Capítulo 22

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Pegue, pegue tudo
E comece de novo
Você tem uma segunda chance
Você poderia ir para casa
Escapar de tudo isso
É apenas irrelevante

É apenas medicamento
É apenas medicamento

Você ainda pode ser
O que você quer
O que você disse que era
Quando te conheci

(Medicine — Daughter)

Narração Por Freya Victoria Walker

Londres, Inglaterra

Janeiro 05, quinta-feira

Encolho meus ombros ao ver um pote que deveria estar cheio de compridos e agora estar vazio em cima da cama. Lembro de tomar apenas alguns comprimidos quando recobro a consciência devagar, deixo algumas lágrimas caírem violentamente sobre o meu rosto. Por enquanto a minha mente lembra apenas de ler o livro e sentir dor na cabeça, e tomar um ou dois comprimidos. Mas eu sei perfeitamente que a vezes a minha mente brinca comigo e acabo fazendo coisas sem pensar.

— Tomei alguns remédios pra dor, estava com dor de cabeça — Digo abraçando o meu próprio corpo, olho para o Jason que nega antes de se levantar

— Alguns não, o vidro inteiro — Responde com mágoa na voz e consigo sentir meu coração batendo devagar, triste com as suas reações

— Não me lembro de tomar todos, juro, estava com dor de cabeça — Digo olhando para os meus pais desesperada

— A culpa é minha, esqueci de trancar a gaveta — Mamãe responde afundando seu rosto no ombro do papai envergonhada, mas não é sua culpa

— A culpa não é de ninguém, a minha filha precisa fazer alguma lavagem para retirar esses remédios? — Papai pergunta em direção ao doutor que continua no meu quarto e o vejo negar

— O organismo já estar expulsando todos eles — O doutor responde antes de se retirar com a Maggie, que enxuga seu rosto molhado

— Não acredito que fiz isso — Sussurro apenas para mim enxugando o rosto e olho em direção a gaveta aberta

— Posso conversar com a Freya a sós? — Jason pergunta e Daniel sai imediatamente com a minha mãe, não sei se quero ficar sozinha

— Não lembro de ter tomados todos — Digo não sentindo dor no corpo e nem se quer no pulso, mas as minhas mãos tremem violentamente e sinto muito sono como se meu corpo fosse apagar a qualquer momento

— Pensei que você gostasse de mim, pensei que amasse seus pais — Diz e franzo as sobrancelhas confusa, será que o Jason não consegue escutar as minhas palavras anteriores

— NÃO QUIS ME MATAR — Digo aos gritos não suportando mais as suas acusações

— Então o que foi? — Pergunta cruzando os braços, mas antes enxugando uma lágrima teimosa que ousa cair na sua bochecha

— Estava lendo, quase terminei e senti muita dor de cabeça. Peguei os medicamentos para dor, não me toquei que a gaveta estava destrancada. Tomei alguns e depois dormi — Digo lembrando exatamente do que me lembro até agora, ou a minha mente estar me traindo?

— Você não dormiu, desmaiou — Jason responde entre dentes e vem em minha direção pegando o livro ao meu lado

— O que você estar fazendo? — Pergunto assustada ao abrir meu livro e verificar onde parei exatamente, mas o marcador entrega apenas a metade do livro

— Você não disse que estava terminando, estar no mesmo canto onde vi pela última vez — Responde com tanto ódio que é capaz de jogar o livro pela janela, lembro agora que a última vez que li esse livro foi na véspera de Ano Novo

— O que que estar acontecendo, lembro de ler as páginas do livro, mas não consigo lembrar da história — Digo levando as mãos a cabeça assustada e vejo Jason me olhar preocupado

— Você deixou sua mãe apavorada — Responde e não consigo dizer quantas vezes que não quis me matar

— Quero ficar sozinha — Digo o fazendo negar rapidamente

— Pra tentar se matar de novo — Responde e não consigo olhar na sua cara ao falar comigo desse jeito, preciso ficar sozinha antes que a minha cabeça exploda

— Não sei o que estar acontecendo — Sussurro abraçando ainda mais o meu corpo, tomei todos os comprimidos e devo ter alucinado com aquelas drogas, mas por que tentei me matar?

Volto a deitar na cama e Jason se senta no divã me olhando com toda sua atenção, como um segurança. O relógio na mesinha marca meia noite, e assim fecho meus olhos novamente caindo na escuridão. Acordo abrindo apenas meus olhos e verifico se tem mais alguém no meu quarto, estar vazio, mas consigo escutar seus passos vindo do banheiro.

Jason — Chamo seu nome alto e me sento na cama, o relógio marca meia noite novamente

— Abre a gaveta, tem muitos comprimidos para você se matar, não é isso que sempre quis — A voz soa sobre meus ouvidos, fico confusa pelos passos no banheiro e ninguém estar saindo dele

Sinto uma mão pesada no meu corpo, abro os olhos arregalados e sinto uma mão pesada me movimentar para acordar. Sento com dificuldade e Jason segura meus braços ao tentar avançar a mesinha com os remédios, mas não tem mais mesinha com gavetas. Existe apenas uma mesa sem nada, meu relógio marca oito horas da manhã e uma garrafa de água.

— Seu pai retirou a mesa e a droga dos seus remédios — Jason me afasta sem delicadeza alguma, o vejo esfregar seu rosto e me olhar incrédulo

— Foi ele, ele mandou tomar os remédios — Digo desesperada para falar antes de esquecer novamente

— Quem? — Pergunta se aproximando preocupado, fecho meus olhos confusa com o que estar acontecendo comigo, o que foi que eu fiz?

— O meu sonho, ele estar dentro do banheiro — Digo coçando todo o meu corpo nervosa e Jason nega se afastando novamente

— Não, ele estar na sua mente — Responde, alguém bate na porta e os meus pais entra em seguida

— Como você estar? — Cristine se aproxima se sentando ao meu lado, consigo ver o Jason fazendo um sinal para conversar com o meu pai fora do meu quarto

— Não tentei me matar — Digo lhe abraçando desesperada, não quis me matar e nos duas choramos nos braços uma da outra

— Eu sei, meu amor — Mamãe responde nos meus ouvidos, acaricia meu cabelo e volto a ficar deitada com a mesma fazendo carinho no meu cabelo

(...)

Depois de fazer minha higiene matinal volto para o quarto e troco de roupa, vestindo apenas um vestido quase parecido com uma camisola, mas ele é bastante longo. Descemos para tomar café da manhã, Jason se senta ao meu lado e os meus pais na minha frente. Tomo apenas mingau de aveia, minhas mãos tremem quando tento colocar uma colher na boca. Limpo a minha roupa com o guardanapo depois de deixar cair comida, Maggie coloca meu mingau em um copo e tomo tudo sem derrubar.

— Terminou? — Jason pergunta sobre o meu café da manhã e confirmo rapidamente

— Não vai para empresa hoje? — Pergunto em relação aos dois homens da minha vida, meu pai e o Jason, mas tenho certeza que os dois não querem me deixar sozinha com a minha mãe

— Não precisam da gente hoje por lá, vamos ficar um pouco no jardim? — Jason pergunta e confirmo querendo sair o mais rápido daqui, quero respirar algo fresco

Saímos de casa onde podemos ficar em uma mesa olhando e admirando o jardim. O clima estar um pouco diferente, mas continua frio. Parece que janeiro é o mês mais frio do ano aqui em Londres. Abraço meu corpo e não sei por onde começar, agora tenho certeza que foi eu mesma que tomei os remédios.

— Desculpa — Peço desviando os meus olhos do jardim e fixo em seus olhos castanhos claros

— Fiquei apavorado, com medo e confuso — Responde e ontem consegui ver raiva também, mordo meu lábio inferior com força quase o deixando sangrar

— A minha cabeça é uma droga — Digo pensando demais, confusa demais

— Amei nossa noite juntos, e não quero te perder agora, amo você Freya — Responde e o olho assustada deixando lágrimas caírem sobre meu rosto

Dive in youOnde histórias criam vida. Descubra agora