𝐕𝐈𝐍𝐂𝐔𝐋𝐔𝐌, tododeku

Prestes a queimar

Midoriya estava sem reação.

Desde criança, ouvia falar sobre a teoria das Almas Gêmeas, mas sempre em versões diferentes. Alguns diziam que, ao nascer, já sabiam quem era seu par, outros diziam que encontravam-no em seus sonhos, e outros diziam que, ao olhar para sua alma gêmea, tudo ao seu redor fica branco, como se existisse somente eles dois no mundo, e por milésimos segundos, seus lobos se conectam (por essa razão, os olhos tornam-se dourados).

É claro que de primeira achou que aquilo tudo não se passava de uma brincadeira, que era impossível de existir.

Mas agora, após o que passou, ele não tem como negar.

Ele achou seu ômega. Sua metade.

No resto da aula ele nem sequer conseguiu se concentrar, constantemente seu olhar ia até o ômega de fios bicolores, que estava, evidentemente, o evitando.

Midoriya o entendia. Ele mesmo queria evitar isso.

Mas Shouto o interessou.

O fim do primeiro turno chegou e Todoroki rapidamente saiu da classe, sem ao menos esperar seus amigos, ele precisa de um tempo sozinho para pensar e tentar calar a boca de seu lobo, que ficou enchendo seu saco a aula inteira com pensamentos sobre seu suposto alfa.

Ao chegar no terraço, soltou um suspiro de alívio e se apoiou na cerca que o protegia da grande queda, caso ele caísse daquela altura. Passou a observar os alunos se divertindo durante o intervalo, logo encontrando o alfa de fios esverdeados com o seu outro amigo alfa – este que estava abraçado a Ochaco Uraraka, uma ômega bastante extrovertida e animada da sua sala –, sentados embaixo de uma grandiosa árvore de Sakura. Izuku estava rindo de algo que a ômega morena havia dito ao alfa loiro, e seu coração acelerou ao ver como seu sorriso era lindo.

Não, nada disso, Todoroki Shouto!

Bateu em seu próprio rosto, tentando esquecer esses pensamentos.

— Só estou pensando nisso porque descobri sermos almas gêmeas, só por isso...

"Ou porque você não aceita de vez que ele é seu alfa e também que você deveria se aceitar."

Todoroki travou ao ouvir seu lobo o repreendendo, ele estava louco, não? Era impossível ter alguma voz dentro da sua mente. Talvez ele estivesse delirando, era muita informação em tão pouco tempo, tanto que ele sentia a enxaqueca chegando. Chacoalhou a cabeça, tentando ignorar essa voz na sua mente e voltando para o pátio, onde provavelmente estariam seus amigos. Viu de longe, como sempre era, Kyouka e Momo abraçadas, Shinsou e Kaminari aos amassos e Kirishima sozinho, fingindo estar segurando uma vela. Shouto até acharia engraçado se não percebesse o quão triste o falso ruivo estava.

Ao se aproximar, sentou-se ao lado do amigo, tocando em seu ombro e sorrindo de forma contida. Eijirou retribuiu com um forçado e voltou a comer, ignorando o olhar intenso do ômega ao seu lado.

— Kirishima — iniciou, sussurrando para não chamar a atenção dos outros dois casais. — Aconteceu algo?

Eijirou engoliu em seco.

— Hm? A-Ah, não é nada demais.... — respondeu de imediato, desviando do olhar do heterocromático para suas próprias mãos. — Nada... mesmo.

Shouto suspirou, decidido a deixar isso de lado por enquanto, se Kirishima não queria falar, ele não o forçaria, deixaria com que ele falasse espontaneamente. Passou a comer seu lanche silenciosamente, apreciando a companhia de seus amigos — que agora haviam parado com a melação e iniciaram um assunto qualquer —, e, às vezes, olhando de canto para onde sua suposta alma gêmea estava. Tais olhares não passaram despercebidos por Hitoshi, entretanto, ele decidiu deixar isso de lado no momento, tendo em vista que eram poucas às vezes que Shouto se interessava por um alfa, afinal, ele mesmo dizia odiá-los, mas não era como se pudesse evitá-los.