Capítulo único

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Coma.

Coma ela.

Momo suada impõe todo o peso no corpo de outra, paralisando-a. O ringue é pura tensão. A lutadora sairá invicta ou será derrotada?

Ela não sai de cima, a bunda é performática, empina enquanto a adversária abaixo se revira toda.

Apenas coma, coma de uma vez, Hirai.

Os lábios rasgam num sorriso vermelho. O barulho do apito preenche o ringue e o quarto.

Mas nada importa. A comemoração, os aplausos, os punhos levantados. Porra, nada importa!

O tapa faz cada centímetro da coxa tremer, espalhando a formigação pelo corpo todo. O prazer escorre nos dedos e de olhos apertados, sente o nome de Hirai Momo a preencher pelos alto falantes.

Hirai, A Campeã.

Hirai, a que invade seus sonhos úmidos.

Hirai, quem finalmente encontrará.

Para além da tela e paixão platônica, Hirai.

[...]

Hirai Momo espanca o inimigo. Quer dizer, o saco de pancada.

Golpes fortes e certeiros no couro vermelho, sendo sacudido para os lados, foge da violência. Ela vai para cima a fim de quebrar, nem que seja seu punho.

Precisa extravasar a confusão da mente em alguma coisa, sentar e respirar fundo não é do seu feitio. Sendo uma pessoa dos socos e chutes, há mais sentido nos sons de impacto que nos pensamentos da própria mente.

Não conseguir patrocinadores começou a pesar para a campeã. Mesmo com a vitória filmada da última disputa e o desempenho do caralho, não foi o suficiente para avançar passos na carreira. Permanece na pequena academia que iniciou os treinos e além do dinheiro recebido na competição regional, nada mais tinha.

O chute faz voar o saco e voltar com rapidez em sua direção.

Seu rosto não é vendável e sempre teve noção. Alguém que sobrevive apanhando, tem cicatrizes que a maquiagem não cobre. Não é um rosto midiático, muito menos sua personalidade.

A consciência do fracasso lhe revira o estômago.

Quando jurou fazer de tudo para continuar a lutar na Coreia, não cogitava se expor na internet através de dancinhas humilhantes. Deve ser fácil ganhar a vida quando se é prima de algum famoso. Ou quando se sabe usar a porra do Tiktok.

O saco afunda no punho.

"Yah! Se acabar com mais um esse mês, pode ir atrás de outra academia para treinar, Hirai!" A filha da dona do estabelecimento adentra cheia de autoridade.

Momo pula para fora do alcance do saco.

"Só estou treinando, Chou."

A chinesa bufa e balança a cabeça. Os traços delicados da garota não combinam com o tanto de piercings pendurados e a carranca que carrega ao ver Momo. O trabalho de Chou Tzuyu é a supervisionar como faz com um cão incontrolável que vive se lesionando e estragando equipamento, então a japonesa evita reclamar dos olhos rolando a qualquer resposta sua.

"Eu mandei apenas você vir aqui, e não pra ficar socando tudo o que vê pela frente." Ela puxa um dos fios tingidos de vermelho para trás da orelha e digita furiosa no celular.

Hirai devia estar em seu cubículo aquela hora, é tarde da noite de um fim de semana, nada conveniente. De qualquer forma, não é de deixar de atender pedidos. Ou mandados.

Sparring | NamoOnde histórias criam vida. Descubra agora