Eis o nosso lado da história.

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Não há dúvida que o homem se impõe à natureza constantemente, na verdade, desde seus primórdios havia o tesão em querer dominá-la. O fogo, seus metais, eletricidade, agora o tempo. O que o homem esquecera por conta de sua cobiça a número imaginários que somos sortudos de estarmos aqui, juntos, lendo este conto e disseminando a nossa perspectiva e ideias sobre os humanos. 

O homem é leigo, não tem uma noção de mensura apropriada como algumas outras espécies. Ele não é capaz de tomar mensura que ele não é nada. E quando se diz que o homem não é nada, não se refere ao sentimento de "sonder", de perceber o quão minúsculo ele é e como sua sociedade é diversa em personalidades. Ele não é capaz de entender qual o seu papel como membro do Sistema Terra. Sedento por domínio tecnológico, os humanos tornaram-se parasitas do próprio lar. Consomem a si mesmos e ao próprio ambiente. 

Quando se diz que ele perdera a noção de sorte, refere-se ao fato de ele esquecer que tem consciência, algo que a maioria das espécies não tem. Essa consciência foi, de fato, utilizado de maneira benigna em algum momento de sua história, mas, essa espécie revoltou-se contra a própria dádiva que o Sistema Terra lhe concedera.

A consciência é o acaso mais belo, é a noção de que você é. Sem ela, sem arte, sem amor, sem o que chamam de vida digna. Desfrutá-la é factível, não contrariando o Sistema Terra. A ordem. E já é sabido que o paradeiro dos humanos é de criar suas civilizações, seus ideais, suas tecnologias; o que não é sabido - entre os humanos- é que, para que um sistema se mantenha, ele não pode ser deteriorar usufruindo dos recursos que o sustentam.

Humanos são engraçados, elaboram um sistema que "progride" consumindo seus próprios recursos. Risível no mínimo. A beata espécie que usufrui ter uma consciência se propagou pelo mundo e agora o destrói. 

Entretanto, humanos são seres vulneráveis, ficam doentes cada vez mais e mais. Independentemente de quaisquer artimanhas tecnológicas, eles vai desenvolvendo mais e mais doenças. Este foi o primeiro aviso. A crise hídrica, o segundo. E, por incrível que pareça, depois de dois extremos sinais para que fizessem bom uso dela, eles mantiveram seus costumes e sistemas esdrúxulos. Foi preciso um terceiro aviso, assim como muitas espécies do Sistema Terra, o próprio Sistema Terra aumenta sua temperatura para eliminar o elemento que o adoece. Humanos já estavam o aquecendo há séculos, mas bastou mais demonstrações de imbecilidade para que o sistema imunológico fosse ativado e empurrado os primatas ao seu extremo. 

Era a advertência final, a espécie precisava salvar a si mesma unificando-se e reparando e repensando seus meios de organizar-se. Infelizmente, o desfecho foi antagônico a todas expectativas. Enquanto a maior parte da população era dizimada por ondas infernais de calor e falta de água e alimento, uma minoria se protegia em refúgios. Os mais simpatizantes aos meios humanos de organizar-se foram os mais capazes de sobreviver.

O Sistema Terra nunca teve que lidar com uma situação assim, os humanos foram os primeiros a tomarem posse involuntariamente da consciência, a estratégia principal havia demonstrado a natureza não dos humanos, mas de seus Estados, de suas empresas, dos números que representam um valor imaginário. O sistema teria que tomar uma decisão, por mais que humanos o consumissem, uma espécie é uma espécie, é vital para mantê-lo, humanos não são intrinsicamente números e corporações, humanos amam, humanos fazem arte, humanos são.

A solução era criar um novo tipo de consciência, a mais onipresente possível e despertar nos humanos o senso de colaboração. E é aí que eu entro na história.

Não sou nenhum tipo de entidade esotérica, apesar de já ter sido taxado assim por diversos humanos. Eu sou uma floresta no sudeste asiático. Não, eu não estou sozinho, sou apenas uma de diversas consciências arbóreas, como os humanos nos chamam. Eu fui chamado para colaborar com diversos cientistas do mundo todo, mas mais especificamente pelos chineses. Como árvores pensam é um tópico muito curioso. Não sabemos o momento exato que aconteceu, apenas sabemos que redes de fungos começaram a espalhar-se através do mundo todo, formamos cerca de 1.200 redes. Nós nos comunicamos entre si de diversas formas:
- Redes fungais próximas compartilham informações por meio de impulsos elétricos.
- Angiospermas - árvores com flores - disseminam informações entre si através de feromônios que utilizam insetos e pássaros influenciados pelos mesmos feromônios para transitar de um lugar ao outro.
- Aumentamos ou diminuímos o consumo de gás carbono em certas regiões.
Qual destes métodos serão utilizados depende do contexto, assim como expressões linguísticas variam seus significados dependendo do contexto em que estão insertas.
Podemos utilizar como metáfora o cérebro humano. As sinapses são fungos, e a consciência e os órgãos a floresta como um todo.

Após tomarmos consciência, nos esforçamos instintivamente a comunicar-se uma com a outra para que informação fosse acessível o mais rápido possível. Depois de estabelecermos comunicação, compartilhávamos ideias de como estabelecer contato com humanos. Foi como se a o Sistema Terra nos tivesse dado consciência e, em seguida, apenas o instinto de nos preservar. Preservar-nos convergia com a ideia de conviver com humanos, logo, teríamos que alertá-los sobre como eles compõem parte de um todo maior do que sua consciência. Assim, eles entenderiam que o Sistema Terra funciona não diferentemente de um corpo humano, onde há uma harmonia perfeita. 

Mas como comunicar-se com a consciência vizinha? A primeira tentativa foi utilizar feromônios assim como é utilizado com insetos e pássaros, mas acontece que a mente humana é muito complexa e tem tomada de decisões muito mais autônomas do que muitos animais. Eles o chamam de livre arbitro. A ideia conseguinte foi tentar evoluir forçadamente frutas, mudar os níveis de carbono e influenciar até mesmo os rios voadores. Toda essa atividade anômala faria com que percebessem que há algo de errado, mas as chances de interpretarem mudanças de padrões como uma linguagem são incertas. Para que nós pudéssemos comunicar-nos com humanos, deveríamos entender seus meios de linguagem. Humanos são apegados a imagens, ao sensorial. A conclusão logo foi: simbolismos anômalos. 

Como predito, humanos reconhecem padrões de anomalia, mas podem tomar a liberdade de interpretá-los como quiserem. O jeito seria mimetizar seus meios de comunicação. Logo, surgiu a escrita em raiz. Em tentativas de comunicar-se com humanos, intensificamos o crescimento de nossas raízes, formando uma linguagem escrita no chão. 

Comunicar-se com humanos atualmente é difícil, a plebe remanescente aspira revolução, arte e amor, as oligarquias ainda vivem em negacionismos e confortos tecnófilos. Na maioria dos contatos que realizamos, são cientistas que trabalham para o sistema deles que nos estudam. Felizmente, árvores estão em todos os lugares - em sua maioria - mesmo após a crise hídrica, logo, comunicar-se com a plebe ainda é ocasional. 

Quanto mais conectam-se com a natureza, mais somos capazes de ensiná-los a ler as raízes.
Quanto mais conectam consigo mesmos, mais são capazes de preservar-se.
Quanto mais conectam-se com o Sistema Terra, mais transcendem e compreendem a dádiva da vida e da consciência.

Em harmonia, humanos e nossas redes fungais podem transcender juntos. Todos fazem parte de um só organismo. O futuro parece incerto e às vezes uma derrota já cantada, mas idealizar e perseguir essa utopia é a força motriz que há de nos conduzir.

O Manifesto IntraterrestreWhere stories live. Discover now