Capítulo 5 - Silhueta da Noite

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— Eu realmente espero que isso não assuste você, de verdade. — Ela diz, com o rosto próximo ao meu.

Eu estava segurando o ar.

Desde o último capítulo.

E ela mantinha os seus olhos firmemente presos aos meus. Não sabia exatamente para onde olhar ou o que sentir.

Um cheiro tão forte. Uma sensação tão esquisita e tão boa ao mesmo tempo. Tê-la assim, tão próxima.

Eu me sentia completamente controlada. Completamente entregue.

O típico relacionamento lésbico que durou uma semana até a gente se entregar. E eu adoro que seja desse jeito.

Talvez eu não precisasse de mais tempo nenhum com a Raissa para saber que era ela. Já conhecia suas milhares manias e defeitos, já conhecia cada pedaço dela.

E agora, com seu físico em minha frente, e sua voz ecoando na minha cabeça.

Só me beija logo, por favor.

Não... Não me assusta.

Ela respira fundo e quebra o contato visual.

— Nós não deveríamos estar fazendo isso, Maria.

— É errado que nós tenhamos algum vínculo?

— Somos colegas de quarto. Eu não queria me apegar a você, entende? É mais como uma... Parceria.

Ela conseguiu inverter o jogo.

Mas não durou tanto tempo assim.

— E por que não se apegar a mim? Eu não vou embora, Raissa, é uma promessa. — Eu ri. — Nem tenho para onde ir depois daqui.

Ela sorriu junto com as minhas palavras e a mão dela sutilmente se encontrou com meu ombro e se arrastou até meu queixo.

— Talvez, uma vez que você realmente me conheça, você não goste mais de mim.

Eu tinha certeza.

Agora ela me beijaria.

— Boa noite, Maria.

E então, ela saiu andando.

Me deixando paralisada no lugar onde eu estava. Nem percebi a direção que ela foi, apenas percebi que ela havia sumido.

As luzes pareciam tão mais fracas.

Minha energia estava tão esgotada.

Mais tarde, na mesma noite.

Procurei em todos os lugares da festa até encontrar Luiza.

É claro que eu iria naquela festa de gente rica. Todos tão formais, e tão elegantes.

O céu aberto no topo iluminado de um prédio. A cobertura cheia de luzes e bebidas que custavam meu aluguel.

Até que a encontrei bebendo uma taça de vinho de 94, com a garrafa em suas mãos.

— Olha quem está aí! — Ela disse, se dirigindo a mim.

— Oi, Luiza!

— Obrigada por ter vindo!

— Eu não perderia esse tipo de evento por nada.

Uma garota de longos cabelos castanhos bem claros estava posicionada ao lado de Luiza. Seus olhos verdes eram extremamente claros e me encaravam da cabeça aos pés.

          

— Maria, essa é a Shanen. Minha melhor amiga.

— Prazer. — Ela se voltou a mim.

— O prazer é meu.

— Sabe de quem ela me lembra? — Shanen se virou para Luiza, que franziu as sobrancelhas.

— Não sei.

— Ane. Mas o cabelo dela estava em melhores condições.

— Ei, não fale de mim como se eu não estivesse aqui. — Olhei para ela, me arrependendo seriamente em ter dito que era um prazer.

— Eu poderia te dar umas indicações de shampoo...

É claro, ela tinha o cabelo longo e lindo.

O meu era bem curto e até meio desarrumado, mas eu gosto dele assim.

— Ok, esse gelo precisa urgentemente ser quebrado. — Luiza se intromete.

— Posso te dar um conselho? Comece a tomar cuidado com seu cabelo.

— Me lembra por quê eu deveria me importar com a sua opinião?

Ela saiu andando como se não tivesse me escutado, me deixando sozinha com Luiza.

Tinha esquecido que gente rica é tão mesquinha e desgraçada.

A festa no barzinho de esquina foi mil vezes melhor. E olha que eu tinha encontrado meu ex lá.

— Não leva para o pessoal, Maria.

— Ah, não. Como que eu levaria algo assim para o pessoal?

— Sério, você é perfeita apenas sendo quem você é. E eu adoro seu cabelo. Shanen consegue ser uma filha da puta quando quer.

Eu percebi.

— Acho que esse não deve ser o real motivo.

— Tenho quase certeza que seja. Nós somos melhores amigas, mas discordamos de muitas coisas.

Bocejei e percebi o quão exaustivo era para mim estar naquele lugar.

— Você está bem?

— Estou, apenas achando difícil manter meus olhos abertos.

Ela riu.

— Está vendo aquela garota ali?

— Qual?

Me virei em direção para o lugar em que ela apontava e percebi uma garota de olhos azuis e cabelo curto claro conversando com algumas pessoas. O vestido azul tubinho caía bem em seu corpo.

É claro, mais uma garota rica.

— Ah, sim. Eu estou vendo.

— Ela é bem importante para a moda no nosso país, uma figura ilustre. Eu gosto muito dela. E acho que talvez ela também goste de mim.

— Ah, que legal!

— Mas tem um problema, ainda. Eu não lembro o nome dela.

Entre 4 Paredes, Eu, e ElaWhere stories live. Discover now