FORASTEIRA | "o viajante no tempo se entrega a existir sem laços, mas não sem sentido."
Mercúrio é um elemento químico, um planeta e também um deus da mitologia romana... mas há uma única coisa que ninguém sabe sobre MERCURY CLEMENT, ela é uma viaja...
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No outro dia, quando acordou cercada dos olhares curiosos dos muitos alunos, Mercury correu para tomar banho sem que mais um grupo de garotas a enchesse de mais alguma pergunta. Ela fez de tudo para que saísse ilesa de chamar atenção, mas nada funcionou, visto que aparentemente nada de muito novo acontecia naquela escola e sua chegada fomentou mais e mais comentários. Helio lhe contou que seu irmão costumava ser bastante popular quando ainda estudava e talvez isso tivesse atiçado a curiosidade dos estudantes, ocorrendo totalmente o contrário do que Dumbledore pediu, mesmo que já não estivesse mais sob o controle dela.
Seu Salão Comunal já estava vazio quando ela saiu correndo para conseguir tomar um café da manhã descente. É claro que ela sabia o caminho de cor, e é claro que caminhar por aqueles corredores e escadas já estava lhe dando nos nervos, afinal de contas ela deveria estar formada e fugir o mais rápido possível daquela escola. Infelizmente, Mercury já havia perdido o controle de toda sua vida e mesmo que tentasse fugir, não conseguiria chegar onde desejava. Cansou-se de xingar todos os seus ancestrais por não lhe deixar um manual de como resolver o probleminha da viagem no tempo.
O Grande Salão estava, como em seu tempo, lotado. Apenas alguns professores ainda faziam a refeição, enquanto uma quantia absurda de alunos comiam, brincavam, brigavam e cometiam todos os tipos de verbos imagináveis. Engoliu em seco, sua garganta doendo apenas em pensar na possibilidade de se sentar em alguma daquelas mesas bagunçadas e cheias de crianças. Olhou para os dois lados, então para frente e de longe viu uma mão acenar em sua direção do meio dos muitos corvinos. Audrey Akshay veio caminhando até ela, como se a estivesse salvando daqueles pensamentos de voltar para seu dormitório e só comer na hora do almoço. Sua barriga roncou tão alto.
— Ei, Mercury! — a garota cumprimentou. — Precisa de ajuda? Você parece meio perdida.
Mercury assentiu, mesmo que soubesse exatamente a mesa em que deveria sentar.
— Venha comigo, a sua mesa é aquela... — e apontou.
Lá, na mesa da Sonserina, Regulus Black a observava com seus olhos azuis cerrados como os de um gato arisco. Ele não havia falado com a garota desde a noite em que ela fugiu antes de mais alguma pergunta, acompanhada pelo irmão. Ao menos depois daquele breve contato finalmente descobriu o nome dela, da garota que assombrou seus pensamentos desde o segundo que caiu em seus braços... mas foi no momento em que ela falou, mencionando a cor de seus olhos como se estivesse mesmerizada com algo tão comum que o garoto sentiu uma fisgada em seu peito. E quando a viu banhada pela luz amarelada da lareira, sozinha como sempre parecia estar, Regulus viu um reflexo de seus próprios desejos.
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Ele observou a garota com nome de elemento químico se sentar distante, mas perto o suficiente para que pudesse bisbilhotar sua conversa com a Chefe dos Monitores.
— Vai melhorar. — Audrey disse.
Mercury franziu o cenho, encarando a garota que se sentou ao seu lado como se os sonserinos não fossem cobrinhas mal educadas que em breve a fariam se levantar.
— O que?
Audrey empurrou alguns bolinhos em sua direção, esperando que Mercury comesse e matasse a fome.
— Toda vez que a vejo você parece mais assustada. — sussurrou. — Você ainda não fez amigos, só tem seu irmãozinho e chegou depois do início das aulas... sei que você deve estar se sentido perdida.
Audrey não fazia ideia do quanto, pensou.
— Só quero que saiba que as coisas vão melhorar. — completou. — E que eu... eu...
Os olhos da garota já não estavam mais em si, o que fez Mercury ficar ainda mais confusa e olhar para trás também. Engoliu mais um bolinho antes de Audrey aparentemente surtar.
— Ah, merda!
No outro lado da mesa, onde Regulus e seus amigos estavam, um garoto vestido com um uniforme de quadribol da grifinória praticamente usava o taco de batedor para agredir alguém. Seu cabelo loiro escuro estava penteado absurdamente bem e intacto mesmo após o treino, ele então colocou uma das pernas em cima do banco e se aproximou mais dos três garotos que permaneciam com o rosto inabalável.
— Por que não faz o seu trabalho ávido de Monitor e impede que seus capangas preguem essas peças idiotas no meu time, Black?
Audrey já estava de pé.
— Ou você vai fazer o que, Monarch? Os meus amigos não fizeram nada além do que os seus fizeram com o meu time.
Regulus o encarou de volta, não havia ódio presente em sua face. Na verdade, não havia nenhuma emoção da qual ela pudesse traduzir.
— Precisaram colocar explosivos no campo para se sentirem melhores... — fora Barty quem falou, em um tom de deboche. — Estão com tanto medo assim de perder pra gente no próximo jogo?
— Eu não tenho medo de três projetinhos de Comensais da Morte.
— MILETO! JÁ CHEGA! — Audrey berrou.
Ela correu até ele, tentando afastá-lo dos três garotos.
— Do que foi que você nos chamou? — o garoto loiro perguntou em um tom alto.
— Disso mesmo que você ouviu, Rosier. — respondeu. — Eu não tenho medo de nenhum de vocês.
— Milo, cale a boca! — ela continuou. — Venha logo...
— Vamos ver se no campo você é tão corajoso assim, Monarch. — Regulus debochou.
Antes que o garoto voasse sob a mesa e causasse algum grande estrago nos sonserinos, Mercury se levantou em um pulo numa velocidade que parecia ultrapassar a luz e ergueu sua varinha na direção do grifinório irritado. Não precisou gritar seu feitiço para que ele praticamente viajasse por suas veias como plasma em um ritmo ligeiro e passasse pelo cerne da varinha, então chegando em seu alvo e o fazendo paralisar igual uma árvore que caía aos poucos, sendo segurado por uma Akshay de olhos muito arregalados, assim como os dos alunos próximos. Se o que Mercury Clement queria era não chamar atenção, pela primeira vez não conseguiu. Todos os olhos estavam nela, até mesmo os dele.
Enquanto o grifinório paralisado estava sendo levado às pressas para fora do Grande Salão, Mercury passou pelos três outros garotos que fizeram parte da briga e por muita sorte não se machucaram também. Seu olhar viajou por entre os três, primeiro o loiro Rosier, depois Barty que mantinha aquele rosto impecável mas com um sorriso travesso e então Regulus. Aquela personalidade definitivamente não combinava com o que ela havia imaginado quando encontrou seus olhos tristes pela primeira vez. Desviou seu olhar para o caminho que Audrey havia feito e deixou para trás o que não lhe deveria encher a cabeça.