Terrible Love

para atópicos

Epílogo

"Para atópicos"

Quando eu tinha meus dois meses de vida meus pais perceberam que eu chorava muito e minha pele sempre estava vermelhinha, eles me levaram em vários médicos e nada, até que minha mãe pensou que poderia ser algo psicológico, o que é bem engraçado, mas, foi por causa disso que descobriram que eu tinha uma doença de pele crônica chamada Dermatite atópica.

O que é essa doença? Basicamente é uma inflamação cutânea que da coceira, em casos graves crostas, descamação e as vezes você pode coçar tanto que sua pele pode sangrar. Como não tem cura, existe tratamentos imunológicos e é controlada também com muitos cremes.

Para vocês terem noção que essa não é uma doença fácil, em alguns casos até a comida pode te dar alergia, esse foi o meu caso.

Quando fiz meus 7 ou 6 anos minha mãe me levou em um dermatologista muito bom e lá comecei meu tratamento imunológico, eu tomava uma dose de uma injeção uma vez por dia, e sem parar com os cremes.

Quando fiquei um pouco mais velha era mais difícil sair na rua de short ou blusinha sem alça, as pessoas olhavam torto, com nojo por causa das manchas na dobra da perna, braço, rosto.

Na escola sempre foi pior, até professores falavam coisas absurdas pra mim, tinham nojo de chegar perto pensando que iriam pegar a doença, sendo que isso é impossível.

Muitas vezes uma pessoa atópica ouve essas frases: Isso é falta de creme, para de coçar, isso é frescura, e várias outras coisas, uma dica, não falem isto pra uma pessoa atópica, ela já tentou parar de coçar, ela já está cansada de passar creme até sua pele ficar lambuzada, e não, NÃO é frescura.

Quando eu estava no 1º ano do fundamental uma professora me disse.-"Sua pele é parecida como a de um sapo." Aquilo pra uma criança de 8 anos foi como uma facada no coração, claro eu já estava acostumada com os olhares, acostumada de ninguém querer ser meu amigo, acostumada com algumas frases de mal gosto, mas, para mim aquela foi a pior.

Depois deste dia minhas roupas passaram a ser de short pra calça, só calça, mesmo que quando minha perna soasse e eu me contorcia pra coçar minha pele por baixo daquele tecido eu não tirava em nenhuma circunstância, blusa só de manga longa, mas, nada daquilo funcionou ninguém veio ser meu amigo, além de ser a "garota pele de sapo" também fui pra "garota estranha".

Pros atópicos o assunto de tempo é complicado, eu não sei se prefiro frio ou calor, pois no frio minha pele ressecada mais, e no calor ela coça mais que o normal, e sempre eu estava de calça, não me importava o calor, eu passei a ter vergonha de mim, eu passei me achar feia como todo mundo me achava e me chamava na escola, eu me fechei pro mundo, eu pensava que se ninguém falasse comigo ou chegasse perto seria melhor, com o tempo aquilo funcionou, mas sempre me lembravam do que estava por baixo daqueles tecidos pretos e quentes, as palavras de mau gosto sempre ecoavam em minha mente.

Alem de lidar com a doença e com o tratamento eu tinha que lidar com o que as pessoas pensavam de mim.

Isso foi demais pra uma garotinha de apenas 8 anos.