Capítulo 30 - Despedida

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— Aya, por favor... — disse Serpente, com os olhos cheios de lágrimas. — Salve-a. Salve Loenna...

Em volta de Loenna, podia-se ver todos os residentes da mansão Nalan: Eliah, a tesoureira, Euler, o conselheiro, Lenrah, o chefe da guarda real, Maraya e Sharoli, os guarda-costas da rainha e até mesmo Fowillar, o rei que fora preso injustamente, mostrava-se preocupado com o estado de saúde da esposa. Aya se prostrava em frente à rainha ferida, tentando estancar o sangramento, enquanto Serpente se debulhava em lágrimas.

— Eu estou tentando — A testa de Aya brilhava de suor. — Mas a sutura não está contendo o sangramento. Precisamos levá-la a um hospital.

— NÃO HÁ TEMPO! — Serpente se exaltou. — ALGO PRECISA SER FEITO AGORA!

— Não precisa gritar comigo, estou fazendo o meu melhor. — As olheiras de Aya estavam marcadas. Sua notável perda de peso refletia na fragilidade da enfermeira e seu estado mental era nada mais que frangalhos. Ainda assim, Aya persistia, buscando a todo custo salvar a rainha. — Eu não estou muito otimista, Serpente. Tenho medo que a facada tenha atingido órgãos vitais, como o fígado ou o baço.

O rosto de Loenna perdia gradualmente sua cor. Seus lábios estavam tingidos de um cinza morto, a pele estava pálida feito papel. Era possível apenas ver seus olhos cor-de-âmbar, que fitavam um ponto longínquo no alto. Loenna estava partindo.

— Ela está perdendo o pulso — anunciou Aya. — Serpente, eu temo que...

Uma lágrima escorreu pelos olhos escuros da ladra. Não queria perdê-la, não a sua garota, não a sua primeira aprendiz. Serpente a amava com todo o seu coração, fora a primeira que ouvira as três palavras da boca de Gillani Gaspez. Havia de ter uma forma de trazê-la de volta; tanto fisicamente quanto psicologicamente.

Contudo, as feições de Aya não eram nada animadoras. A enfermeira tomou o pulso de Loenna mais uma vez, checou sua respiração e, após alguns segundos tentando reanimá-la, deu seu veredito:

— Loenna Nalan está morta.

***

Julien espreitava todos os acontecimentos pelos olhos de Darian. Não podia agir, não podia falar, não podia sequer sentir o toque se sua filha pela última vez; a visão que tinha da confusão sequer era nítida, porque Darian escolhera se manter afastado da aglomeração. Contudo, seu coração metafórico apertava-se somente com o som das palavras de Aya, anunciando a morte da criança que ajudara a pôr no mundo.

— Darian, pergunte como ela está. — O morto estava afoito por respostas. — Por favor, faça isso por mim. Por mim, Darian!

O garoto, como era de se esperar, ignorou o pedido de Julien. O fantasma praguejou baixinho e cogitou dissociar de Darian mais uma vez, apenas para dar mais uma preocupação àquela corte de hipócritas, mas foi surpreendido por uma visita.

Sim... Uma visita. Foi assim que chamou a materialização repentina de um espírito ao seu lado, uma alma que se tornava cada vez mais nítida com o passar dos segundos. Julien piscou algumas vezes para ter certeza de que não era uma ilusão. Apesar de seus esforços, ela estava ali: Loenna Nalan, a filha que o guerreiro abandonara aos dois anos de idade, vencedora da guerra e ex-rainha de Carmerrum.

Julien encarou sua filha por alguns segundos mórbidos. Aquilo era possível? O que os poderes de Darian poderiam esconder?

— O que... — Loenna foi a primeira a se manifestar. Encarou suas próprias mãos, agora transparentes e cobertas por uma gosma azulada, e não demorou a notar que havia algo de errado. — Onde estou?

— Bem vinda ao corpo de Darian! — lançou Julien, abrindo um sorriso acolhedor. — É meio apertado aqui, mas cabe todo mundo.

— Quem é Darian? — A pergunta lógica a ser feita.

Inflamável | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora