perguntas fragmentadas. A única coisa existente entre nós eram perguntas fragmentadas. Não existia uma única razão, uma única condição, uma única sincronização entre os nossos corações. Na nossa relação tu eras espectador, e, então, eu amava pelos dois. Amava pelos dois, sem nem conseguir amar-me a mim pelo que sou. E, ainda assim, da nossa relação amei tudo o que restou. Alguns atrevem-se a dizer que o produto da nossa conexão gerou uma imensidão de vazio, mas, lá no fundo, eu sei que existe mais do que isso. Pelo menos, outrora, existiu. Não te culpo, afinal na nossa relação eras cego, surdo e mudo, e tiveste que te desfazer pouco a pouco para te encaixares no meu mundo, mas sinto que ainda assim devias considerar-te um sortudo. No final do nosso amor, eu não sentia nada, mas puro rancor. Rancor por não te ter respondido a todas as tuas perguntas fragmentadas. Rancor por não te ter amado, a ti, amor, o suficiente para monta-las, uma a uma, até conseguir, por fim, uma pergunta inteira, algo que tu tivesse a certeza de que querias perguntar. Mas agora, já no final de tudo, cansei-me e desisti de tentar. As tuas perguntas fragmentadas acabaram-se, e, destinadas, partiram para um outro alguém, alguém que certamente te dará respostas, as quais eu nunca conseguiria encontrar. As tuas perguntas acabaram por me fragmentar também, e, agora, percebo que não fui ninguem. Ser ninguém no meu mundo já é suficiente para se ser alguém, e por isso, considero-me alguém. Mas de qualquer das formas, amor, já parti, e sei que em breve tu vais partir também. Pode ser que exista o além, e que lá nos encontremos, mas, por favor, não as tragas. Não suporto mais as flechadas que levei pelas tuas perguntas fragmentadas.- por kina.