53 | entre monstros

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— Tu não estás a fazer o que combinamos

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— Tu não estás a fazer o que combinamos...

Angelique, evidentemente, não estava satisfeita.

Do outro lado da secretária organizada, ainda que repleta de documentos e pastas de arquivos, ela me encarava com seriedade. Eu desdenhei ao suspirar pesadamente, quase revirando os olhos, entediado. O efeito da cocaína ainda não havia passado, e a sensação de prepotência ainda se fazia presente em cada uma das minhas atitudes e gestos. Observando a parede atrás dela, eu passei o polegar sob o nariz e funguei, relaxando na cadeira confortável.

— Concordamos que irias agir de acordo com as vontades do Marco para que ele pensasse que vocês se entenderam e confiasse em ti, entretanto, fazes o oposto. Soube, há pouco tempo, que fizeste as pazes com uma das pessoas com quem ele não se entende.

Outro suspiro escapou por entre os meus lábios.

— Algo faz-me pensar que tanto tu quanto ele acham que eu sou um fantoche... — murmurei ao pender a cabeça para o lado e estreitar os olhos. Ela comprimiu os lábios pintados a cor-de-vinho e ergueu as sobrancelhas, lançando um olhar duro e ligeiramente inquisitivo, quase desafiador — Eu sei o que estou a fazer, não preciso de orientação para tudo. Também posso pensar por mim mesmo.

Angelique tossiu uma risada breve e seca, coberta de deboche.

Oh, agora sabes o que estás a fazer? — questionou. Eu assenti — Que bom, fico feliz.

— Tu mesma disseste que eu deveria aprender a utilizar os meus recursos, não? É o que tenho tentado fazer, então peço apenas um voto de confiança. Eu realmente estou cansado de ser tratado como se não tivesse um cérebro perfeitamente capaz de arquitetar o necessário para executar os planos combinados, e penso que não seria vantajoso para nenhum dos dois caso eu me chateasse e decidisse fazer o que me viesse à cabeça...

Diante do meu olhar e sorriso presunçosos e debochados, Angelique encostou-se na cadeira de couro e soltou a respiração, cética.

— Isso foi uma ameaça, querido?

Fixei o olhar na mesa e deslizei o dedo indicador da mão direita sobre a mesma, esfregando-o depois no polegar. De seguida, voltei a encará-la com descaso.

— Sente-se ameaçada, tia?

Ela zombou com outra risada, tão curta quanto a outra.

— Claro que não, só estou insatisfeita com o que estou a ouvir.

— Veja bem... — disse entre um suspiro — Dá para ver de longe que as coisas não estão bonitas para o meu lado, em todos os sentidos possíveis, e a senhora sabe disso, uma vez que, supostamente, me observa e protege desde sempre... Então eu chego aqui, e sou entupido de exigências e mais exigências. Entretanto, a senhora diz que preocupa-se comigo. Onde isso faz sentido?

Angelique retesou a mandíbula ao fechar os olhos azuis por segundos. Eu humedeci os lábios e relaxei na cadeira ao cruzar os braços.

— Existem coisas mais importantes do que esses chiliques. Tu estás-

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