Capítulo I - A Entrevista

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Não era a primeira vez que Brunessa iria à casa de sua avó, porém ela nunca esteve tão ansiosa para visitá-la. Após debater sobre métodos de pesquisas, a Profª. Celina concordou que entrevistar Blogueirela seria uma forma válida, aliada às pesquisas de Brunessa, de obter materiais historiográficos.

Ao acordar bem cedo, Brunessa não esperou o seu marido preparar o seu café da manhã, e nem o das crianças: se arrumou e saiu rapidamente para pegar o Trem Internacional de Pinheiral em direção à Arvorel, o país vizinho. Após um erro do sistema de venda de passagens da Estação, o trem partiu cheio e Brunessa precisou entrar no vagão masculino. Em pé, Brunessa se estressou com umas adolescentes que tagarelavam e que começaram a falar sobre a aparência dos homens que estavam no vagão. Brunessa deu um fecho cis exigindo que as jovens respeitassem os trabalhadores que estavam começando as suas jornadas de trabalho. Aplaudida com brados de "habla mesmo!", as jovens passaram a conversar em um volume mais baixo, embora fosse possível ouvir alguns risos.

Chegando finalmente em Arvorel, Brunessa comprou um salgado e um caldo de cana e saiu comendo e caminhando pela Praça da Vitória, um local histórico que foi palco de uma batalha decisiva para a Vitória das Blogueiras. Atravessando a Praça, Brunessa entrou na fila para pegar um ônibus em direção ao "Sítio Meu Jeitinho", que ao contrário do que o nome possa indicar se trata de uma grande área residencial, que pertence a sua avó, e que faz parte de uma fazenda que possui vários hectares de terra, abrigando não somente atividades agrícolas como também alguns pólos tecnológicos de distribuição de energia e internet que ajudam a abastecer todo o Reino de Arvorel.

Enquanto o ônibus percorria a estrada, Brunessa se lembrou das visitas que fazia quando era mais nova e refletiu sobre o afastamento que passou a ter com sua avó, concluindo que em parte isto deva ter sido um efeito dos atritos de sua mãe com Blogueirela. Tirando as lembranças de conflitos familiares da mente, Brunessa começou a se concentrar mais nas perguntas que faria e como adotar uma postura mais séria e científica em sua pesquisa.

Ao sair do ônibus, que estacionou em frente à porteira do "sítio", Brunessa foi tomada por uma sensação de nostalgia, misturada com nervosismo, ansiedade e animação. Naquele momento, com 27 anos de idade, ela decidiu que visitaria a sua avó mais vezes, e que levaria o seu marido e os seus filhos com mais frequência.

Ao chegar na mansão, um empregado a recebeu e pediu para que ela o esperasse para anunciar a sua presença. Após aguardar, Brunessa foi convidada a subir as escadas e entrou no escritório de sua avó, que a recebeu com um forte abraço.

- Vó! Quanto tempo! Que saudades eu tava da senhora!

- Hum... eu também, mas você podia ter me visitado antes, e mais vezes também. Tutupom.

Blogueirela se encontrava com uma aparência um pouco mais envelhecida do que da última vez em que Brunessa havia se encontrado com ela, isto é, no aniversário de um ano da sua filha, Larissa. Além disso, Blogueirela não estava mais com os seus longos cabelos pretos, agora ela conservava um cabelo curto, em um corte chanel, tingido de preto azulado.

- Como estão Larissa e Tomásio? - perguntou Blogueirela.

- Estão bem. Larissa já tá ficando uma mocinha e Tomásio tem aprendido palavras novas. Ontem ele disse "heterossexualidade compulsória".

- Que gracinha! Você tem que trazer eles mais vezes pra me visitar. Eu não tô com idade pra ficar me arrastando até Pinheiral, porque por mais que esse país tenha "pinheiro" no nome, e eu seja vegana, não tem como eu ficar indo pra lá. Eu sou uma Senhora! Eu tenho um monte de coisa pra fazer e vocês nem pra virem aqui! Mas enfim, afinal de contas, eu não entendi direito, você quer me entrevistar pra escrever um livro sobre mim?

- Eu vim para lhe fazer perguntas sobre a sua história de vida, porque eu estou escrevendo a minha dissertação de mestrado e ela é sobre a história recente de Arvorel. E como existem muitas fakes news sobre a senhora, e sobre outras pessoas, eu gostaria de ter os seus relatos sobre os acontecimentos das últimas décadas. Eu agradeço muito o fato da senhora ter concordado em me receber. Eu sei que a senhora nunca autorizou nenhum livro biográfico e nunca participou de nenhum documentário, e por isso fico muito feliz pelo fato da senhora me receber.

- Sim, eu nunca aceitei porque... ah sei, lá, não tava afim, mas agora que você me pediu eu me animei, até porque... bem, sua mãe resolveu não falar mais comigo, acho que teve gente que botou minhocas na cabeça dela e ela ficou com ranço de mim, mas quem sabe se ela saber mais sobre a minha história ela pare de ser tão teimosa e volte a falar comigo?

- É sobre isso. Então, vó... vamos começar?

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⏰ Última atualização: Oct 04, 2022 ⏰

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