um dia triste para um garoto triste

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Me perguntava se aquele era o melhor momento para não estar chorando enquanto as outras pessoas derramavam litros de lágrimas, estava triste? Claro que estava, mas chorar era um movimento difícil, não sentia que minhas lágrimas poderiam escorrer para deixar o rosto molhado além do que a chuva já deixava. A morte de minha mãe era um grande peso de tristeza nos ombros, mesmo sem lágrimas sentia que iria desabar a qualquer instante.

- Antonella Santoro era com certeza uma mulher deslumbrante e gentil, ter partido tão cedo era um despedaçar de coração de todos que a conheciam, mas para mim, seu filho, o seu querido Ycaro como ela me chamava, sua partida precoce deveria ser considerada como que "já era sua hora de voltar para a nossa deusa".

Disse meu discurso assim que todos ali se reuniram novamente agora dentro do salão, tinha um rosto mais triste do que o normal e sentia o nó na garganta se formar sempre que dizia algo. Como não éramos cristãos não pudemos fazer uma cerimônia em uma igreja mesmo que nossos conhecidos achassem que fosse o melhor. Prestaram seus pêsames sempre que se aproximavam de mim.

- Vai ficar tudo bem Ycaro, sua mãe está em algum lugar melhor.

- Obrigado senhor Andrea.

Tomava um grande copo de café para poder me manter de pé, enquanto sentia minha sombra puxar as roupas que usava, numa tentativa de chamar a atenção e me fazer se sentar em algum lugar para me acalmar, aquilo não era estranho para mim, era até comum perceber aquela sombra quase com vida própria, e que ao invés de ser presa no chão, na verdade andava lado a lado dos meus pés. Notei uma mulher um pouco parecida com minha mãe se aproximando, tinha orelhas pontudas e compridas e cabelos tão escuros que até pareciam azuis - algo aparentemente comum na família Santoro - eles apenas eram mais curtos do que a de Antonella.

- Oi Ycaro, sou irmã da sua mãe, Angela, recebi a notícia de que ela faleceu por...

- Por conta da saúde debilitada dela. - Olhei para seu rosto, eram bem parecidas, mas bem diferentes também, em altura e formato de rosto.

- Sim, isso, podemos sentar para conversarmos?

- Tudo bem. - Fomos a um canto afastado e nos sentamos em alguns sofás.

- Sei que pode ser um pouco difícil pra você, que ainda é jovem. Mas agora sem sua mãe... você precisa de outro lugar para morar, e já que sou sua única tia você vai passar a morar comigo. Tudo bem?

Fiquei um tempo quieto apenas escutando quando a mulher voltou a falar.

- Talvez seja estranho no começo, mas olha, eu tenho um filho um pouco mais velho que você, vocês podem conversar, e ir para a escola juntos. Ouvi que gosta de estudar também, onde vamos tem uma escola para bruxos como nós que...

- Você quis dizer wicca?

- ... Sua mãe não te explicou isso então... - cochichou pensativa. - É, uma escola wicca. Vamos partir em alguns dias, vou ficar aqui com você até se despedir de todos e arrumar suas coisas e então vamos sair juntos. Okay?

- Okay.

- Vamos lá, não faça esse semblante triste.

Apertou minhas bochechas, como minha mãe também fazia, me fazendo sorrir por um momento.
Passamos algumas horas ali e já passava a me sentir melhor, não víamos a morte como algo ruim, mas como uma passagem para uma nova vida, e que enquanto não reencarnasse ela estaria com a deusa e cuidando de mim mesmo após a morte. Eu e minha tia fomos para casa logo depois do funeral, uma casa pequena mas aconchegante, ótima para apenas duas pessoas que levavam sua vida com simplicidade, destranquei a porta abrindo espaço para que a mulher passasse e então eu entrasse para poder trancar a porta novamente.

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