Ele

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Eu o odeio, como nunca odiei alguém na vida. Tudo nele é um problema para mim. A forma rude e ignorante que ele profere as palavras agressivas em direção a mim, apontando o dedo no meu peito sem nem um sinal de medo. Ele me testa, quer competir comigo e com minha autoridade.

            - Eu não trabalho para você!- ele sempre grita quando dou meus olhares altos- Você não é nada acima de mim!
             Eu sei que não sou, isso que me irrita, pois ao sermos iguais, seu respeito passa longe de mim. Já tentei de tudo para que ele me tema, que me respeite. Não peço muito, apenas que ele cale a boca quando eu quero e que não encha a porra do meu saco quando estou ocupado. Não é uma tarefa difícil pra ninguém, mas ele se recusa a fazer, pois sabe que me irrita e ele vive para isso, para me tirar do sério.

            Sempre me mostra os dentes, como um cachorro raivoso. Seus caninos afiados me chamam a atenção, parecem com os meus, só que muito mais afiados. Ele falta rosnar, não me impressionaria se fizesse. Estou acostumados em vê-los, me ameaçando como se ele fosse me dar uma mordida a qualquer momento e arrancar um pedaço do meu braço. Sempre tenho raiva dele quando faz isso, tenho vontade de socar sua boca e quebrá-los todos, deixá-lo sem nenhum para que aprendesse a se colocar em seu lugar.

            Mas um dia, ele fez algo que nunca tinha feito para mim antes. Fez meu coração falhar uma batida, minha respiração travar e por um momento eu não queria que ele calasse a boca. Ele sorriu para mim. Mostrou todos os dentes que eu almejava quebrar com os punhos. Sua boca carnuda realçava a cor deles, que não eram tão brancos como os de modelos ou coisa parecida, mas nem amarelos ao ponto de ficarem feios. Tinha marcas levemente mais claras no meio deles pelo aparelho que usou por muito tempo na adolescência, mas seus dentes eram perfeitamente alinhados. Era lindo, de verdade. Quando aconteceu, fiquei totalmente sem reação, nem piscava. Tinha acabado de voltar de uma viagem longa, meio ano na Noruega resolvendo problemas e evitando uma possível guerra. Já lhes havia avisado que tinha a possibilidade de eu não voltar, pois corria risco de vida caso não conseguisse impedir o conflito. Quando cheguei, ele que abriu a porta para mim. Quando me viu, abriu um sorriso enorme e pude vir lágrimas na borda de seus olhos.

           - Você está vivo...
         Ele me disse, ainda com os cantos da boca levantados, se não fosse por isso, teria certeza de que ele estava triste.

             - Pois é...meio estragado mas estou.
             Respondi, ainda levemente impactado com sua reação. Eu tinha um braço enfaixado e muitos pontos pelo corpo. Tinha levado um tiro no joelho e tive que fazer uma cirurgia, então estava de muletas. Tive muitos problemas com atentados terroristas em meu território, tentativas de assassinato nessas situações são recorrentes, principalmente comigo, por ser o líder.

              - Que bom...ficamos preocupados com você.
               Ele admitiu, parecia envergonhado, mas ainda sim tinha um leve sorriso no rosto. Ele pegou minha mala e se afastou para que eu pudesse entrar. Edd veio correndo da cozinha, gritando por Matt para que ele viesse me ver. Me lavaram todos pra a sala e lá ficamos por um bom tempo. Estava feliz de ter voltado. Apreciava um bom chá, apenas eu e ele na sala. Edd havia saído com Matt para buscar alguns remédios na farmácia que eu teria que tomar durante todo o mês.

                - Senti falta daqui- eu comentei, suspirando fundo- a guerra é horrível, é sempre bom estar de volta em casa.
             Ele concordou, me encarava muito. Eu poderia dizer com certa dificuldade pela coloração de seus olhos que ele está...aliviado. Parecia agradecer por eu estar ali, por ter voltado e ter essa sensação me deixou ainda mais abalado em relação a ele. Aquele sorriso, que recebi ao chegar, era de alívio. Ele me queria vivo.

Tordtom one-shotOnde histórias criam vida. Descubra agora