Augustus acordou ao som de um sino, não um sino grande, na verdade era apenas uma sineta que ele deu de presente para Ofélia, sua serviçal particular, quando ela chorou por não saber como acordá-lo.
Treinado desde sempre para se defender, o príncipe estava acostumado a reagir com violência a toques inesperados, acordá-lo com um balde de água não era uma opção – seria uma ofensa – então os dois concordaram que a sineta seria uma boa opção, afinal o estado de alerta que Augustus sempre se mantinha deixava sua audição bem sensível.
Sendo assim, ele acordou com leveza, bocejou e sentou na cama, encarando a garota que estava parada ao lado da poltrona, trazendo em mãos uma troca de roupas e pronta para ajudá-lo a se vestir – algo que estava acostumado desde a infância, embora tenha se tornado uma maldição enquanto crescia e desconhecia seu próprio corpo, foi um obstáculo que venceu rapidamente.
Ofélia o servia há alguns anos, ela era um pouco mais velha que ele e não era mais que uma criança quando foi dada a ele, portanto os dois se conheciam relativamente bem, não eram amigos, mas conviveram um com o outro por tempo o suficiente para que Augustus reconhecesse rapidamente o olhar de animação no rosto de Ofélia naquela manhã.
— O que a faz sorrir tão cedo, Ofélia? — o rapaz perguntou em tom brincalhão enquanto a garota o ajudava a trocar a camisa de dormir por uma nova.
— Pessoas novas estão chegando no castelo, vossa alteza — a moça não escondia sua animação — Novos cozinheiros, serviçais, dizem que é para acomodar os novos membros da família. Então é oficial mesmo? O rei vai se casar?
Augustus riu baixo, o pedido de casamento fora privado, com a presença de poucos serviçais de confiança e alguns guardas, mas as conversas corriam rápido pelo castelo e, por mais que Augustus não gostasse de participar de especulações, era difícil negar as afirmações quando Maia e Luca caminhavam livremente pelo castelo – as pessoas os veriam, as pessoas fariam perguntas, e as histórias correriam.
— Acredito que, se o rei realmente se casar, ficaremos sabendo em algum momento.
Ofélia estalou a língua, decepcionada, como sempre ficava quando o príncipe lhe negava uma resposta que queria muito.
— Vossa Alteza sabe de algo, sei que sim. Mas quem sou eu para duvidar de suas palavras? Está pronto, e sua família o aguarda para o desjejum.
Augustus assentiu levemente, em um dia comum ele usaria roupas mais simples, mas ainda estava ferido por Luca e decidiu fazer um esforço por si mesmo, apenas para sentir-se um pouco mais bonito e confiante, e vestiu uma roupa não muito formal como as que utilizava para bailes, mas um traje completo que usaria em reuniões com os conselheiros – talvez essa se tornasse uma nova parte de sua personalidade dali em diante.
Estava vestido com uma espécie de casaco preto com tiras azuis, com decorações na manga e botões em tom de prata, além de calças pretas e botas, com Invernal embainhada na cintura, e sentiu imediatamente a atenção de todos na sala de jantar voltando-se para ele quando entrou.
Larissa arregalou os olhos, sabendo que, apesar de ser um homem vaidoso, Augustus não fazia muitos esforços em sua própria casa, especialmente em dias de folga, o pai revirou os olhos como se tudo fosse uma grande exibição, Cordélia sorriu com aprovação e Maia levou a mão ao peito.
— Pelo Céus e todas as Estrelas, a que devemos a honra de uma companhia tão elegante?
Augustus sorriu para ela por um momento, mas sua atenção rapidamente se voltou para Lucian, que o encarava boquiaberto até perceber sua atenção e fechar a boca rapidamente, voltando seu olhar para a comida na mesa.
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Amisterium: O Herdeiro Legítimo
Romance"Essa história aconteceu há muitos e muitos anos, em uma época de reis e rainhas, príncipes e princesas, uma época que inspirou lendas, canções de amor e contos de fadas sobre romances eternos. Mas esse não é um conto de fadas, tampouco é uma canção...