Na cidade de São Paulo, ainda era madrugada no morro do Almeida quando Carla se levantou de sua cama, seus cabelos desgrenhados voavam para todos os lados, seu rosto manchado de maquiagem, sua roupas amarrotas e com um cheiro fortissimo de álcool. Ao se sentar na cama a mulher sentiu tontura, querendo desmaiar novamente e esquecer da realidade deplorável em que se encontrava agora, o motivo pelo qual havia bebido voltando à sua mente.
Carla tinha uma vida simples desde que terminara a faculdade, sua vida no geral se resumia a sua mãe, seu trabalho, e acima de tudo, sua namorada. Ela não se achava a mais atraente, a mais inteligente, e muito menos a mais talentosa, ela era o tipo de mulher que se misturava facilmente em meio a multidão, ela era um fantasma em meio a sociedade.
A mulher agora andara em direção ao banheiro, o cansaço inundando seu ser, a imergindo em um vasto vazio de sua própria melancolia, Carla parou em frente à pia, lavou o rosto na esperança de afastar os pensamentos junto a água fria, de nada adiantou, suas mãos tremiam enquanto pegavam seu remédio para ansiedade. Ela tentava dizer a si que estava tudo bem, que ela estava ficando velha e aquelas coisas aconteciam. "Esta tudo bem!" sua cabeça dizia "Não está não!" o coração teimava.
Seus olhos queimavam por conta das lágrimas, mas Carla se recusava a derramar las, ela esperou por isso um longo tempo, ela rezou, ela pediu, torceu muito para que não recebesse a notícia inevitável, a mulher sabia que não havia jeito, a namorada não tinha chances, e mesmo depois de ter se convencido de que a amada não acordaria, ela estava ali, sentada no chão gelado do banheiro em plena madrugada, chorando com todo seu coração e alma.
Suas mãos agora junto de todo seu corpo tremiam mais ainda, sua mente incapaz de pensar por um bom tempo até que o corpo de Carla finalmente jazia-se inerte no chão, em seu último momento ela pensou em sua velha mãe, mas ela não conseguia mais focar em todo o amor que a mesma sempre lhe dera, a mulher já sofrera de mais, já perdera de mais, e o grande amor que a mãe tinha se perdeu, junto ao seu corpo e mente em meio à um caixote de madeira, enterrado abaixo do solo junto com seu sonhos, suas esperanças, suas dores, e seus anseios.
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Crônicas da Madrugada
RandomCrônicas para ler na madrugada, ou não... ☡Só depressão e/ou morte, se você não gosta desse tipo de conteúdo pode cair fora