Nós Sempre Fomos Um Jogo Perdido

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Nossas malas ainda estavam dispensadas na sala, ontem eu e Thomas apenas jantamos, tomamos banho e conversamos até pegar no sono. Abrir os olhos no nosso novo lar era reconfortante porque pelo menos aqui nós não teremos a possibilidade de encontrar com Simon ou Amélia e a única pessoa que sabe onde estamos é Nicolas.
Respirei fundo me sentindo aliviada, virei-me de lado e Thomas dormia de barriga para baixo, queria tanto beijar todo o corpo dele, mas não vou atormentar mais ele com essa minha estranha necessidade de sexo a toda hora. Deve ser a idade, os hormônios, sei lá. Ele precisa descansar e eu estou com vontade de caminhar lá fora, ver os arredores, sentir o vento nos meus cabelos.
Calcei meu chinelo e desci, ainda estou me adaptando ao lugar, mas apaixonada pela beleza e aconchego dele. Consigo me ver criando Henry e os outros filhos que Thomas quer ter aqui, vou me apegar a isso e continuar acreditando que Henry logo será encontrado e Betty ficará bem, sorri enquanto tinha esse pensamento. Não sei se dou uma volta ou se preparo o café primeiro, mas como minha pressão é baixa eu optei por comer, até porque se Thomas acordar e eu ainda não tiver chegado o café estará pronto.
Carmem realmente abasteceu a dispensa, tem tanta comida aqui que realmente não vamos precisar nos preocupar com isso. Deixei a mesa posta, tudo coberto e após comer algumas frutas eu saí.
Peguei um casaquinho leve, aqui é mais frio que Colchester, mas é inegavelmente mais bonito. Só consigo pensar que estou perto daquele farol que conseguimos ver ao longe, penso na praia, em como fui feliz lá. Comecei a caminhar, a casa de Carmem não ficava realmente muito distante, será tão bom poder contar com ela. Caminhei, caminhei, percebi que havia uma outra casa um pouco mais à frente, porém conforme o sol começava a esquentar eu senti que deveria estar avançando a manhã e Thomas provavelmente já acordou. Vou pedir pra ele para explorarmos juntos depois.
Então retornei, caminhei prestando atenção no ambiente.
Quando entrei ouvi um barulho de louça na cozinha e segui para lá. Thomas estava arrumando uma bandeja com xícaras, mas pra quem?
-Amor? Vamos ter visita?
-Lily, bom dia! Você não viu Gabrielle na sala? -Ele me olhou e eu o olhei confusa. Quando olhei para a mesa vi que havia uma fôrma, parecia um bolo ou torta, levantei o pano que a cobria e olhei por alto.
-Ela trouxe como desejo de boas-vindas! -Ele sorriu, eu apenas olhei intrigada.
-Está bem então, coloque mais uma xícara nessa bandeja e vamos conhecer nossa visita! -Eu sorri e fui na frente.
Quando cheguei na sala de fato havia uma mulher, ela estava parada na frente da lareira, olhando o fogo.
-Bom dia Gabrielle, me desculpe por... -Eu parei de falar quando ela se voltou para mim. Era uma morena voluptuosa, o que isso quer dizer?
-Perdão, eu quero dizer me desculpe por ter passado direto. Eu estava distraída!
-Não se preocupe, Ivy não é?
-Lily!
-Thomas falou de você, imaginamos que haveria saído então eu perguntei se poderia esperá-la aqui porque queria conhecê-la e dar as boas-vindas aos dois. -Ela sorriu e caminhou até mim, me dando um abraço surpresa. Por que ela chamou o meu marido de Thomas? Eu não o chamava de Thomas quando nos conhecemos.
-Eu trouxe uma torta de goiaba!
-Thomas me mostrou, obrigada! -Eu sorri para ela.
-Ah, então você vai brigar comigo para comer, ela ama goiabada! -Thomas entrou trazendo a bandeja e me entregando uma xícara eu o olhei de forma séria, ele me olhou confuso.
-Ah então eu acertei no sabor? Que ótimo! Eu tenho um pé de goiaba no meu quintal, então é uma torta fresca. -Eu sorri de forma amarela e quando olhei para Thomas ele apenas sorria. Quando voltei os olhos para Gabrielle ela estava olhando para Thomas de um jeito que eu não estava gostando, então tornei a olhar para ele, mas agora ele estava distraído com uma perna cruzada na outra enquanto descansando o pires com a xícara em cima do joelho mexia o café.
-Então, Gabrielle, você vive sozinha?
-Sim! Na verdade, minha mãe vem algumas vezes para ficar comigo, mas eu sou uma mulher sozinha. -Novamente o olhar dela foi para Thomas e novamente eu o olhei. Ele continuava distraído.
-Vocês são casados há muito tempo?
-N...
-Não! Na verdade, vai fazer um mês ainda. -Thomas respondeu mais rápido do que eu pude perceber.
-Aaah! -Ela emitiu apenas sons agora, qual é a dela? Eu comecei a analisar. Jovem, parece ter a mesma idade que eu, no máximo 27 anos talvez? O cabelo comprido e encaracolado, na altura da cintura, mas claro, vê-se que tem curvas, Thomas estaria mais bem servido. E por um momento o sonho, ou melhor, o pesadelo que tive veio na minha mente e eu senti que comecei a tremer de raiva o que me fez derramar um pouco de café na minha roupa.
-Ai droga, que desastre eu sou!
-Acontece, Ivy! Bem, eu acho melhor eu ir andando, eu só queria dar as boas-vindas a vocês e desejar que sejam muito felizes aqui, e podem contar comigo para qualquer coisa! -Ela falou essa última parte olhando para Thomas e agora eu sei que ele viu, mas o bobão continua sorrindo com os dentes escancarados enquanto ela dá em cima dele descaradamente.
Eu então segurei Thomas pela cintura e isso fez ele me olhar confuso novamente e ela quebrar o contato do olhar conosco. Agradecemos e nos despedimos.
-Vadia! -Eu soltei Thomas e caminhei até a cozinha.
-Lily? -Thomas veio atrás de mim me olhando sem entender o que aconteceu.
-Lily? -Ele insistiu já que eu não respondi e fiquei andando inquieta e xingando baixo.
-Amor, o que você tem? -Ele me abraçou pelas costas e me apertando em seus braços começou a tentar me acalmar.
-Não vai me dizer que você não percebeu?
-Que ela era uma morena voluptuosa?
-Sim! -Eu suspirei triste.
-E você acha que eu vou trocar você por ela?
-Pelo menos é com isso que ela está contando!
-Do que está falando?
-Thomas, ela só não fez sexo com você ali mesmo porque eu estava junto!
-Nossa, Lily! Nossa! -Ele me soltou de repente e caminhou para longe coçando a própria cabeça. Eu fui atrás dele.
-Você não percebeu a forma que ela te olhava? Ela ficava me chamando de Ivy quando eu já havia dito que era Lily!
-Tudo bem, mas, você me viu olhar pra ela? Eu parecia que estava doido de vontade de transar? Deus do céu!
-E você não está?
-Porra, eu estou sim! Mas não com ela. Eu quero foder você, fazer sexo com você, transar com você... fazer amor com a minha esposa! Primeiro dia que acordamos nessa nova casa, em um lugar diferente e você me trata como se eu não fosse capaz de domar meus próprios instintos? Por que você se casou comigo então?
-Thomas...
-Não Lily, você está se tornando uma pessoa extremamente difícil de lidar, eu tenho pisado em ovos com você e tudo porque parece que um de nós sempre está prestes a fazer algo de errado! Mas, quando você e eu moramos com o doutor que chama a minha mulher de amor e eu mesmo assim confiei em você, me questiono por que você também não confia em mim?
Eu deixei Thomas irritado, ele está falando tantas coisas dolorosas que tenho medo do que mais pode ser dito.
-Tom...
-Não, não me chama de Tom! Eu estou bravo, eu não tenho uma posição confortável na vida que era para nós dois estarmos decidindo juntos, mas você toma decisões por impulso...
-Por Henry! Eu vim até aqui por Henry! Eu estou exausta, merda. Exausta! -Eu me alterei, quando de repente ele gritou.
-E VOCÊ ACHA QUE EU NÃO ESTOU? -Eu o olhei, ele sabe que eu tenho medo de gritos. Comecei a sentir um desejo enorme de chorar, mas eu apenas sai batendo a porta com a força que tinha.
Corri para me afastar dali nós brigamos de novo e meu Deus, como isso tem sido recorrente. Eu me sinto perdida dentro de mim, sinto um vazio tão grande desde que perdi Henry e quando eu perdi o bebê que estava gerando... tudo isso me jogou dentro de um limbo existencial, eu estou uma bagunça de hormônios e emoções. Essa foi a primeira vez que Thomas me disse que estava exausto e que eu tenho sido difícil, de certa forma eu imagino mesmo que me tornei um fardo e agora que não carrego mais o filho que ele tanto queria não sei por quanto tempo ele vai me aguentar.
Continuei andando enquanto chorava, mas como não tomei de fato um café e as horas avançavam eu comecei a sentir tontura, então resolvi que era melhor retornar.
Sequei as lágrimas com a manga do vestido e entrei de volta na casa. Estava tudo silencioso, será que Thomas também saiu?
A mesa ainda estava posta, isso significa que ele também não comeu. Me servi em silêncio e me sentei para comer, estou triste e decepcionada comigo mesmo pelo que disse a Thomas sobre ele e Gabrielle... ele está certo, eu fiquei cega de ciúmes e esqueci que para haver uma traição é preciso que os dois queiram.
Quando terminei o café ainda fiquei um tempo na cozinha esperando para ver se Thomas aparecia, mas as horas avançaram e eu estava ali, sozinha e culpada.
Decidi que tomaria um banho e leria algo, mas quando fui ligar a torneira da banheira descobri que não estava funcionando, droga acho que isso Carmem deixou passar. Então peguei um livro dentro das caixas e me sentando no sofá da sala me entreguei a leitura. Ou pelo menos, tentei.

Para Sempre: Sir Thomas SharpeOnde histórias criam vida. Descubra agora