Amarelo III 🌼

1.5K 250 35
                                    

- Dona Ana, as bebidas que chamamos de batizadas são bebidas que foram acrescidas algum tipo de substância, adulterando seu efeito normal - o médico explicou. Estavam no corredor do hospital, entendendo o que havia acontecido com Emmy.

- Mas porquê Emmy beberia isso? - Ana perguntou, incrédula.

- Não é possível diferenciar se uma bebida foi adulterada ou batizada, não há mudanças nos seus aspectos visuais, odor ou paladar. Ela pode ter aceitado, achando que era uma bebida comum. Jenne disse que não tinha cheiro diferente.

- Como ela está agora?

- Dormindo. Administrei dois remédios, um para parar as convulsões e outro para cortar o efeito da droga no organismo dela.

- E depois? Como ela vai ficar?

- Felizmente, fizemos o exame de ressonância magnética e não houveram sequelas no cérebro de Emmy. Então, essa convulsão foi apenas por causa do corte do efeito dos medicamentos anticonvulsivantes que a droga criou. Ou seja, é só continuar com o tratamento dela normalmente e tudo ficará bem.

- Vou vê-la, tudo bem? - Ana perguntou.

- Sim, claro. Fique à vontade.

Entrando no quarto, Ana se deparou com Jenne, a garota segurava a mão de Emmy, sua cabeça tombava contra suas mãos e ela chorava.

- Jenne, precisamos conversar - Ana falou, ríspida.

Jenne, já imaginando o conteúdo da conversa, deixou um beijo demorado na mão de Emmy, levantou e virou-se para a mulher, enxugando as lágrimas.

- Sim? - Jenne perguntou, num fio de voz.

- Você, Lily, Leah e Nina foram muito imprudentes essa noite.

- Sim, dona Ana, me desculpe - Jenne pediu.

- Eu pedi para que vocês se cuidassem, que não deixassem Emmy só. Você sabe como ela é ingênua, imagina se você tivesse demorado mais tempo no banheiro.

Jenne fechou os olhos, se martirizando com a possibilidade de algo pior ter acontecido com Emmy.

- Ela está bem? - perguntou - vai ficar bem?

- Sim, por sorte essas convulsões foram só por causa do corte do efeito do medicamento dela - Ana parou um pouco para pensar no que estava prestes a dizer - vamos ter que tomar algumas medidas quanto a isso.

- Algumas medidas? - Jenne se afobou - como assim?

- As aulas de vocês terminaram, então eu não tenho mais que me preocupar com Emmy no internato. Mas ela não vai mais poder sair com vocês - falou, com dureza.

- Mas dona Ana, como vamos vê-la? - Jenne argumentou.

- Vocês são bem vindas na minha casa. Fora isso, Emmy ficará em casa, onde estará segura e...

- Isso não fará bem a ela - Jenne sussurrou, mais para si, do que para Ana.

- E o que faria bem a ela? Sair por aí correndo riscos, Jenne?

- Eu sinto muito - Jenne secou uma lágrima insistente.

- Eu quero que você diga à Emmy que essa ideia foi iniciativa sua.

- Mas dona Ana, eu...

- Ou você não será mais bem vinda na nossa casa.

Jenne suspirou, aceitando a derrota.

- Tudo bem.

- Hey - Emmy sussurrou para Jenne, que se encontrava sentada na cadeira ao seu lado, de olhos fechados, pensando em tudo que havia acontecido naquela noite. Já era madrugada, Ana havia saído para buscar roupas para Emmy em casa.

- Meu amor - Jenne levantou, pegando a mão de Emmy - como está se sentindo?

- Mal - Emmy falou, tristemente.

- Eu vou chamar o médico - Jenne se preocupou.

- Não, não é isso - Emmy disse - é que estou me sentindo mal por ter estragado a noite.

- Não, amor - Jenne beijou a testa de Emmy - você não estragou nada, eu que fui descuidada, te deixando lá fora sozinha.

- Mas eu já sou uma menina grande, Jen - Emmy falou - eu tenho que poder ficar só.

- Olha - Jenne começou, fazendo carinho no cabelo de Emmy, sentindo uma dor quase literal em seu peito por dizer o que estava a ponto de dizer - eu acho que por enquanto o melhor a fazer é a gente ficar se vendo só na sua casa.

- O que? Por que? - Emmy perguntou, sobressaltada.

- Acho que é o mais seguro e...

- Não! - Emmy se exaltou - não é só você quem decide isso e eu estou dizendo que não!

- Mas amor...

- Jenne, eu não quero ficar só em casa, não quero viver assim. Eu quero ir com você no Starbucks, quero ficar debaixo de uma árvore qualquer desenhando enquanto você me olha como se eu fosse mesmo interessante, quero ir no parque, sair para dançar, para tomar milk shake, sorvete...

- Amor... - uma lágrima solitária desceu pela bochecha de Jenne. Era tudo culpa dela, afinal.

- Não me diga que não, eu não vou aceitar, a menos que você tenha um bom motivo.

- Sua segurança - Jenne mentiu.

- Você não me impediria de sair de casa por medo de uma coisa que tem baixas chances de acontecer - Emmy disse, certeira - você tem uma moeda para me emprestar? Quando eu chegar em casa, eu te pago.

Jenne mexeu dentro de sua bolsa, tirando algumas moedas e entregando a Emmy.

- Tome.

- São minhas?

- Sim.

- Então, pegue minhas moedas, me dê seus pensamentos - Emmy devolveu as moedas.

- Foi a sua mãe - Jenne disse, por fim, caindo no encanto da frase de Emmy, pegando de volta as moedas que a garota lhe estendia.

- Foi a sua mãe - Emmy repetiu, num fio de voz, tentando digerir o que acabara de ouvir.

- Ela disse que nós só poderíamos te ver se fosse na sua casa, então tudo bem, amor. É, tudo bem. Contanto que estejamos juntas, não importa para onde vamos, não é? - Jenne perguntou, acariciando o rosto de Emmy, que agora chorava.

- É - Emmy respondeu, engolindo as lágrimas.

- Não importa onde for, se tiver você, está bom para mim.

- A gente pode desenhar em casa ou pedir um milk shake em casa ou você pode trazer um sorvete, não é? - Emmy soluçou.

- Sim - Jenne beijou o rosto de Emmy - claro que podemos.

- Deita comigo? - Emmy pediu.

- Até a enfermeira pedir para eu descer da cama - Jenne respondeu, subindo no espaço que Emmy estava dando.

- Obrigada por ter me contado - Emmy agradeceu, quando Jenne já estava deitada de frente para ela - eu te amo.

- Eu te amo, não quero te ver triste, sinto muito por não ter cuidado de você como deveria - Jenne respondeu.

- A culpa não foi sua, nunca se culpe. Eu não deveria ter aceitado bebida de um estranho.

- Por que aceitou? - Jenne perguntou, curiosa.

- Era cor-de-rosa - Emmy respondeu, como se fosse óbvio.

- Agora faz sentido - Jenne riu, beijando a testa da outra - mas nunca mais aceite bebida de estranhos, não importa a cor que seja.

Naquela noite, apesar de descontentes com o rumo que suas vidas poderiam tomar, Jenne e Emmy trocaram promessas de que não iriam se afastar, independente da opinião de terceiros. Seja em Saint Eilish, seja no Starbucks, debaixo de uma árvore ou apenas dentro de casa, o amor delas apenas se solidificaria. Assim como um girassol, o amor de Jenne e Emmy daria as costas para a sombra e se voltaria para a frente, para a luz, para o sol, para tudo que fosse claro, para tudo que fosse amarelo.

ColorsOnde histórias criam vida. Descubra agora