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Lucius

Sei que a mulher tentou pedir ajuda para o homem que trouxe os medicamentos mas tive sorte que o idiota não percebeu os sinais, ela já está dormindo mas sei que não totalmente, o que mostra que ela também tem um sono leve como o meu, seu rosto tem uma expressão séria mas sei que é jovem, talvez até tendo a idade próxima da minha prima mais velha.

Percebo que gostei de observá-la e até mesmo admirar as nuances do seu belo rosto, por isso decidi que ela vem comigo, não deixarei que fique um minuto longe de mim. Sei que será difícil explicar essas complicações para o meu tio mas nunca fui um homem de tomar uma decisão assim por impulso, sei que há algo nessa mulher que me atrai apenas não sei o que é.

Não é só o fato dela parecer com a minha mãe, tem algo a mais nela que preciso descobrir o que é, uma presença diferente, além disso, ela tem uma correntinha de Sant'Ana igual a que minha mãe tinha, não pode ser apenas uma coincidência, essa mulher foi colocada no meu caminho por algum motivo que preciso descobrir, somente a tendo perto de mim que será possível saber.

- Vai dormir, precisa descansar!

- Não tenho sono, mulher, e você pode parar de fingir que está dormindo. Já percebi que como eu sofre de insônia, não tem que fingir para mim.

Ela virou o rosto para mim demonstrando irritação, mulher difícil, mas logo vou domar essa fera e deixá-la do jeito que gosto, fecho os olhos por um tempo para apenas descansar um pouco. Mas tenho aquele maldito pesadelo novamente, ele me atormenta e não permite que tenha um sono tranquilo, no mesmo instante que acordo vejo a mulher nervosa, algo está errado pois está próxima de mim como se quisesse me proteger.

- O que está acontecendo, mulher?

- Escutei barulho de tiros e homens gritando em outra língua, seria um excelente momento para me contar quem é você. Porque daqui a pouco você não vai ter que se preocupar com quem está atrás de você mas também com os bandidos aqui do bairro. QUEM É VOCÊ, PELO AMOR DE DEUS?

Peguei minha arma colocando a mulher atrás de mim, preciso sair daqui o mais rápido possível mas também tenho que levar a mulher comigo.

- Mulher, quantas pessoas estão de plantão aqui?

- Um médico, uma enfermeira, um técnico de enfermagem além do pessoal da limpeza, deve ter no mínimo 7 pessoas aqui mas porque quer saber.

Talvez se forem profissionais vão evitar mortes para não chamar a atenção portanto tenho que contar com isso para conseguir escapar, vejo um jaleco deixado em cima da poltrona que a mulher estava sentada. Pego já tendo um plano bem arquitetado, com certeza tem muitos deles e preciso sair daqui disfarçado.

- Vai fazer tudo que mandar: me ajude a colocar minhas roupas, depois vai sair primeiro com uma faixa no braço como se estivesse com alguma lesão e fosse uma paciente, vou sair atrás de você vestido com o jaleco assim podemos sair daqui sem criar suspeitas.

- Esse é o seu plano? Ele é péssimo como você, não vou levar um tiro por causa de um desconhecido portanto o plano é o seguinte: você sai, e eu fico, assim vai embora para o quinto dos infernos de onde nunca deveria ter saído e eu fico aqui esperando o Diabo carregar você para bem longe de mim.

Como fica deliciosa quando está nervosa, se estivéssemos em uma outra situação com certeza essa mulher estaria gritando de prazer logo depois de mostrar para ela quem manda mas como preciso agir rápido aponto a arma na direção da sua cabeça, nada que um bom incentivo não resolva.

- Ou seguimos o meu plano, caso contrário, terei que matar você mesmo contra minha vontade, mulher. Agora colabore comigo e faça do jeito que estou mandando para o seu próprio bem.

Ela respirou fundo mas percebi que começou a pegar as faixas para simular um ferimento, logo depois me ajudou com minhas roupas como também a colocar o jaleco, minha sorte é que não havia o nome dela destacado e era bem simples, a mulher abriu a porta primeiro e saiu com a expressão assustada.

Fiquei atrás da porta ouvindo tudo, ela nem sequer andou muito e já foi interceptada por um dos homens que vieram atrás de mim, espero que essa mulher não me entregue pois estou com certeza em desvantagem. Meu tio estava errado quando pensou que matando o traidor resolveria o problema, a situação é muito mais complicado do que imaginava.

Inês

- Viu esse homem?

Acredito que nada poderia piorar mas estava muito enganada, agora tem um homem apontando uma metralhadora em minha direção quase que disparando na minha barriga. Sacodi a cabeça negando que havia visto o homem que estava no quarto, foi nessa hora que o bandido talvez pensou que não era mais útil e estava pronto para acabar comigo.

Nesse momento, o meu maldito paciente deu um tiro certeiro na cabeça do homem, fiquei em choque vendo o bandido cair na minha frente com sangue saindo pelo buraco que a arma fez, mas de algo serviu além de me deixar mais traumatizada do que estou é que agora sei o nome do desconhecido que tive a infelicidade de salvar.

- Lucius Ferrara. Esse é o seu nome, não é?

- Como descobriu, mulher?

- Estava escrito na foto que o bandido que você matou me mostrou, consegui ver que é um empresário do mercado financeiro, como um homem com certeza bilionário está fazendo aqui sendo perseguido por criminosos? Só se você for um criminoso também.

A constatação era estranha mas não surpreendente, quando era menina aprendi a ter foco em coisas supérfluas para distrair a mente de uma situação traumática, foi assim que tirei totalmente o foco do dia que minha mãe me entregou a minha madrinha. Fiquei observando cada detalhe do desenho animado que passava na televisão não dando atenção ao que minha mãe dizia ou até mesmo os hematomas no seu rosto.

Foi assim agora que descobri quem era o homem que salvei pela foto tirada de uma notícia de jornal, Lucius saiu me puxando pelo braço não dando muita atenção ao que falei. Ele pegou a metralhadora do bandido morto e saiu matando todos que estavam a sua procura, infelizmente os criminosos mataram os funcionários da clínica de saúde, somente eu e Lucius havíamos sobrevivido.

Um homem apareceu nos surpreendendo, ele ia atirar em mim mas Lucius entrou na frente levando o tiro no meu lugar, não sei se foi um instinto de sobrevivência ou outra razão absurda mas peguei a arma de Lucius que estava em sua cintura e devolvi o tiro matando o homem. Tive que pensar rápido pois poderia ter mais dos que os dez homens que foram mortos por Lucius e que contei.

Não havia outro lugar para levar Lucius além da minha casa, que Deus me ajude mas não posso deixar o homem que acabou de salvar minha vida sem ajuda. Posso me arrepender pelo resto da vida mas vou cuidar de Lucius mais uma vez.

Destinos Cruzados (Concluído) Onde histórias criam vida. Descubra agora