Tempos de guerra

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                             KEISA

Eu não estava liberta de tudo que havia me torturado, mas também não estava mais me afogando em todas as lágrimas que eles causaram.

Encarei meu reflexo no espelho e não encontrei nenhuma mulher despedaçada, como da última vez que Ivarsen segurou-me diante do espelho, tudo que estava errado em mim vertia de dentro, escondido pelas camadas de maquiagem e pelo tecido longo de um vestido vermelho. Meu reflexo estava intocável e superior por quaisquer que fossem os pesadelos que tiravam meus sonos durante a noite.

— Você está linda.

Olhei pelo reflexo e presenciei Heloise vestida em um vestido mais curto e menos clássico do que o meu, alças grossas caindo por seus ombros em tons lilás.

— E você está maravilhosa. — elogiei.

Minha irmã se aproximou das minhas costas e acariciou meus ombros quase nus pelas alças finas. O vestido era vermelho igual ao sangue, longo de alças quase invisíveis e uma fenda subindo pela extremidade mais alta da minha coxa.

Havíamos trocado poucas palavras, cada uma estava inércia em seu próprio luto se erguendo contra nossos próprios demônios. Eu gostaria de pedir desculpas por não ter conseguido fazer nada que poupasse mamãe de uma morte dolorosa, mas eu continuava segurando em qualquer coisa que me levasse para longe de todos esses pensamentos terríveis, como se correr fosse a melhor opção.

— Não se culpe pelo o que aconteceu... — Helo sussurrou como se conseguisse ler meus pensamentos. — nós duas sabíamos que não havia chances. O mundo é cruel, todo mundo tira sua maior força com a esperança de que isso te derrube, mas isso só te fortaleceu. — segurei seus dedos com os meus. — Você é uma inspiração, Keisa, não consigo imaginar uma vida sem você.

— Obrigada por me aceitar.

— Você faz parte desse lugar, dessa família e faz parte de mim também. Mamãe nos amava e gostaria que estivéssemos unidas para sempre da forma que ela nunca conseguiu unir antes.

— Eu sei. — olhei em seus olhos que também eram os olhos de mamãe. — Eu te amo, Helo.

— Eu te amo, Kei.

Minha irmã respirou profundamente e se afastou de mim, sentou-se na antiga cama de Fane e acariciou o acolchoado verde.

— Foi aqui a nossa primeira vez. — Heloise disse ao sorrir pequeno. — Não só a nossa primeira vez juntos, mas também a primeira vez de cada um de nós. Foi um desastre, Fane não conseguia encontrar o lugar certo para colocar o pau e eu tive um ataque de risos. — sentei ao lado da minha irmã ao ver ela sorrir com a lembrança divertida dos dois juntos. — Ele está em todo o lugar e não está em lugar nenhum.

— Vou encontrar ele.

— Isso já te custou tanto.

— Não é o suficiente, não vou desistir. — confessei.

— Só prometa que vai parar se isso te machucar, eu quero ele mais do que tudo mas não posso perder mais do pouco que tenho. — ela disse.

— Ivarsen está no controle agora, — respondi. — e enquanto ele estiver eu jamais vou me machucar.

Havia coisas das quais não era preciso ter provas para saber e a proteção de Ivarsen era uma delas. Iva não falhou comigo, ele estendeu uma liberdade da qual eu aproveitei e não pensei nas consequências na hora de investigar o escritório do capitão.

— Vamos, está na hora. — Heloise anunciou secando as lágrimas com batidinhas para não borrar a maquiagem.

Puxei minhas luvas por todo o antebraço e engatei no corpo da minha irmã seguindo para fora do quarto. Os familiares e todos os cavaleiros organizaram um evento privado para que eu fosse iniciada entre eles, e esse evento apenas aconteceu porque Iva insistiu que ele acontecesse.

Hunting - Ivarsen Torrance Onde histórias criam vida. Descubra agora