|CAPÍTULO 5|

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O propósito indiscutível de uma cerimônia de casamento é o momento em que as duas partes compartilham seus votos e se comprometem um com o outro para o resto de suas vidas. Você pode crer que o casamento é o relacionamento mais sagrado que pode existir entre dois indivíduos ou que tão somente é um contrato social perante as leis que regem o Estado. Independente da sua crença, você concorda que para um casamento funcionar é necessário que exista desejo mútuo, altruísmo e muita paciência? Admitindo isto, vos pergunto: Que legado matrimonial Simone e Soraya Tebet estão deixando para a sua filha?

"Soraya..." A loira desperta aos poucos a partir da segunda vez em que o seu nome é chamado docemente. Sua respiração oscila suavemente quando os dedos gentis tocam-lhe no intuito de afastar alguns fios de cabelo do rosto. "Não podemos nos atrasar hoje, So..." Os lábios que proferiam aquelas palavras eram cuidadosos e a cada instante mais próximos de sua orelha.

Um beijo atrás dela, abaixo do lóbulo. Somente um beijo causou um arrepio enérgico, lhe despertando totalmente.

"Simone..." Soraya virou-se devagar saindo da posição de bruços qual dormira boa parte daquela noite. Viu o rosto de sua esposa e sorriu fraco, sem mostrar os dentes. Reflexo de um desnorteio matinal característico. "Que horas são?" Perguntou baixinho. Simone ergueu o tronco, mas permaneceu sentada na ponta do colchão ao seu lado, dando-lhe um pouco de espaço.

Assim que a pergunta foi feita, Tebet olhou para o relógio em seu pulso.

"15 para as 8h. Milena deve estar chegando a qualquer momento." Depois de informá-la, inclinou-se em direção à Soraya e depositou um beijo casto em sua testa. "Irei fazer algumas ligações para Brasília enquanto você se arruma." Explicou e retirou-se pela porta de vidro, acessando a área privativa da piscina.

Soraya lutou contra as suas vontades carnais perguntando a si própria o porquê daquela cama de hotel ter se tornado o melhor lugar do mundo tão rápido. A realidade a encontrou de repente e a atingiu tanto quanto o frio do piso de porcelanato em contato com seus pés descalços. Após se levantar, cobriu sua nudez com o robe de seda egípcia estampada que, por ser presente de Simone, como sabem, era o seu favorito. Seguiu para o banheiro e, diante do espelho que se estendia por toda a parede, apoiou as mãos na bancada de mármore bege. Fechou os olhos, inspirou profundamente e sorriu sozinha.

Flashback - Celebração de Ano Novo, 2002.

"Eu sei que é difícil, mas precisamos manter a calma."
"Eu não consigo, Simone."

Simone sorriu. Soraya estava com uma expressão engraçada. Mesmo depois de quase dois anos juntas, ela não havia visto nenhuma expressão como aquela, nunca. Também pudera... Essa era uma ocasião especial e única.

Soraya estava com a mão esquerda apoiando sua coluna lombar e a direita espalmada na parede que compunha o arco da cozinha. A boca estava aberta em um pequeno "O" por onde ela soltava o ar em uma respiração ofegante.

"Simone. De novo." Soraya gritou quando uma contração lacerante fez ela sentir as pernas fraquejarem no exato momento em que a morena passou um braço ao redor de suas costas e a ajudou a caminhar até a porta do apartamento, com a sacola da maternidade ocupando a outra mão.

"Nós já estamos indo. Aguenta só mais um pouquinho, meu amor." Ao ouvir, Soraya concordou com um murmúrio e passou carinhosamente a mão por cima da lateral da barriga pontuda.

"Calma, filha... A gente já vai te tirar daí... Não seja tão apressada quanto a sua mamãe." Soraya estava falando de si mesma quando ficou pálida, sentindo outra contração a moer por dentro e arrancar dos seus olhos algumas lágrimas. "Elas estão cada vez mais frequentes."

          

"Sim. O obstetra já está nos esperando." Simone tentava manter a calma necessária para Soraya se sentir segura, afinal, elas estavam prestes a conhecer o maior amor de suas vidas.

Fim do Flashback.

"...Hoje é o casamento da minha menina, não me ligue. Eu vou honrar com a minha parte do acordo, não se esqueça que eu sou a Presidente da República. Dentro do prazo combinado você receberá o retorno que espera."

A voz de Simone entrava pela pequena abertura na janela da suíte enquanto a loira secava os cabelos recém-lavados com o auxílio de uma toalha. O tom que fora usado por Simone naquela conversa ao telefone era nervoso, áspero até mesmo considerando seu temperamento rigoroso para os negócios. Soraya franziu o cenho por curiosidade e desconfiança. Quem estaria pressionando-a dessa maneira?

Ao sair do banheiro enrolada em um roupão atoalhado e com uma toalha torcida na cabeça, ela deu de cara com Simone vasculhando o mini bar da suíte em que estavam hospedadas.

"Não recomendo." Disse alto e Simone que estava abaixada para ler os rótulos das bebidas, se ergueu, dando-lhe seu melhor sorriso.

"Eu estava apenas lendo. Nunca ouvi falar nessa marca de uísque... Wolfburn? É escocês?" Ela segurou a garrafa pelo gargalo, mostrando à outra. Soraya acabou rindo ao estreitar os olhos para enxergar àquela distância.

"Não faço ideia. Deve custar uns quatrocentos reais, ou seja... Você não o conhece mesmo." Soraya deu de ombros, provocando a esposa. Simone deixou a bebida no lugar e caminhou para perto dela, segurando-a pela gola do roupão. A puxou levemente de encontro ao seu corpo e deu um beijo demorado nos lábios, sentindo o hálito de quem acabou de escovar os dentes, assim que as línguas se encontraram. Soraya a segurou pela cintura e ficou na pontas dos pés, para alcançar Simone melhor. Compartilharam do gosto e do desejo que sentiam uma pela outra, antes de separarem os lábios com muito esforço. "Hm... Quem era no telefone?"

Simone arqueou as sobrancelhas e demorou um segundo ou dois para assimilar. Piscou lentamente. O pior de tudo é que Soraya lia a mulher mais velha muito bem e sabia quando Simone estava se esquivando de alguma resposta.

"Não foi nada importante. Nada que a mãe da noiva deva se preocupar." A morena respondeu e roubou um selinho, se afastando de uma Soraya muito pensativa.

Embora calada, Thronicke permanecia com uma pulga atrás da orelha. Ela terminou de se vestir, tomou um café forte e puro que foi pedido por Simone minutos antes dela acordar e juntas saíram para encontrar Milena.

O quarto de Milena parecia uma zona de guerra. Malas abertas sobre a cama, maquiadoras, cabeleireiros, stylist e... Joana. Soraya franziu o cenho assim que os seus olhos pairaram em direção à estagiária. Simone a cumprimentou educadamente com um aceno. Soraya estava decidida a ignorar a sua presença e assim caminhou até Milena, agarrando a filha em um abraço.

"Que bom que vocês já acordaram! Depois do almoço a maquiadora começa com vocês duas." A noiva estava visivelmente ansiosa ao falar depois do beijo que deu na bochecha de Soraya. Ela soltou a loira e foi abraçar a outra mãe, deitando a cabeça no peito de Simone. Quando se desvencilharam, Tebet tentava disfarçar os olhos avermelhados, mesmo que as lágrimas ameaçassem cair.

"Estaremos à postos, filha." Respondeu simplesmente.

"Você já se alimentou, Milena?" Foi a vez de Soraya sair andando pelo quarto, vasculhando o ambiente. Havia uma mesa redonda na suíte com alguns croissants e uma tábua de frios completa. A loira espetou um quadradinho de queijo e levou-o à boca. "Você precisa se alimentar."

"Sim, mamãe. Não fica nervosa." Milena concordou e assegurou, sabia que apesar do tom agitado e controlador, Soraya tinha razão.

Flashback - Fazenda da Família Tebet - Mato Grosso do Sul, 2014.

Labyrinth [Simone x Soraya]Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang