Portões da ironia

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Reis e rainhas estão mortos

Sobrou até para o Papa

Artistas deixaram de cantar

Famílias se abraçaram pela última vez

Milhões ficaram pelo ano

Um ceifador microscópico

Filas intermináveis em portas celestiais

Anjos da morte incansáveis trabalham

A serviço do inevitável


Tão conhecida pelo homem

Ao mesmo tempo tão estranha

Tão natural, tão mortal


Tão certa e ainda assim, amedrontadora

Como podemos ainda temer

Algo tão previsível,

Simplesmente inevitável?

Sonhamos com portões dourados

Mas tememos sermos chamados

Até a quem espera o nada

Teme a tal porta escancarada


Talvez seja por isso

Seja pelo nada

É estranho o não conhecer

Seja pelo eterno

É estranho deixar de ser


Aos que foram, basta atravessar

Aos que ficam, resta chorar

Chorar pelo ramo arrancado

E no fundo, desejar

As chaves do cadeado

Que jaz nas mãos

Do único genuinamente amado

Aquele que diante de tal portão

É dono e guardião



100 poemas de um paraquedista sem chãoOnde histórias criam vida. Descubra agora