Perseguida pelo Mal

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Éramos eu, meus pais e minha irmã mais velha. Minha irmã sempre foi um pouco perturbada, ela via coisas em casa, falava aparentemente sozinha mas nada disso se equiparava com os pesadelos que ela tinha a noite. Quase sempre éramos acordados com gritos aterradores na madrugada, seguidos de baques no chão - como se algo bem pesado fosse atirado repetida vezes no chão, havia vezes que juro por deus que as paredes chegavam a tremer.

Meu quarto era ao lado do dela, e a sensação de medo que eu sentia quando aquilo ocorria... serio não há nada pior, pai saia correndo pra ver o que era mas quando chegava no quarto dela, minha irmã já dormia novamente, isso ocorria umas 2 até 3 vezes na semana. Na manha seguinte ninguém falava sobre o ocorrido, mas todos sabiam que havia sim algo estranho com ela.

Foi numa noite de Setembro, não lembro exatamente qual. A semana tinha sido tranquila, pela primeira vez em dias ela não tinha acordado gritando, mas sabe o que dizem neh quando se tem um tempo de calmaria antes de uma grande tempestade. Lembro dessa noite nitidamente. Todos dormiam, por algum motivo eu não conseguia, fiquei horas olhando pro teto esperando o sono chegar, foi quando escutei uma voz grossa sussurrando bem baixinho.

'' ei vem cá ! '' na hora meu corpo gelou, prendi a respiração porque habitualmente já esperava que ela fosse gritar, mas não aconteceu nada, ao invés disso aquele silencio opressor na casa. Decidi olhar em direção a porta do meu quarto e foi quando o vi a primeira vez. Ele era alto, um alto que não era normal, usava uma roupa bem soturna sabe, paletó e gravata e essas coisas toda, mas foram duas coisas que me chamaram atenção: ele usava cartola, e tinha uma postura tão curvada que parecia que andava acocorado como se sua coluna não suportasse o peso do corpo e o forçasse a meio que se apoiar nas pernas.

Nunca me esqueci dessa cena, foi a coisa mais aterradora que vi na minha vida ate então, ele riu pra mim e eu sabia que aquele homem era a morte ou ao menos o conceito que uma criança de 8 anos pode entender da própria morte, mas eu sabia la no fundo que ele era algo muito ruim e que queria minha irmã. No momento que ele saiu do meu campo de visão, minha irmã deu um grito tão gutural que acho que a vizinhança toda acordou! Meu pai foi la e ela continuava gritando foram longos minutos pra acalmar ela, só escutei quando ela chorando disse a minha mãe que '' ele tentou lamber la em baixo mãe.'' foi exatamente o que ela disse...

Dois dias depois minha avó veio em casa e disse que sabia como ajudar, minha mãe já estava histérica com a situação toda. Eu estava escondido, pois ninguém me deixava participar da coisa, mas ouvi que iam levar ela pra uma senhora que comandava um ''terreiro'' minha irmã poderia receber ajuda pra se livrar do que parecia ser um espirito obsessor, claro que não entendi nada mas minha curiosidade chegou a mil.

Fomos de carro ate esse local que era bem afastado do centro. Só tinha arvore pra onde quer q eu olhasse. Meu pai ficou comigo no carro, obvio que não me deixaram ir, foram então minha irmã, mãe e avó pra o que parecia ser um campinho de futebol em chão batido, tinha casas ao redor desse campo e no meio dele uma grande fogueira estava acesa, tinha muita gente vestida de branco. Muita gente mesmo, todos cantavam e dançavam umas musicas com uns batuques estranhos, essa festa demorou e acabei dormindo.

Acordei com um grito espetacular, não era algo que parecia ser humano, era metálico e rascante sabe? Olhei desesperado ao redor e meu pai tinha sumido, o grito ficava cada vez mais alto, era um grito de suplica, parecia um cachorro bem grande. Comecei a chorar, sai do carro me tremendo de medo e me escondi atrás de uma arvore perto desse campinho, estavam todos ao redor da fogueira em uma espécie de meia lua, vi meus pais e minha avó entre eles, na hora já ia correr direção deles, mas quando olhei mais pra esquerda vi a coisa que estava gritando, era um bode, ele estava amarrado numa das arvores com as patas arreganhadas em todas as direções e em baixo dele estava minha irmã, deitada num colchão desacordada.

Alguém vestido de branco veio com um facão enorme em direção do bode e enfiou a lamina fundo na barriga dele, foi ai que o grito atingiu o ápice, pensei que eu ia ficar surdo, já viram matar um bode? É agonizante...
O pior foi ver o jorro vermelho que brotava da barriga dele cair todo em cima da minha irmã, banhando ela toda.

Uma velha se aproximou e se ajoelhou ao lado da minha irmã, o bode já não gritava mais, começou a entoar algumas palavras do tipo '' venha a mim meu pai...precisamos de suas verdades'' aqui não posso dizer ao certo o que disseram porque não prestei atenção, só queria chegar pra perto do meu pai. Então a velha começou a falar diferente, era ela, mas ao mesmo tempo não era..

A velha disse exatamente isso '' ela tem o corpo aberto a coitada, vai sofrer muito ainda na vida, coisas vão atingir ela e o máximo que vocês podem fazer é ajuda ela a entender''

Minha avó perguntou '' ela está possuída? O que é isso que fica perseguindo ela de noite?

A velha ficou parada olhando minha irmã deitada e de súbito disse que '' o problema não é ela, não vejo nada nela a não ser reflexos...'' de repente ela parou de falar o que estava falando e se levantou olhando ao redor. É aqui que minha memoria falha um pouco, pois comecei a ficar sem ar, cansado, parecia que meu corpo estava sendo esmagado de cima pra baixo, olhei novamente pra velha e ela dizia pra todo mundo la algo como '' a coisa está aqui entre nós, ele se atreveu a sujar nosso piso com sua alma imunda'' foi quando ela olhou diretamente pra mim, de repente todos de branco olhavam pra mim também, meus pais e minha avó, todos parados com aquela expressão estupida de medo olhando pra mim.

Lembro que minha mãe colocou a mão na boca pra abafar um grito quando ela me olhou, eu não estava entendendo nada, porque todo mundo estava daquele jeito quando me viram? Queria chorar, queria gritar queria sair dali mas eu não consegui fazer nada, sentia a presença cada vez mais em cima de mim, me dominando, foi quando o mundo foi ficando escuro, só lembro da velha vindo em minha direção antes de desmaiar completamente.

Depois de tantos anos do ocorrido, eu me considero agnóstico entende? Mas sei que o que vivi naquela noite nunca vai fazer sentido na minha cabeça, sei que coisas inexplicáveis acontecem com as pessoas o tempo todo, mas viver isso é outro nível, não desejo o terror que passei os anos seguintes nem ao meu pior inimigo. Caso vocês não entenderam, minha irmã não estava possuída, ela era apenas mais inclinada a esse mundo oculto, assim como eu também sou - que sorte a nossa... Hoje em dia sei que chamam isso de Médiuns.

Eu era o problema, eu era que estava possuído, descobriram em sessões que fiz depois nesse mesmo local, que a figura de paletó e gravata estava tentando entrar dentro de mim, descobri também que seu nome se chamava Maca ou Macá e que seu objetivo não era apenas entrar dentro do meu corpo e sim também matar a mim toda minha família.

A velha que mencionei se chama Irene, ela me revelou alguns meses atrás, motivo esse que resolvi contar o final da historia agora, que nas sessões eu/ele gostava de detalhar como seria bom estuprar minha irmã e depois esfolar a pele dela. Irene me disse que ele era o puro mal, que é muito difícil um ser desses passar pra esse plano, mas que ele faz muitos estragos na tentativa, ela me disse que conhece outras historias parecidas que não acabaram tão bem quanto a da minha família... enfim gente não vou detalhar essa parte entende?

Obviamente não me lembro dessas sessões, não sei como fizeram pra tirar aquilo de mim, Irene também não quis contar isso, o que posso dizer com certeza é que não tenho visto mais coisas, minha irmã é da religião espirita hoje em dia e parece saber controlar as coisas que ela vê e sente. Eu fico agradecido em não fazer parte desse mundo, não quero e nem pretendo, porque eu entendo o terror que foi viver com isso por anos.

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