Capítulo 32 - A família que não estava nos recebimentos

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Rafaella

— Para de ser frouxa garota, até o Cris que é uma criança subiu no cavalo e você aí assustada — Bianca disse fazendo questão de me ridicularizar, mas em minha defesa Cris estava acompanhado de um instrutor enquanto eu teria que encarar sozinha um cavalo daquele tamanho depois de apenas algumas indicações.

— Nem dá medo — O xexelento falou empinando o seu nariz. Nunca mais ganharia um picolé meu na vida dele.

— Quer que eu te acompanhe? — Ela propôs e, apesar do medo, aquela pareceu uma oportunidade difícil de negar. Dez minutos de Bianca me abraçando por trás enquanto trotávamos devagar pareciam demasiado tentador.

— Se é para não estragar o passeio... — Eu disse como se tivesse cedido a algo que não queria.

Assim, com a ajuda do instrutor, subimos no cavalo eu e depois Bianca que passou os braços pela minha cintura e agarrou as rédeas, fazendo o animal andar.

Seu rosto automaticamente veio para o meu pescoço e ela fez questão de tirar meus cabelos do lugar só para melhorar seu campo de exploração. Ela não fazia nada demais, mas era evidente que ela estava absorvendo meu perfume, o que era estranho, mas delicioso.

A vista da fazenda era muito bonita. Havia muito verde ao redor e também árvores altas. Macieiras, mangueiras e até arbustos altos. Era um clima que realmente inspirava calma. Não imaginei encontrar algo parecido no Brasil.

— Mamãe você trouxe a bola? — Cris perguntou e Bianca assentiu que sim, tirando aquilo de uma bolsa enorme que ela também insistiu em trazer, aparentemente havia um monte de coisa ali, pois foi esse objeto surgir que começaram a aparecer frutas, biscoitos, sucos e coisas que eu nem tinha visto ela organizar. Aparentemente era um encontro e ninguém me avisou.

— Agora você vai ver quem é a craque da camisa dez — Eu falei para Cris tomando a bola dele e jogando-a no chão para começar a chutar. Ele começou a rir e sem nenhum receio começou a correr atrás de mim.

Brincamos de chutar até bem longe, lado contra lado e por fim treinamos às penalidades máximas e era claro que sua mãe como flamenguista que era terminou toda boba com ele fazendo a comemoração do Gabigol.

Eu poderia querer provar que era a jogadora mais importante, mas para a mãe dele o Cris seria sempre o camisa dez do time, o menino mais mimado e amado do mundo.

Eu queria ter tido isso para mim quando tinha a idade dele. Alguém que me apoiasse e amasse de maneira incondicional como uma família, que apoiasse meus sonhos e me ajudasse a ficar firme nos meus objetivos. Talvez eu não seria essa pessoa hoje. Eu poderia ter ser melhor.

— Vem comer — Bianca chamou e eu me sentei, tendo minha cabeça deitada por Cris que começou a me servir como o serviçal perfeito, uma vez que eu não precisaria pagar os direitos trabalhistas.

Bianca parecia divertir-se com o fato de que uma uva parecia cair no meu olho antes que na minha boca, o que denotava que ele seria um ótimo atacante, mas não tinha qualquer talento para goleiro.

Eu também não deixava de ir enquanto dava a fruta de novo na mão dele até que finalmente acertasse. Fazia gracinha mordendo seus dedos gorduchos e ele reclamava amassando minha cara e fazendo careta, mas era sim uma relação de ódio com amor.

Eu gostava dele também. Sua companhia era boa e ele me ensinava sobre cuidado muito embora eu nunca tivesse tido nenhum. Seu sentimento era claro e verdadeiro, me contagiava e me despertava um senso de proteção que eu nunca tive.

Nunca pensei em proteger mais ninguém além de mim mesma. Com pais tão egoístas sempre prevaleceu o eu por mim e Deus por todos da maneira mais escancarada, mas agora parecia diferente. Aquela coisa pequena e diabólica parecia por mim e eu por ele, além de Bianca por nós.

A família que herdei (Versão Rabia)Onde histórias criam vida. Descubra agora