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Um capítulo mais focado na Mia e na Lila pra vocês. Tão feliz de ter BibisHP de volta. Pensei que tivesse me abandonado, guria! Senti saudade dos comentários ácidos--adorooo! E muito obrigada ao novo e querido leitor HerreraPortilla e à Aninha pelo carinho no meu momento de crise de meia-história 💜.

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A segunda-feira chegou voando, marcando o primeiro dia útil de um lado da maternidade que francamente Mia Colucci não pensou que pudesse ser tão estressante. Veja bem, quando se é criada por praticamente um séquito de babás e na presença de empregadas e mordomos, custa imaginar que tarefas tais como:

Acordar uma criança de quatro anos (sem que ela chore)

Dar banho

Encontrar o uniforme perdido dentro do guarda-roupa de la puta Nárnia

Vestir a criança

Pentear cabelos compridos e rebeldes

Dar café da manhã

Preparar lanchinho

Enfiar a criança mal-humorada e birrenta dentro do carro


Sejam tão estupidamente difíceis. E tudo isso no espaço-tempo de uma hora. Sessenta fucking minutos.

Ah, é pouco estresse, talvez? Mia preparou uma vitaminada de mamão, banana, aveia e mel para a pequena Gremlin raivosa e colocado dentro de uma mamadeira que estava perdida no armário pensando que seria mais seguro pra ela tomar no carro. Ledo engano. Lila protestou contra a maldita mamadeira com toda a raiva e a birra de uma criança de quatro anos que não é mais um bebê, pondo os nervos da Mia em frangalhos e a dando muita, mas muita vontade de tacar um chinelo como toda mãe latina que se preze.

Mas Mia não fez isso. Mia simplesmente buscou encarnar toda a energia zen da sua ex-instrutora de ioga e fazer os exercícios de respiração, repetindo o mantra de sempre: eu não vou matar, eu não vou matar, eu não vou matar. Ironicamente, era o mesmo mantra que Mia repetia sempre antes de se reunir com seus tios dementes, funcionários incompetentes ou clientes insuportáveis... O que era quase diário.

"Lila Arango—você vai tomar na mamadeira sim porque eu estou mandando e não quero o banco do carro todo melado. Ouviu bem?" E pronto. Bastou aquelas palavras ditas de maneira mais firme, mais pausada e o lançamento de um pequeno olhar mortal para Lila engolir o choro e obedecer, ainda que contrariada. Mia a prendeu na cadeirinha e entregou a mamadeira com vitamina em suas mãos. "E beba tudo!"

Momentos depois, já estavam a caminho, com Mia dirigindo o carro do Miguel até a escola e Spice Girls tocando no som do carro—algo absolutamente indispensável para a educação de uma menina. Mia se permitiu relaxar um pouco e cantar junto com a girlband. Era um absurdo essa criança não conhecer Spice Girls, mas Mia mudaria esse cenário tenebroso rapidinho.

"Por que o papai não me trouxe hoje?" Lila perguntou após a estrofe final de Stop, com uma serenidade surpreendente para quem há dez minutos estava chorando, batendo o pé e com o rosto vermelho de raiva.

"Seu pai tinha uma reunião super, super cedo, amor." Mia explicou, dando seta para virar a direita, se controlando para não xingar o motorista da frente que a cortou e a fez frear bruscamente.

"Você tem uma casa?" Lila perguntou em seguida.

"Tenho, mas na Itália. É muito longe daqui, você precisa atravessar o oceano e metade da Europa pra chegar lá."

"A sua casa é um castelo?"

"Não, pequena, infelizmente de princesa eu só tenho a pose." Mia falou, dando uma risada. "Mas é um apartamento bem bonito. Agora, Lila, te incomoda que eu esteja ficando na sua casa?" Mia perguntou, pausando a sua playlist que agora tocava Kylie Minogue para observar a menina pelo retrovisor.

          

"Não, eu gosto..." Lila respondeu, se aconchegando em sua cadeirinha e olhando para fora da janela, "é que eu nunca tive uma mamãe antes."

Mia sentiu o coração apertar dentro do peito.

"Bom, eu nunca tive uma filha antes, então vamos ter que aprender juntas, não é?" Lila abriu um enorme sorriso e Mia quase se derreteu.

Lila era uma criança linda apesar do aparente mau-humor matinal. Ela tinha uns olhos castanhos enormes e longos cílios escuros que os destacavam ainda mais. Sua pele era branquinha e o rosto bochechudo mas com traços afilados que estavam mais aparentes pelo simples fato de Mia ter lutado para desembaraçar os cabelos castanhos-claros dela essa manhã e usado todo o seu poder de persuasão para prendê-los em duas tranças. Ela fez uma nota mental para levar Lila na próxima ida ao cabeleireiro para fazer um corte—embora algo a dizia que aquela seria outra difícil batalha a travar.

"Eu posso contar pra tia Laura?"

"Ela é a sua professora?" Lila fez aham. "Eu ainda tenho uns minutinhos pra chegar na empresa... E se eu for lá dentro conhecê-la?"

"Então eu vou te mostrar a minha sala!" Lila gritou toda animada, "e o Bigodes e o Santi e a Maya!"

Mia manobrou e finalmente parou o carro no estacionamento da escola, sob a sombra de uma árvore. Ela deu a volta no carro e abriu a porta pra Lila sair, apanhando sua mochila de abelhinha. Enquanto apertava o botão para travar o carro, sentiu a mãozinha da Lila pegar na sua e começar a puxá-la para a entrada. "Calma, criatura!" Mia reclamou, um sorriso no canto da boca. "Eu tô de salto!" A animação da Lila era contagiante.

A escola não era muito grande, na verdade um pouco maior do que uma casa, possuindo apenas um andar mas toda colorida e com o jardim arborizado e cheio de flores. Os trabalhinhos dos alunos ficavam expostos em painéis nas paredes, intercalando-se com as portas das salas. O corredor em si era bem largo, como um salão comprido, e ao centro haviam biombos enfileirados por quase toda a extensão, dividindo o espaço. Eram aí que as crianças guardavam suas mochilas, lancheiras, jaquetas e calçados antes de entrarem para as salas de aula apenas de meia nos pés. Os biombos tinham o nome da criança, mas como eles ainda não eram alfabetizados havia uma foto do lado para cada uma identificar o seu. Lila puxou Mia até o biombo dela, de frente para uma porta pintada de roxo e com adesivos de borboletas e lagartas.

"Essa porta é da minha sala—turma violeta. E é aqui que eu guardo as minhas coisas." Lila mostrou pra ela uma caixinha de plástico com alguns trabalhinhos separados para levar para casa e alguns brinquedos que ela havia esquecido na escola na semana anterior.

Mia observou Lila tirar a jaqueta e pendurar direitinho no ganchinho antes de fazer o mesmo com sua mochila e a lancheira. Em seguida, ela tirou o tênis de velcro ficando apenas de meia.

"Só de meia?" Mia perguntou.

"É que a sala tem tapete. O sapato é pra lá fora..." Lila apontou para uma enorme porta de vidro que levava ao quintal da escola onde de acordo com ela havia o playground, a hortinha, o galinheiro, o pomar e a casa na árvore.

"Bom dia, Lila!" Mia e Lila se viraram e deram de cara com uma mulher de cerca de trinta anos com os cabelos castanhos na altura dos ombros. Ela usava um óculos desses estilosos, uma calça quadriculada em tons de vinho e ocre e uma camiseta do Harry Potter.

"Tia Laura!" Lila respondeu alegremente a abraçando.

Laura olhou para Mia com um sorriso: "Oi, tudo bem? Como já percebeu, eu sou a Laura, professora dessa mocinha. Acho que não te conheço ainda..."

"Prazer, Mia—Mia Colucci." Mia esticou a mão para apertar, "acho que você vai me ver com um pouquinho mais de frequência."

"Ela mora na minha casa e tá aprendendo a ser minha mãe, tia Laura." Lila explicou, se agarrando na saia da loira.

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