Capítulo 6 - Meu docinho

524 85 446
                                    

Os dias foram passando e minha amizade com a Rosa só foi crescendo. É uma pena ter que dividir meu tempo entre ela e o Nathan, mas já vi que não tenho outra opção. Também tenho conversado com o Theo durante os nossos intervalos de aula. Ele me apresentou uns amigos, e eu apresentei para ele uns colegas que conheci, da minha turma, a Érica e o Jadson. Sempre ficamos no grupinho conversando, no pátio, até dá o horário da próxima aula.

Mas, de todos, quem eu fiquei mais próxima foi do Carlos. Ele finalmente parou de dar em cima de mim e agora até me pede conselhos amorosos sobre com qual menina ele deve sair.

Nossa amizade se deu porque numa noite estava acontecendo uma calourada e eu fiquei observando a festa, da janela do meu quarto, que fica bem em frente à praça cheia de arbustos que eu costumava ficar admirando a paisagem.

O barulho não me incomodava e eu gostava de ficar vendo o comportamento das pessoas. Me ajudava a compreender o mundo.


FlashBack

Foi quando vi o Carlos arrodeado de meninas, todas conversando, rindo e tocando nele. Fala sério, tem coisa mais chata do que te fazerem de touch screen? Notava que ele ia para um lado, e elas o seguiam. Ele ia para o outro lado, e o mesmo acontecia. Um tempo se passou e a situação continuava a mesma.

Em determinado momento, ele olhou para cima, na direção da janela do meu quarto, e me viu rindo da cena, então sorriu e juntou as duas mãos, como se estivesse rezando, me pedindo ajuda, por favor. Eu ri mais ainda, mas me compadeci do ''sofrimento'' dele. Desci as escadas e fui até lá.

Apesar do horário, o caminho foi bem tranquilo porque a rua estava muito movimentada devido à calourada. Passava por pessoas rindo, grupinhos de amigos dançando e casais se beijando.

Na hora em que cheguei, o Carlos me puxou rapidamente e ficou com o braço em cima do meu ombro, me abraçando de lado.

— Já conhecem minha namorada, meninas?

Ele me apresentou para duas meninas que estavam conversando com ele agora. Elas me olharam, como se quisessem me matar. O que me deu a maior vontade de continuar a farsa.

— É um prazer conhecê-las. — e, virando para o Carlos, disse — Amor, você está tão lindo hoje. Qualquer menina poderia dar em cima de você. Ainda bem que você é comprometido. — Apertei as bochechas dele — Não é mesmo, garotas?

— E-Err... é claro. — elas responderam, com um sorriso falso.

Então, prossegui — Amor, estou exausta. Você me acompanha até o quarto?

— É claro, sua companhia sempre me alegra, meu docinho. — Ele acenou para as meninas e nós saímos de lá.

— Você me deve agora. — Olhei para ele, vitoriosa, enquanto nos afastávamos da festa — E por que não queria nenhuma, afinal?

— Fala sério, você olhou para elas?

Eu sorri, mas não entendi o que ele quis dizer com aquilo. Achei as garotas lindas.

Fomos conversando sobre coisas aleatórias até chegar no meu alojamento, que ficava a dois quarteirões da praça.

— Não precisava ter vindo realmente me deixar até aqui. — falei — Não está perigoso, nem nada.

— Claro que precisava. Não é seguro moças bonitas andarem pelo campus desacompanhadas a essa hora. — Eu fingi não ouvir o elogio.

— Bom, eu te vejo por aí. — E, acrescentei, brincando — Namorado.

Ele riu.

— Até mais, meu docinho. — Ele me deu um beijo na bochecha, digamos próximo até demais da minha boca, e foi embora.

-


Estava pensando nisso, enquanto ia em direção à biblioteca, quando alguém tampa meus olhos, com as duas mãos.

— Ei, seja lá quem for, cuidado com os meus óculos. — bufei.

Normalmente uso lentes de contato, mas tem dias que a preguiça é maior e só coloco meus óculos vermelhos mesmo. Também não é como se eu fosse cega, só tinha 2 graus de miopia em cada olho.

Olhando para trás, me deparei com o Theo e o Carlos.

— Só podia ser a dupla dinâmica. — zombei deles.

— Quem te viu, quem te vê, mocinha. Onde estão seus modos? — brincou o Carlos.

— Deve ser as más companhias que estão influenciando ela. — rebateu o Theo.

— Muito engraçadinho vocês dois. — Fiz uma careta.

— Vai fazer o que agora, meu docinho? — Desde o dia da calourada, o Carlos só me chama assim agora.

— Estava indo na biblioteca pegar um livro e ver o Nathan. — falei, sabendo que eles não iam gostar da minha resposta.

Como previsto, os dois reviraram os olhos. Então, eu completei.

— Olha, já falei para os dois como o Nathan é importante para mim. Querendo ou não, um dia vamos ter que sair todos juntos. Vocês são meus ''miguxos''. — Fiz um coração com as mãos, para que a sentença fosse ainda mais cômica.

Eles riram.

Logo, Carlos pegou o celular dele e me mostrou a foto de três meninas, perguntando qual era a mais ''gata''. Notei que o Theo ficou meio incomodado, mas achei que não fosse nada.

Como já tinha mais intimidade com eles, resolvi brincar — Gata... gata, aqui, só eu, né!? Mas... essa aqui é a menos feia. — falei, apontando para a foto de uma menina morena com cabelos trançados. Ela era linda.

— Então, será ela a felizarda de hoje à noite. — Ele sorriu.

Esse Carlos não muda.

— Bom, rapazes, tenho que ir. O Nathan, meu BFF — Falei de propósito e, como esperado, eles reviraram os olhos mais uma vez — está me esperando.

Abracei os dois, me despedindo, e fui em direção à biblioteca.

Quando dobrei o quarteirão, tropecei na calçada e minhas coisas caíram no chão, perto de uns arbustos, então me demorei um tempo lá, juntando tudo. Desastrada é pouco.

O Carlos e o Theo estavam andando pela calçada e eu pude ouvir um pouco da conversa dos dois.

— Cara, por que você sempre inventa essas coisas para ela? Não seria mais fácil dizer a verdade, que desde que a conheceu não ficou com nenhuma menina? — perguntava o Theo, parecendo meio triste.

— Sei lá, na hora eu fico nervoso e não consigo. — respondeu o Carlos.

— Nunca te vi assim antes... — constatou o Theo. — É sério o que sente por ela?

— Sinceramente, nem eu sei o que sinto. — Ele baixou a cabeça — Mas, com certeza, ela é minha melhor amiga. — E o Carlos saiu andando na frente.

— Minha também. — Sussurrou o Theo para si mesmo, e seguiu o amigo.

Eu fiquei ali, parada, sem reação, absorvendo tudo o que tinha escutado, e se tinha entendido direito o que acabei de ouvir.

Aconteceu na faculdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora