Você pode enxergar o céu.
Nuvens ralas e de aparência macia e leve passam vagarosamente pela sua visão, elas vem e vão.Você está deitado em uma extensa clareira decorada com seu mato alto e ocasionais flores que dançam com o soprar dos ventos. Seu corpo confortavelmente acomodado se sente em paz por ali.
Deitado sob sua cama de capim, você se sente com o corpo pesado, sua garganta seca e seu abdômen doendo.
Todo o conforto de seu colchão vivo parece não dar conta do desconforto causado pelo seu próprio corpoA paz não lhe é suficiente e você levanta e olha a sua volta.
As arvores por mais distantes que pareçam estar ainda são visíveis e fluem como a relva que você pisa agora.
Olhando para trás você vê uma casa, a sua casa.Com passos calmos você se aproxima de sua casa, seus pés afundam na vegetação mas mesmo assim não tocam o solo.
Sua respiração é leve e tranquila, você aprecia os cheiros que os ventos tranquilos desse dia lhe trazem direto da mata.Chegando em sua morada você toca sua leve porta de madeira envelhecida. Esbranquiçada pelo tempo e pelo tempo. Fragilizadas pelo uso e pelo desuso.
Você a empurra e sente sua aspereza. Ela não possui tranca nenhuma e por mais que suas dobradiças estejam oxidadas sua abertura ocorre com enorme facilidade, que contrasta apenas com o ruído sofrido causado pelo atrito da ferrugem.Sobe um bafo quente vindo do interior, sua casa se mantivera fechada a muito tempo e o clima parece ter reforçado a evidencia de que o ar não estava circulando plenamente em sua residência.
Você entra mesmo assim e para sobre seu tapete. Ele causa uma leve coceira em seu pé graças a palha da qual é feito, de resto outro incomodo não é sentido.
Prontamente uma planta ornamental de belas e grandes folhas amarelas que se encontra próximo a copa lhe dirige algumas palavras:— Você tem sede. Beba!
— Você tem fome. Coma!Obedecendo as ordens solicitadas, você segue andando pelo piso gelado de ardósia que reveste o chão de sua casa. Entra em sua cozinha e então agarra uma garrafa de água aquecida pelo sol jogada em seu balcão.
Colocando a boca do recipiente em seus lábios, é possível sentir o calor do vidro que quase esconde do seu sensorial a água que desce pelo gargalo e garganta.
Você enfim mata sua sede.
Quando se pôde escutar o barulho do fundo de vidro chocando-se contra o balcão, Você para em frente a janela de sua cozinha para observar por mais um tempo a relva brilhante que se move conforme o vento leva. Uma linda visão que te leva a momentâneos devaneios.
Outra vez se escuta a voz:
—Você está com calor. Abra!
Obedecendo novamente, suas mãos se erguem na altura dos vidros e os puxa para liberar a entrada do ar, que entra com força e segue cortando por entre suas curvas.