua pele doirada queimada pelo sol de Dóminus. — Eu vou cobrar essa dívida. — Ela acrescentou por fim pegando mais uma vez nos braços de Alina. A tristeza ainda não tinha saído por completo do seu rosto, mas parecia melhor.

Mais quatro carruagens posicionaram-se a frente do grande salão de bailes e alguns soldados ajudavam algumas pessoas a subirem, principalmente aqueles que ficaram com alguma sequela do incidente.

Marta posicionou-se do meu lado segurando na sua bengala e olhou para as carruagens que levá-la-iam para o Feudo Sacratus.

— O rei pediu para que os feridos fossem deslocados para Sacratus. — Ela sussurrou. — Ali terão mais assistência. Os monges são experientes na arte da cura e com certeza irão ajudar muitos de nós a recuperarem. — Ela olhou para a sua própria perna e uma pontinha de esperança iluminou um pouco os seus olhos. Olhei para ela e ofereci-lhe mais um abraço de despedida, não semelhante ao da noite anterior, mas ainda sim sentido.

— Vamos sentir muito a sua falta. — Falei e ela apertou-me ainda mais. Senti uma sensação prazerosa há muito não sentida por mim, o amor de uma mãe por uma filha.

— Tenham juízo meninas. — Ela voltou para as duas garotas do meu lado e afagou os seus cabelos, arrancando risadas dessas, como se quisessem dizer que isso era impossível.

Os seus olhos cintilaram quando voltou para a minha irmã e depositou um beijo nas suas mãos.

— Obrigada por tudo Cecília. — A minha irmã não segurou-se e abraçou a mulher a sua frente. Ao afastarem, Marta voltou para o Horácio, oferecendo-lhe um aperto de mãos e depois fez um pequeno gesto de cabeça ao Lucas. Esse retribuiu-o e ela voltou para a Clarinha. — A minha pequena! — Ela ajoelhou-se com dificuldade e fez um pequeno carinho nas bochechas da minha sobrinha mais nova.

Clarinha tentou segurar os soluços sem sucesso e agarrou-se a mulher, escondendo o rosto nos seus ombros descaídos. Marta abraçou a pequena de volta e afagou os seus cabelos com ternura.

O Despertar Das Rosas Negras - Melhores histórias 2022 LPWhere stories live. Discover now