TRÊS

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— Não é o que você tá pensando — foi a primeira coisa que Erick disse assim que entrei no quarto feito um furacão.

Sua expressão tomada pelo pânico me deixaria com pena se a situação não fosse tão absurda.

— Eu tenho cara de idiota? — rosnei.

— Quer mesmo que eu responda? — Alex esboçou um sorriso que serviu para ampliar ainda mais meu ódio.

— Não me diga que você é um viadinho de merda, Erick — murmurei, ignorando a intromissão de Alex na nossa conversa.

— Eu...

Suas sobrancelhas se uniram e ele se encolheu, incapaz de continuar a própria afirmação.

— Ele é gay sim — Alex respondeu por ele, massageando os pulsos. — Algum problema?

— Vocês sabem que isso é crime, não é?

Estava tentando me manter calmo, mas a situação em si me tirava do sério. Diziam que uma conversa podia resolver tudo, mas era quase impossível resistir a vontade de arrancar a cabeça do meu querido irmão.

Avancei alguns passos, mas Alex ficou de pé e se colocou entre nós. Seus cabelos negros não estavam engomadinhos como de costume. Aquele garoto era o mais paparicado da família. Todos o idolatravam, era o exemplo a ser seguido. Nada me deixava mais puto do que ver toda essa reputação gloriosa dele ir para o lixo.

De nada adiantava estar cursando medicina, ter um contrato de modelo, ser presidente do conselho estudantil e capitão do time do seu curso se era homossexual. Qualquer qualidade automaticamente era arruinada por esse simples fato.

Agora, ele não era mais o orgulho da família.

Era a vergonha.

— Você não vai encostar um dedo nele — disse, pousando a mão no meu ombro e palavras não descreviam o nojo que senti naquele momento.

Eram aquelas mesmas mãos repulsivas que minutos atrás estavam acariciando meu irmão de maneira íntima.

— Se for machucá-lo, vai ter que passar por mim primeiro.

Ao invés de respondê-lo, arremessei-o contra a cômoda, derrubando um abajur e um porta-retrato onde tinha uma foto minha com Erick. O que era bem irônico, já que eu estava prestes a matá-lo.

Parti para cima do meu irmão. A força do primeiro golpe foi tão tremenda que ouvi a mandíbula de Erick estalar.

Não conseguia mais enxergar o irmão que sempre amei, só conseguia ver a vergonha que se tornou para mim. Ele era um alvo que merecia ser punido e eu não hesitaria em puni-lo, então dei vários golpes sem pausa.

Soquei seu estômago e o ouvi ganir de dor. Ele não estava reagindo e nem se protegendo. Apenas aceitava aquilo como se, lá no fundo, soubesse que merecia e aquela foi a primeira reação sensata que vi.

— Vou ligar para a ouvidoria e vão te prender! — berrei, rodeando seu pescoço e o apertando com força. — Vão prender vocês dois!

Um filete de sangue escorria de seu nariz e vi lágrimas descendo pelas bochechas marcadas por hematomas.

— Victor... — Sua voz saiu fraca e estrangulada devido à falta de oxigênio. Soltei-o e acabou tossindo, levando uma das mãos à garganta onde haviam marcas perfeitas de meus dedos em sua pele pálida.

— Sinto muito — sussurrou.

— Você sente? — Dei um tapa tão forte que gemeu. — Vai sentir ainda mais depois que eu...

Não sou heterofóbico [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora