Mia Rojas.
O sol brilhante e quente que entra através das persianas é suficiente pra ir me despertando aos poucos.
Suspiro fundo ao acordar e coço os olhos com as costas das mãos, virando pro lado e olhando minha amiga dormir profundamente.
Natalia tem ficado no meu ap desde a última discussão com a mãe, já fazem quase dez dias e não houve nenhuma reconciliação. Eu e Bill tentamos convecê-la a voltar pra casa, mas sem sucesso algum.
Eu adoro ter Natalia aqui em casa, por mim, morariamos juntas facilmente. Além da excelente companhia, somos muitos parecidas em quase tudo, então nunca entramos em conflito ou discordamos severamente sobre algo. Só que eu também acho que ela precisa voltar pra casa, é lá que ela pertence, não aqui. Nem que eu trabalhasse dia e noite e juntasse dinheiro por 10 anos conseguiria dar metade do conforto que ela tem na mansão.
Assim que me levanto, já vou preparar o café e colocar a mesa. Graças a Deus hoje é um sábado e eu tenho praticamente nada da faculdade pra fazer, também não trabalho.
Quando estou terminando de colocar a mesa, Nat chega a sala, minha mesa não fica na cozinha devido ao espaço, então fica num cantinho da sala que não atrapalha a movimentação pelo apartamento.
— Bom dia. – Ela profere com a voz mansa e baixa.
— Bom dia amiga. Dormiu bem?
— Dormi sim. – Ela se senta, corta o pão e começa a passar manteiga.
Eu saio do Brasil mas o Brasil não sai de mim. Então não tem esse negócio de pilhas extravagantes de waffles e bacon frito com ovo no café da manhã não.
Prefiro meu cafezinho com leite e meu pão com manteiga. Mas sempre deixo uma opção de fruta e massa pra Natalia, que está mais acostumada.
— Não tão bem quanto dormiria na sua casinha super humilde né? – Tiro uma com a cara dela que me olha com cara de tacho e molha o pão no café. Ensinei isso a ela.
— Não começa logo cedo.
Rio anasalado e dou de ombros, me sentando a mesa.
— Eu gosto de estar aqui, posso fazer e comer o que quiser. Se minha mãe me visse comendo esse monte de farinha branca e glúten ela me internaria num hospital psiquiátrico.
— Ai como é dramáticaaaa. – Reviro os olhos, seguindo os mesmos passos que ela fez antes de começar a comer.
Meu celular que estava em cima do sofá começa a tocar, chamando nossa atenção.
— Um segundo. – Me levanto da mesa e vou atender.
Quando vejo o número, não reconheço. "Número desconhecido"
Provavelmente é a operadora ou algum trote, então desligo. Mas antes que eu pudesse voltar a mesa, toca novamente. Mal deixo tocar e atendo de uma vez.
Número desconhecido.
Me: Quem é?
Xx: Mia, é o Tom.
Fico calada por uns instantes. Antes de retomar o lugar de fala.
Me: Por quê está me ligando?
Xx: Eu estou precisando falar com a Natalia mas ela não responde minhas mensagens a nenhum custo.
Me: É óbvio que ela não responde. Você pode tirar sua razão?
Natalia nota que é da casa dela e começa a fazer sinais pra eu disfarçar e desligar.
Xx: Não. Eu sei o quão... rígida pode ser minha mulher, sei o peso que ela coloca sobre a Natalia. Mas ela precisa voltar pra casa, estamos todos preocupados com ela.
Me: Ela está comigo, Tom. A Natalia está perfeitamente bem. Se você e essa lunática da sua esposa realmente se importassem com a Natalia, teriam vindo aqui e se redimido com ela. Mas tudo o que Heide faz é ter o mesmo comportamento de uma criança de 5 anos ao se comunicar com a menina por recado mandado pelos outros.
Me: Não volte a me ligar.
E assim desligo o celular em sua cara. Antes que eu pudesse voltar novamente pra mesa, toca mais uma vez.
Me: O QUÊ?
Xx: Você é tão hipócrita que chega a ser engraçado.
Me: Hipócrita?
Ah porfavor, faz-me rir.
Xx: Diz que a Heide é a pessoa a ter comportamentos infantis quando você, uma adolescente de que? 17, 18 anos tá acobertando outra adolescente de 18 anos numa fuga que vai acabar mal.
Me: Eu tenho 19, babaca.
Xx: E eu 33. Acredite quando eu digo que você não sabe nada da vida.
Me: Tabom pai, e o que você sabe?
Xx: Eu sei que se a Natalia não voltar pra casa hoje a coisa vai ficar feia pro lado dela. Heide vai bloquear todos os cartões de crédito, doar todas as roupas que ficaram aqui e confiscar os documentos da garota, você tá entendendo? Natalia não terá pra onde correr ou com o quê comprar. Ela simplesmente vai deixar de existir.
Me: Ela não pode fazer isso... pode?
Xx: Não existe nada nesse mundo que Heide não consiga com dinheiro e um pouco de carisma. Eu reservei uma mesa na Lux hoje as 22:00, Bill disse que você tá trabalhando lá e o lugar é da hora. Consegui convencer Heide de ir pra tentar uma possível reconciliação. Se gosta tanto assim da Natalia quanto demonstra, vá com ela no horário marcado.
Agora é a vez dele de desligar.
Natalia está ferrada.
E eu mais ainda por acoberta-lá nessa loucura.
***
Escritora.
Depois de quase uma hora e meia de conversa, Mia conseguiu convencer Natalia a ir na boate e dar uma chance da mãe se desculpar. Mia mostrou todas as possibilidades para a amiga, contou as informações que Tom passou para ela e fez Natalia perceber que continuar com isso não afeta Heide em nada, a única pessoa a sair prejudicada é ela mesma.
