[este capítulo é narrado no ponto de vista de Castiel O_O]
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Um alfa não deve pensar em si mesmo. Um alfa não cogita as opções e pondera a respeito do melhor caminho. Não é dever de um alfa pensar. Seu dever é agir.
Se é lhe dito: proteja. Então, ele deve proteger. Ele vai proteger mesmo que isso custe tudo.
Se é lhe dito: mate. Então, ele matará pelos seus. Sem hesitar.
E se é lhe dito: seja forte. Então, um alfa jamais deve demonstrar fraqueza.
Não deve chorar. Não deve ceder. Não deve vacilar, baixar ou guarda, ou mostrar-se vulnerável.
Um alfa é metade de um homem. Um alfa é pedaço homem e majoritariamente animal. Dizem isso sobre os ômegas. Dizem que eles são frágeis e precisam se submeter. Mas um alfa se submete a tudo e não permite a si mesmo. Jamais. Ele deve por todos que ama diante de si mesmo, e, caso não os ponha, não é digno de honra.
Um alfa é um soldado. Um bom soldado. Sua afeição e elo o tornam dependente. Seu amor e devoção, decadente.
Um alfa não pode amar. Pois, quando ama, a cegueira devora a tudo e ele se torna incapaz.
Incapaz é como me sinto quando sei que o levaram. Quando os gritos de Hannah ecoam no corredor e ela entra em pânico. Sai dali enfurecida, transtornada, aterrorizada. Está gritando coisas e uma delas é que o filhote foi levado para longe.
Que o lacaio fugiu.
Que o leito está vazio.
Um alfa que não cumpre seu dever não é digno de respeito.
É meu dever protegê-los. Estou falhando miseravelmente nisso.
"Alguém o levou, Cas!", Hannah grita para mim, enquanto Olhos invadem o leito, já encontrando-o vazio. Hannah me bate e me abraça, em desespero, e não é como se eu não esperasse que algo assim fosse acontecer. Sempre devemos estar preparados para imprevistos. "Cas, levaram meu bebê..."
"Shh", tento acalmá-la, afastando-a de mim para que consiga ter acesso ao leito, onde os Olhos acionam reforços e informam ao sistema que um ômega lacaio fugiu do Hospital St. James. "Qual o procedimento agora, Olho?", pergunto a um deles.
"Estamos acionando as equipes de busca, senhor"
"Castiel!", Bobby aparece ali, espantado e nada calmo. "Um caminhão deixou o depósito há alguns minutos, eles devem estar no caminho para algum esconderijo"
"Ótimo...", apenas olhos para Bobby, porque nós dois sabemos que jamais tentaríamos tirar o ômega e o filhote de Gilead com tamanha imprudência. "Olhos...", viro-me para eles. "Acionem intervenções nas rodovias num raio de nove quilômetros, eles ainda devem estar perto, chequem a carroceria de cada caminhão, e o porta-malas de cada veículo"
"Sim, senhor", um deles me responde.
"Você", chamo um deles. "Leve minha esposa para casa, eu tenho que ir a um lugar"
"Senhor, o protocolo diz que o senhor deve apresentar explicações ao Estado em caso de insubordinação dos seus protegidos..."
"Está me desafiando, Olho?", dou um passo na sua direção, impondo minha autoridade sobre ele. "Faça o que estou lhe dizendo"
Irrompo porta afora, observando rapidamente o Olho levando Hannah em outra direção, enquanto corro pelos corredores e desço as escadarias principais em direção ao estacionamento. Passo pelo saguão e saio do prédio, arrancando com o motor do meu carro assim que consigo por a cabeça no lugar.
John Winchester vai me matar por tê-lo perdido de vista.
Dizem que os alfas naturalmente tendem ao narcisismo e a arrogância, mas eu discordo. Acho que estamos tão perto da submissão cega quanto os ômegas. Por mim, jamais teria aceitado o posto de guardião do filho de John Winchester, mas era uma tarefa importante no meio de uma sutil rebelião.
Resgatar o ômega saudável e com vida de Gilead tornou-se um ponto importante para a causa, um símbolo de que o sistema seria falho, e de que nós estamos no controle, infiltrados e muito bem preparados para a guerra.
Como um senhor alfa, eu diria que atuei bem. Quando o ômega foi levado até mim, um pequeno jogo imparcial de escolha com a ajuda de Hannah, é claro, eu não imaginava que tudo poderia ser tão... difícil. Ele jamais poderia saber do plano, uma vez que saber o colocaria em uma posição de risco. Então, éramos apenas senhores alfas e um lacaio fértil jogando o jogo deles.
Porém, é claro, nada foi como o planejado. As coisas mudaram. Hannah se tornou obcecada pela ideia do filhote. E eu me tornei obcecado por ele.
Dean.
Se tem algo que me ensinaram sobre os alfas, é que eu não poderia ter evitado me apaixonar. Assim como Dean também não poderia. Estava além do nosso controle, sim. Mas sei que, se eu tivesse conseguido retirá-lo de Gilead antes de nós realmente irmos mais adiante, tudo teria sido mais fácil.
Eu tentei, é claro. Tentei salvá-lo antes que me envolvesse demais. Mas haviam outras rebeliões acontecendo, ataques terroristas de minorias se erguendo contra Gilead, ataques estes que nem tinham ordens de John, mas eram sutis demonstrações de que muitos aderiam à causa.
Libertar o povo. Reimplantar a constituição e o sistema político americano.
Salvar os ômegas férteis dos centros vermelhos.
O que fazemos é maior do que nós, e por isso eu tive que esperar a hora certa. Mas então eu me tornei total e irrevogavelmente apaixonado e dependente dele como um cão fiel e tive que fazer outros planos e improvisar. Ainda mais quando o filhote se tornou uma realidade do futuro a curto prazo. Eu mal poderia suportar a ideia de perdê-los se algo desse errado.
Então enviei um recado a John durante minha ida ao Canadá, onde eu prometi que Dean seria salvo após o nascimento de bebê, quando seria mais seguro criar uma distração.
A ida ao Canadá não foi como o esperado, é claro. Mary Winchester não me conhecia e me agrediu como um devoto dos Filhos de Jacó, e não foi fácil convencê-la de quem eu era, até que John enfim revelou nossas intenções e planos. Havia esperança.
Há esperança.
Estaciono o carro na entrada do prédio de contabilidade e registro de produção agrícola onde Ishin trabalha, porque sei exatamente que isso é tudo deve ser coisa dele, e não espero em invadir o saguão e ignorar as reclamações da recepção enquanto subo as escadas, me apressando para chegar ao escritório.
"Ishin!", grito já no corredor, também ignorando os funcionários betas me reclamando coisas, e empurrando a porta de seu escritório, encontrando-o atrás de uma maldita mesa, como se nada estivesse acontecendo. "Onde ele está?"
"Cas!", sua voz cínica me deixa enfurecido. Algo dentro de mim ferve de ódio. "O que está fazendo...?"
"Seu filho da puta", rosno inclinando-me sobre a mesa e puxando-o pela gola. "Onde ele está? Onde levou o meu ômega?"
"Seu ômega?", ele começa a rir. O maldito ri. Desgraçado. "Ora, o que aconteceu, ele fugiu?"
Seguro a base de sua nuca e empurro seu rosto contra o vidro da mesa, fazendo-o sangrar sobre os papéis. Suas mãos tentam me parar, mas as minhas o puxam, o nariz quebrado dele pingando sangue quando o jogo contra a parede mais próxima, como se ele fosse de papel.