A escuridão reina no salão ovalado, quando a mulher, trajando um vestido vermelho rendado, entra elegantemente no espaço. Então, uma luz tênue de cor âmbar forma um círculo sob seus pés. A "Matriz", como é conhecida, diz:
— Aqui estou.
Então, luzes brancas surgem em espelhos ovalados no salão, todos dispostos perfeitamente numa forma pentagonal ante a porta de acesso do local. Nas paredes curvadas, as luzes ganham formas gasosas e estas se moldam em seres humanoides, que mais lembram fantasmas. As "aparições" de modo algum assustam a mulher, que observa a forma centralizada logo a sua frente.
Após moldarem-se como se fossem humanos, ainda que seus corpos gasosos pareçam desvanecer limitadamente, um dos cinco seres, o que está ao centro, diz:
— Saudações de Horon.
A mulher curva-se rapidamente e responde:
— Saudações patriarcas.
— Qual o progresso da missão diplomática?
Com algum desconforto, ela inicia:
— A primeira missão da Manur falhou. Ela desapareceu e seu sinal foi perdido.
Os olhos espelhados da criatura, cujas órbitas pareciam uma mistura gelatinosa de cor preta e branca, expressou preocupação. Flutuando em sua forma de condensado de Bose-Einstein, o líder do grupo a questiona:
— Como isso aconteceu?
— Ainda não sabemos, mas ela simplesmente deixou de comunicar-se e seu neuro-transmissor foi desligado ou destruído. Tentamos religá-lo, mas foi inútil.
Um dos seres, que move suavemente os braços para se estabilizar naquele espelho côncavo, que lembra uma cela, faz uma pergunta:
— Você suspeita de alguém, em especial?
A mulher vira-se e o encara, respondendo:
— Sim, acredito que fora inicialmente sequestrada pelo governo do país chamado Peru, onde estava. Mas, desconfio que seja a CIA por trás disso.
O líder faz uma nova questão:
— O que é CIA?
— É uma agência dos Estados Unidos da América, que atua fora do país. Uma central de inteligência...
— Não é o país de onde você veio, Rebecca? — indaga o quinto dos seres.
Sentindo indignação pela lembrança de um dos patriarcas, Rebecca Curtiss contém seu sentimento e responde prontamente.
— Os Estados Unidos não são mais a minha nação. Ela está aqui...
Os seres parecem satisfeitos com a resposta, pois, exibem sorrisos comedidos, porém, o segundo, contando da esquerda para a direta, muda a postura e volta a questão da audiência.
— Rebecca. E quanto às demais?
— A missão da segunda Manur continua, senhor.
— Isso é ótimo! — exclama o líder.
— Então, os filhos de Horon logo estarão na Terra — comemora o primeiro da esquerda para a direita de Rebecca.
Ela olha para a ele e sorri.
— Dimur, os deuses de Horon e o Superior estão conosco!
— Glória aos deuses de Horon e ao Superior, o último! — bradam todos, inclusive a morena.
— Dimur, Selesto, Baltrom, Filus e Ditrus, não importa o quanto terei de me esforçar, mas essa missão será um sucesso.
O líder Baltrom então diz:
— Que "eles" ouçam sua afirmação Rebecca. Estaremos contigo sempre!
— Salve, patriarcas!
— Salve, Rebecca! — respondem em uníssono.
Então, as formas fantasmagóricas dos patriarcas materializados dos filhos de Horon desaparecem. Rebecca, agora mirando o âmbar perto de seus pés, sabe que os traí com a mentira. A missão, está longe de ser um sucesso...
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Passados 30 dias, Rebecca Curtis é acordada novamente. Desta vez, não tem tempo para sua matinal masturbação, sempre evocando a memória de Freedie. Manur, a quinta, lhe avisa que o prazo dado pela segunda, por meio da ISA, expirou.
— Filha, ainda não chame suas irmãs. Reative a comunicação com a ISA.
O clone de Rebecca inicia os procedimentos holográficos para acessar a comunicação com a inteligência artificial do módulo número 2, pousado junto à Serra do Mar, no litoral paulista. ISA, prontamente responde ao comando de acesso, enquanto os olhos azuis da mulher estão esperançosos de uma boa resposta.
Manur, a quinta, inicia o diálogo com ISA:
— ISA, iniciar comunicação com Matriz.
"Comunicação estabelecida".
— ISA, inicie comunicação com...
— Pare!
A ordem de Rebecca surpreende a moça, que se detém.
— ISA, aqui é a Matriz. Reproduza os dados médicos do piloto.
A jovem, ao lado, olha com estranheza da ordem dada à IA da nave, já que inicialmente imaginou que se daria primeiro a comunicação com a tripulante.
"Iniciando transmissão de dados médicos do piloto".
Imediatamente, várias telas holográficas em tons de verde, vermelho e laranja são projetados no centro da sala. Como páginas de uma tela de smartphone, são devidamente distribuídas por Manur, a quinta. Ansiosa pelos resultados, Rebecca Curtiss acompanha cada movimento e não percebe que seus batimentos cardíacos se alteram rapidamente.
Ela pressiona os lábios inferiores com os dedos enquanto seus olhos movem-se aceleradamente diante da holografia. Então, "quinta" se detém e o espanto em seus olhos denota sua surpresa, logo notada por Rebecca.
— O que foi filha?
— Tem algo errado...
— Como assim?
— Os dados estão errados, são de uma pessoa normal...
— Do que você está falando?!
Manur, a quinta, olha para o piso escuro da nave e em sua mente racional, tenta encontrar uma explicação para aquilo.
— Quinta!
Desperta pela "mãe", a jovem se assusta e diz:
— Mãe, olhe essa tela...
A moça arrasta uma tela de tom avermelhado e nela há uma imagem tridimensional de um embrião humano vivo. Rebecca, ao notar esse detalhe, deixa o queixo cair e seus olhos saltam das órbitas para o inacreditável, o impossível.
— Olhe mãe! Esse é o corpo da segunda, mas ela está em estado gestacional. Isso é...
— Impossível...
O coração de Curtiss dispara e sua pressão rapidamente cai... Sentindo tontura, Rebecca se desvencilha e é rapidamente sustentada pelos braços incrivelmente fortes do clone ao lado, que a chama desesperadamente: