Chapter XXVI

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Episode: Je te Laisserai des mots - Patrick Watson

Com o amanhecer mais ensolarado que o costume, Louis despertou primeiro.
Despertou primeiro e totalmente suado, não só pelo calor infernal que fazia no celeiro sem qualquer ventilação, mas muito porque havia um corpo grande abraçado ao seu.

Ele sorriu para a situação.

É engraçado como tudo é uma questão de contexto.

Desde os seus dezoito, quando começou a namorar novamente - primeiro Josef e depois Grey - Louis descobriu que não era um grande apreciador de dormir junto com quem se relacionasse. Ele gostava de ter espaço para se mexer, não se sentir sufocado de madrugada, movimentar-se livremente na cama.

Era perceptível como Harry seria uma exceção na maioria das coisas que passar com outros rapazes o desagradava. Talvez sua amargura pós sumiço do cacheado tenha contribuído para que ele cristalizasse algumas barreiras afastando sutilmente pessoas de si.

O ser humano e essa mania de trancar as portas para todos os próximos convidados depois que uma visita marcante foi embora.
E então, permitir que os demais o acesse somente através das janelas que ainda não foram gradeadas.

É meio injusto que estes convidados consigam apenas espiar o que há no interior do outro pelas frestas e vidros, sobretudo quando o motivo desse bloqueio é o pavor que novas visitas adentrem, especialmente porque a última levou tudo que havia ao sair e deixou o lugar vazio.

É doloroso e desafiador se libertar do trauma de ver alguém partir, sabendo que junto irão todas as coisas que mais importavam enquanto este esteve aqui. Mas, uma vez que se entende que você precisará reabitar o interior porque aquele lugar é seu único abrigo, então fica mais fácil de preencher o vazio com novas importâncias... até que... até que quem sabe, criar coragem para receber a próxima visita pela porta principal.

Louis pensava sobre isso enquanto Harry roncava baixinho em seu peito.
De certo modo ele se arrepende por nunca ter reaberto as portas depois que o mais novo foi embora. O vazio foi tão dilacerante e visceral que ele se relacionava com as pessoas através das janelas.

Mesmo sentindo-se apaixonado, ganhando confiança e vivenciando relacionamentos, ele nunca mais conseguiu permitir que ninguém entrasse de verdade.

E isso era muito perigoso, porque certo, ele reencontrou Styles - ainda que nas condições atuais - e este jovem tinha a chave mestra para acessa-lo. Harry reabitou o espaço de maneira a parecer que nunca nem saiu, entrou como se não houvessem portas, trancas e fechaduras.

Mas... mas e se este não tivesse sido o desfecho?
E se jamais reencontrasse Harry, ou ainda pior, perdesse-o novamente?
Esta seria sido a mecânica de sua vida? Consentir que os outros se relacionassem com nada além de fragmentos seus?

Com Josef isso foi mais justificável, porque o baque tinha sido recente e a dor era muito fresca naquela época. Além de que Louis era mais jovem e meio imaturo para relações do tipo.

Mas com Grey é onde doía.
Doía porque sempre esteve claro o quanto o outro se dispunha a ser um bom amigo, compreensível pelas suas cicatrizes e parceiro para batalhas diárias.

Grey entrou na sua vida e, mesmo sabendo que a casa estava fechada para visitantes, ele aceitou decorar o jardim. Iluminou seus arredores e regou as flores de fora que Louis sequer cuidava.

Uma vida universitária fora da cidade em que residia pareceu como a oportunidade de mergulhar em algo novo. Reencontrar-se e refazer-se.

Aquele menino alto e magro com cabelos platinados que também estava encarando uma outra realidade longe da família, precisou de Tomlinson tanto quanto Tomlinson precisou dele.

Harry in Wonderland  [❀ls fanfiction ❀]Onde histórias criam vida. Descubra agora