Admirado, Cosmo almejou mais. Vê-la rir, vê-la esboçar felicidade gerou cobiça o qual quebraria ossos para satisfazer seu desejo sem reprimo.
Eles estavam juntos por uma noite, mesmo sem o contato, mesmo sem intimidade, eram eles, a lua e a maré, num uníssono.
Nesse momento, Cosmo se imaginou levando-a à lugares incríveis, tirar e tomar para si tudo que ela poderia lhe oferecer. Se imergiu em lembranças de quando lia All The Bright Places, por Jennifer Niven, e desejando refazer essa história, mas em sua própria vida. Obviamente, não precisaria ser uma fatídica história de amor como se tornou o livro — o que não foi algo ruim — mas uma história de evolução mental e terapêutica.
De certa forma, esse momento compartilhado o tornou mais próximo dela, o tornou mais amigo, tirou pequena parte de sua timidez, apenas para que retornasse.
— fico feliz de ter vindo aqui depois de tanto tempo — ela disse.
— você não vem com frequência?
— quem me dera, mas sou tão ocupada com meus estudos.
— mas você está aqui agora — disse.
Ela o encarou. Olhos brilhando, iluminados pela graça da lua, apenas tornou a cena mais bela para quem lhe cativas.
— estou, não? — respondeu enquanto voltava sua atenção para a maré. — acho que existe uma brecha.
Sim, sempre pode haver um brecha. Cosmo sabia disso, assim como houve uma brecha em seu matrimônio. “Até que a morte os separe”? Provável que não. Quem tenha inventado essa frase provavelmente morrera virgem, com nada além de sua mão direita para satisfazer-se, sem nunca ter tido um relacionamento de verdade, pois se tivesse acontecido, teria retirado as palavras.
Em retrospecto, não foram feitos um para o outro, independente de suas ações e comportamento dentro do casamento. Sinceramente, os dois se livraram de uma boa, não precisando lidar com suas desavenças.
Por boa parte do tempo, Cosmo estava bem, sozinho mesmo. Sua única companhia eram seus colegas de banda. Não precisava de um amor, não precisava de mais amigos. Mas ela… Ela tem uma coisa. A forma que ele poderia ouvi-la sem nunca se cansar, tanto sua melodia quanto sua voz. Na certeza, aquela voz era de ouro, e era impossível de se imaginar como seria usando-a para canto, num microfone, no palco. A forma que ele sabia que ela estava lá, escutando-o, quando qualquer outra pessoa já estaria impaciente, desejando ir embora. Mas mesmo ela sendo tudo isso para Cosmo, por que não para Rain?
— e você terá tempo amanhã?
— quem sabe — ela deu de ombros — por quê? Virá me ver?
— você quer isso?
Ela olhou em seu rosto delicado e viu seu olhar desafiador, querendo tirá-la alguma informação preciosa, mas ela não cairia em seus encantos.
— você tem cara de quem curte música — desconversou.
— sim — bobo nem percebeu — na verdade, eu toco guitarra.
Ele a observou, temendo sua reação. Por um milésimo desejou não ter dito, mas sentiu um alívio no peito quando a pianista o contemplou indiferente. Isso era o que tornava sua magia tão poderosa — um momento totalmente ouvinte e compreensiva, no outro uma garota que simplesmente não se importa —.
— isso é legal.
— sabe, eu acho que guitarra e teclado dariam um bom som — ele pareceu entusiasmado.
— naah.
— você não acha?
— nah.
Ele a viu desinteressada e desanimou, entristecido por parecer idiota e entediante em sua frente. Percebeu a pianista inquieta checando um relógio em seu pulso, e a mesma se levantou rapidamente após recolher seus pertences. Será que realmente teria estragado tudo? Entorpecido pelo desejo de algo mais, não poderia apenas deixar por ali.
— já vai?
— sim, eu preciso.
Seu movimento estava certo de que ela iria embora, mas seu ato foi impedido pela mão de Cosmo que segurou seu pulso. Olhou-o enojada e puxou seu braço. Ele era só mais um cara o qual ela conheceu, a única diferença foi o encontro dos dois em meio ao abraço da madrugada, a única magia foi esta. Fora isso, ele só era mais alguém em sua vista, então por que ele pensaria que poderia apenas tocá-la?
— não faça mais isso — fuzilou com o olhar.
— desculpa — disse, a voz embargada.
Ela desde o começo carregava consigo um livro. Ah sim, era A Vingança do Judeu, de John Wilmot e Vera Kryzhanovskaia. Ele notou desde o começo.
Certamente, quando você não está ensaiando ou compondo, você lê, pensou, mas um livro de romance espírita? Bem, você não me parece uma grande fã de livros românticos, e espírito não é algo que me supre tanto. Surpreso por você acreditar nessas coisas, ou você é só uma leitora amadora nesse gênero? É possível. Você me parece estar gostando desse livro, pois nesta manhã eu vi seu marca-página por volta da metade do livro, e agora você o tem nas últimas páginas. Deve estar muito divertido, pois posso te imaginar devorando-o. Olhando seu marca-página de perto, posso o ver que é como uma lembrancinha de algum evento de livros da Sidney Sheldon que você talvez participou. Que nobre, você doou livros? Ou talvez você ame muito o escritor e o comprou, o que me fará pesquisar sobre a vida desse homem.
— mas você poderia me encontrar amanhã?
— tipo, para sair? — perguntou tensa.
— bom, eu esperava que pudéssemos nos encontrar na Biblioteca Noelle ( * ) neste mesmo horário, talvez? — disse com o coração aos prantos, prevendo seu fora sincero e amargo, como a expressão em seu rosto que comumente era.
Mas ela se expressou pensativa e ele se levantou olhando-a com ternura.
— por favor.
— ok.
Sem dar a chance de responder ou nem sequer trocar sorrisos bobos, a pianista se virou e foi para casa com fins de descanso.
Cosmo pensou, mas em nenhum momento se atreveu à pedir por seu número de telefone ou qualquer rede social, imaginando o que lhe ocorreria. E sinceramente ele não estava na posição de se arriscar. Mesmo com poucos avanços, saiu da praia todo feliz, agradecendo pela insônia ter o privilegiado pela primeira vez em anos.
Com passos apressados, não demorou muito para que ela chegasse segura em seu apartamento. Tirou seus sapatos e os arremessou longe, seguido por suas roupas. Se jogou na cama completamente nua, apenas para si mesma.
Algumas noites ela fazia isso para tentar se aliviar, pois nunca esperava por ninguém. Sempre tinha alguém que daria tudo para amá-la intimamente, mas ela nunca gostou da forma com qual essas pessoas a abordavam. Então procurava outra forma, que em meio a melodia possa atravessar, e ninguém se incomodaria com a imensidão que tem em si. Se soubesse mais sobre os homens, de fato no sentido emotivo, além de jogos e relações sexuais, talvez aquilo não seria tão difícil, mas pensando bem, o vendo sorrindo talvez seja um motivo para correr o risco.
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Toxic Music
FanfictionÉ o melhor conservatório, é o pior conservatório, foi a era da sabedoria, foi a era da tolice, foi a estação da Luz, foi a estação das Trevas, era a primavera da esperança, era o inverno do desespero. Há algumas coisas que você aprende melhor na cal...