Hazel

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- Hazel




Estava eu aprisionada no mundo onírico.


De alguma maneira, prosseguia com minha rotina.

Aguardava ao fim do expediente, o meu primeiro amor;




A garota de cabelos pôr de sol. Em vez dela, fui açoitada pela surpresa de deparar-me com a outra. Esta me lembrava uma cigana.


Meu corpo se aqueceu ao que ela se aproximava, estendeu-me a mão e disse que já era o fim da jornada. "Ora, essa, trabalhamos juntas?" Quis perguntar, mas minha boca se adormeceu junto do corpo ao encontro dos nossos olhares. O formato de seus olhos eram grandes e monólidos, sua cor era do mais puro âmbar misturado ao mel. Nem a própria serpente do Éden conseguiria reter tamanha sedução contida num único olhar.

Como alguém que estilhaça um copo de vidro ao derrubá-lo no chão, fez-se assim meu corpo ao som da sua adocicada voz, retirando-me da hipnose que me colocará. Parecia confusa agora, acho que me perguntava novamente algo parecido com "Você não vêm?" Sua mão ainda estendida.

Não quis perguntar onde, realmente não queria sabê-lo. Eu iria a qualquer lugar sem questionar com essa mulher. Queria segui-la, queria ir com ela e entregar-me aos seus encantos. Embora insegura, segurei-lhe a mão sem pestanejar.



Não me lembro como, mas cá estávamos em um pequeno cômodo de paredes amarelas e um dos quatro cantos havia um beliche cujo lençóis estavam amontoados de forma organizada, tinha uma pequena janela por onde passava raios de sol que refletiam em seus cabelos chocolate que de encontro a luz, reluzia como o mais puro bronze. Prostrava de costas para mim enquanto me instruía algo sobre deitar-se no tal beliche, enquanto falava notei que vapor lhe saía da boca e que trajava uma jaqueta jeans, preta e charmosa. Só então percebi que fazia frio, muito frio, mas de modo algum conseguia sentir, meu corpo estava quente, fervilhava, eu contraía meus músculos a cada mínimo movimento seu. Não lhe prestava atenção nas palavras, mas nela por inteiro. Quero tocá-la.

- Não tenho cobertores o suficiente para dividir. - Ela fez uma pequena pausa, virou-se para mim com aquele sorriso. Sim, aquele sorriso. Os caninos tão grandes e navalhados, sua pele era parda, mas a boca rosada como frutos de mosqueta, tão fina e delicada... Parecia que iam rasgar-lhe a boca à qualquer momento ao expor aqueles dentes enormes. Como poderia eu esquecer do sorriso mais belo que minha visão já me concedeu? Ah, eu me lembro de você. Sei quem é. Aqui jaz a essencial do teu sorriso, internalizado em meu inconsciente porque sua presença real já não esta mais ao meu alcance. Açoitava-me o coração com a mais débil das saudades e ao mesmo tempo o aconchegava por parecer tão real. - Você pode dormir comigo, está frio.



Eu quero. Eu quero muito dormir com você. Céus, diga que sim sua idiota! Fale alguma coisa, diga que quer dormir com ela! Pelo amor de Deus, DIGA QUE QUER. ACEITE LOGO!



- Eu não posso... - Respondi com o gosto amargo em minha boca - Acho que seria desrespeitoso da minha parte, já que eu... Bem... Você sabe, não sabe? - Senti minhas bochechas arderem. Olhei para o chão envergonhada tentando fugir do seu olhar que agora iam de encontro ao meu, um pequeno sorriso saliente cobriu seus enormes dentes brancos formando uma pequena lua minguante em seus rosto. Uma covinha surgiu no canto esquerdo da boca. Com ar de malícia ela me perguntou:

- Sei o que?

- Eu preciso mesmo dizer?

- Sim, eu quero ouvir você dizendo. - Ela deu dois passos à minha frente, sei que ela não usava perfume, mas senti o cheiro floral de amaciante de suas roupas. Notei que por baixo da jaqueta irada trajava uma camisa amarela apertada que lhe marcavam o formato dos seios. Estacionei neles o meu olhar e passei a tremer como a ponta da cauda de uma cascavel. Devo ter me perdido em algum vazio neste instante porque ela me tocou o ombro para me chamar - Ada?

- Sim?!

- Esta tudo bem? Você tá tremendo. - Seu semblante parecia um tanto preocupado.

- Eu gosto de você. - Retorqui. - Eu me sentiria... Como posso dizer? Ardorosa demais se me deitasse ao seu lado. Assim, nós duas às sós. Me parece algo inapropriado de se fazer já que não é mútuo. Não quero sentir que lhe desrespeitei.

- Não sei o que significa "Ardorosa" mas acho que entendi. - Ela sorriu. - Você fica com a cama de cima então, já que eu não alcanço.

Senti uma diminuta pontada no peito, mas igualmente alívio. O consentimento do ser amado sempre esteve acima dos meus desejos.

Deite-me sobre a cama acima, não me forrei com o cobertor visto que meu corpo inteiro ainda parecia arder. Cruzei as mãos sobre o peito, tentei a todo custo ocupar a minha mente que insistia em pensar nela abaixo de mim. Meus olhos vasculharam o quarto e encontrei o que parecia um post do Paramore. Lembrei o quão ela amava música, e quão descolada ela parecia, peguei-me aficionada na idéia de ouvi-la cantar as músicas do Fresno, Skank ou a Pitty. Parecia muito ser seu estilo. Tentei procurar por um violão ou guitarra, ao que inclinei-me sob a beirada da cama, ela tinha de ter um instrumento, estava convencida disso.

- O que está fazendo? - Ela sorriu.

- Posso te pedir algo?

- Depende, o que é? - Ela fez uma careta de curiosidade.

- Sempre quis te ouvir cantar.

- Hmmmm... Por que iria querer isso?

- Gosto do som da sua voz, é macia como algodão e faz qualquer um pensar que você jamais gritaria com alguém por ser tão contida e linear. - Ficou certo tempo em silêncio, talvez eu tivesse dito algo errado. - Me desculpe, não quis te deixar sem graça.

You Don't Know How Lovely You AreWhere stories live. Discover now