- Ana Becker
O sol invadia meu quarto com força, trazendo-me de volta à realidade. Olho o relógio no celular: já são 10 da manhã. Sinto o peso da ansiedade no peito. Hoje é o dia. Troco-me rapidamente, optando por uma calça jeans e uma camiseta confortável, e desço para encontrar Marta na cozinha.
— Bom dia, querida. Dormiu bem? — ela pergunta com um sorriso acolhedor.
— Dormi, mas queria continuar dormindo, para ser sincera — respondo, bocejando.
— Algum plano para hoje? — ela continua, com aquele ar de mãe preocupada que sempre me reconforta.
— Acho que vou dar uma volta na cidade. Faz tanto tempo que não ando por aqui... Também preciso me preparar psicologicamente para o teste de amanhã — suspiro.
— Tenho certeza de que você vai se sair bem, Ana — ela diz com uma confiança que eu queria sentir.
Após tomar café, decido explorar a cidade. O bairro parece o mesmo, mas a sensação de nostalgia é estranha. Passo por uma sorveteria e não resisto: compro um sorvete de chocolate. Meu favorito. Saio distraída, observando as pessoas, os prédios, as lojas. Não estou olhando para frente quando esbarro em algo — ou melhor, em alguém.
O impacto faz meu sorvete cair direto na minha calça. Quando olho para cima, vejo um homem alto, talvez 1,89m, cabelo claro e olhos castanhos intensos. Ele é incrivelmente bonito, mas a primeira coisa que sai de sua boca é:
— Deveria olhar por onde anda, garotinha.
Garotinha? Sério?
— Não sei se você percebeu, mas você também se sujou, imbecil — retruco, tentando limpar o estrago.
Ele olha para sua camiseta suja com desdém.
— Ótimo, estraguei minha manhã por causa de uma distraída — murmura, irritado.
— Se quer saber, a minha manhã também foi arruinada — respondo com sarcasmo.
Ele me observa por um momento, e então, como se fosse a coisa mais normal do mundo, dá um meio sorriso e simplesmente vai embora. Que babaca. Passo em uma loja próxima para comprar roupas novas e explicar à vendedora, que me olha torto, que não, isso não é sujeira de outro tipo; é só sorvete. Ela claramente não acredita.
De volta à casa do meu pai, tomo um banho para tirar o grude e descanso um pouco. Quando o sono finalmente chega, ele traz consigo os mesmos pesadelos de sempre: flashes de memórias distantes e dolorosas. Acordo com o coração acelerado e a respiração pesada. Desço para buscar um copo d’água e encontro meu pai na cozinha.
— Pesadelos de novo? — ele pergunta, cauteloso.
Apenas assinto. Não gosto de falar sobre isso.
— E você? Por que está acordado? — mudo de assunto.
— Trabalho — responde, como sempre. — Está pronta para amanhã?
— Nasci pronta — tento soar confiante, mas sinto o peso das expectativas. Ele sorri de leve, algo raro, e deseja boa noite.
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Na manhã seguinte, estou atrasada. Muito atrasada. Era para estar na sede do FBI às 10h; agora são 10h30. Visto uma calça social preta, camisa branca e prendo o cabelo em um rabo de cavalo. Pego o carro emprestado do meu pai e dirijo apressada até o prédio imponente com vidros espelhados.
Na recepção, sou recebida com um olhar severo.
— Bom dia, vim para o teste de novos agentes — digo, tentando soar educada.
— Está atrasada. Começou há 40 minutos — a recepcionista responde, impassível.
— Eu sei. Foi o trânsito — minto.
— Não pode entrar — declara ela, com firmeza.
— Olha aqui, sua... — começo a retrucar, mas sou interrompida.
— Ana? Pensei que não viria. — Era Marcos Martins, o diretor da agência. Claro, o "amigo íntimo" do meu pai.
— Desculpe o atraso. O trânsito estava terrível — minto novamente.
— Sem problemas. Vamos começar o primeiro teste? — ele pergunta, como se não fosse nada demais.
Seguimos para uma sala no 13º andar, onde ele me explica as três fases do processo. A primeira, claro, é uma entrevista sobre minha vida pessoal.
— Me fale sobre sua mãe — começa ele, direto.
— Minha mãe foi acusada injustamente de um crime grave quando eu tinha 12 anos. Ela era minha base, minha inspiração, e foi arrancada de mim. Desde então, tudo mudou.
— Por que tem tanta certeza de que ela era inocente? — ele insiste.
— Ninguém pode garantir o que há no coração de outra pessoa, mas eu conhecia as ações dela. Minha mãe era alguém que vivia para ajudar os outros. Se cometeu algo, foi porque acreditou que era o certo.
Ele me observa com atenção, avaliando cada palavra.
— Você só está aqui por ela?
— É um dos motivos. Quero justiça, não apenas para minha mãe, mas para todos que foram acusados injustamente.
Marcos sorri de lado, como se estivesse satisfeito com minha resposta. Ele então me pede para contar sobre minha adolescência, e falo sobre o tempo em San Diego, minha relação complicada com meu tio abusivo e como sempre busquei ser forte, mesmo nas adversidades.
— Você passou por muita coisa, Ana. — Ele parece genuinamente impressionado. — Podemos ir para outra sala. Quero te mostrar algo.
Levanto-me confusa, mas com um fio de esperança. Sinto que a verdadeira prova está apenas começando.
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Promessa Proibida
ActionAna Becker é filha da mulher mais procurada pelo FBI, e seu único objetivo ao se tornar agente é provar a inocência da mãe, condenada por um crime imperdoável. Mas quanto mais ela se aprofunda na investigação, mais segredos obscuros vêm à tona - seg...