Você precisa se destrair

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Jk está gritando atrás da porta de madeira. Pergunto-me se devo realmente entrar, mas as palavras de Va Te Fouder foram claras: "Jk quer vê- lo sem falta, antes do horário de fechamento" Engulo em seco e minha mão fica estática na maçaneta enquanto penso se é certo mesmo estar aqui agora ou não. Respiro fundo e bato à porta três vezes seguidas. Ten pede para que eu entre.

— Oi... — entro com hesitação e fecho a porta atrás de mim. O vento sacode o colarinho da camisa social branca que estou vestindo e tento me aproximar delicadamente da mesa dele. — Mandou me chamar?

— Exato — Jk conserta a postura e arranca a máscara do rosto. Ainda estou para perguntar o porquê de ele usar isso desde que nos conhecemos. — Eu vou precisar de você hoje comigo. Porque, como sabe, aconteceu uma grande merda hoje e não estou conseguindo expressar meu ódio em coreano, então o máximo que posso fazer é tentar resolver o problema.

— Pode se expressar em francês, tailandês ou inglês — digo, mexendo numa caneta azul sobre sua mesa. — Sobre a ajuda... Posso, sim.

— Eu não perguntei se você podia ou não — sua patada é tão forte que eu dou um passo para trás e deixo a caneta em paz. Esqueço que quando ele está estressado não está muito bom de conversa. — Você vai, porque estou mandando.

— Calma, ok? Descontar a raiva em mim não vai mudar nada — resmungo sem olhar para ele, pronto para sair. De repente, nem quero mais ajudá-lo.

Hoje logo cedo pela manhã, após eu ter chegado mais cedo que todo mundo, Jk apareceu todo preocupado porque soube pelo jornal que houve uma queda de energia no bairro. Como ele não mora aqui, seu bairro não foi afetado. Isso é bom em partes, pois antes tivesse sido na sua casa e não no restaurante. As geladeiras simplesmente pararam e os freezers também. Jk surtou logo cedo — digo, um surto de raiva misturado com nervosismo — e eu nem pude tentar acalmá-lo porque estava completamente inalcançável. No início, quando ele gritava e reclamava das coisas, eu não dava muita bola para isso, repudiava suas atitudes, observava de longe. Mas após vê-lo essa manhã, tudo que quis foi abraçá-lo bem forte. Mas não pude.

Agora ele está mais calmo, porém numa ignorância que só Jesus pra curar. Eu sei que não devo aceitar as grosserias que ele está fazendo comigo, mas acho que não é bem a intenção dele. Estou esperando uma oportunidade de beijá-lo, para ver se assim ele percebe que tem a mim e, mesmo que ele tenha perdido todos os congelados e frios, saiba que está tudo bem. E eu entendo ele, sabe? Teve que dispensar grande parte da equipe hoje, remarcou reservas e explicou-se aos clientes. Não pôde abrir hoje, pois insistiu em dizer que não iria servir carnes que estiveram tanto tempo descongeladas e ainda mais agora que voltaram a estar congeladas com a volta da energia. Não sabemos o que houve precisamente, pois descongelamentos são normais, mas os frios foram para o beleléu e não parecem muito bem. E Jk está uma fera.

— Não estou descontando em você — responde-me, levantando-se da cadeira e pegando o telefone. — Enfim, vamos logo. Temos que trazer pra dentro tudo que encomendei.

Vamos saindo do escritório, descendo as escadas. Ele conversa com alguns funcionários que estão tentando ajeitar tudo. Eu apenas sigo-o como se estivesse debaixo da sua saia. Não quero ficar no seu pé, então permaneço em silêncio durante todo o tempo. Vamos no local onde ele encomendou a carne, pois disseram que o carro deles quebrou e sentiam muito. Não dei importância a isso e percebi que hoje meu foco do dia não está sendo eu e meus pensamentos esquisitos em relação a mim mesmo e a Jk. Na verdade, eu não tiro os olhos dele. Eu não gosto de vê-lo assim.

Não almoçamos. Trazemos quilos de diversas carnes que eu particularmente não tenho a mínima ideia do que seja e logo saímos para ir à uma loja de geradores. Jk compra-o, faz questão que instale-o hoje mesmo. Ele tem muito dinheiro. Queria ter muito dinheiro. No meio do caminho, explica-se que talvez deva aumentar mais a equipe daqui a um mês, aproximadamente, pois há muitas coisas sobre suas costas e ele não está conseguindo administrar tudo ao mesmo tempo. Ultimamente tem ficado muito no escritório e sonha com os cheiros e os prazeres da cozinha.

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— Por que não coloca Namjoon para te substituir às vezes? — sugiro, engolindo em seco ao pronunciar o nome dele. Eu detesto ele.

— Ele já fez isso demais. E não posso fazer isso, preciso de um maître, Jimin. E ele é um ótimo maître, não quero tirá-lo disso. Ele já me ajuda bastante na gerência, então não posso pedir mais que isso — conta, apertando os dedos no volante. Eu fico olhando para os anéis ao redor dos seus dedos, reluzentes pelo brilho solar.

— Sabe que eu acho? — limpo a garganta e giro meu corpo para a sua direção, mesmo que o cinto de segurança me limite. — Você precisa se distrair, Jk. Sei que passamos o último final de semana juntos, mas parece que sua cabeça sempre está lá e... Eu acho que você deve esquecer um pouco suas responsabilidades e relaxar. Fazer tudo com calma.

— Eu estou fazendo tudo com calma.

— Você gritou comigo, no mínimo, vinte vezes hoje — falo e, por incrível que pareça, ele não nega. — Se você quiser, podemos ir a algum show sexta à noite. Posso te ajudar a relaxar um pouco.

— Eu não posso. Vou estar ocupado estudando e tentando calcular meu prejuízo da semana e como vou reverter toda essa merda. Ai, que ódio, sinceramente... — vejo sua unha arranhar o couro do volante e respiro fundo.

Estou com raiva por ele se colocar nessas situações.Ele nem precisa estudar agora, sendo honesto, poisainda há muito tempo para ele poder estudar. Gosto dele sendo ele, sem estar sobrecarregado ou estressado, me puxando pela cintura e vindo me beijar calminho e lento. Me pergunto se, caso eu beije-o agora, sentirei o gosto da sua raiva e cansaço? É amargo? E se for, é saboroso como chocolate. Quero embalá-lo e colocá-lo protegido no meu peito.

— Jk, para o carro.

— Não — ele nem olha para a minha cara.

— Se você não parar, eu me jogo. Não estou brincando, eu me jogo — quando ele vê minha mão prestes a abrir a porta, ele trava-a e desacelera, deixando a velocidade dissipar-se no acostamento.

— E o que foi agora, Jimin? — cruza os braços e me encara com raiva.

— Você vai me bater? — atiço, cansado já de tanta agonia e grosseria para cima de mim. Eu entendo ele, mas estou bravo. Estou bravo.

— Você quer que eu te bata?

— Se você quer, vá em frente!

Quando percebo que Jk está se aproximando pra valer e vejo sua mão subir na minha direção, por um momento penso que ele realmente irá me bater e seguro seu braço com uma rapidez que nem eu mesmo pensei que seria capaz de fazer. Encaro seus lábios rosados, vejo-os se afastar para que ele diga mais uma das suas baboseiras. Sem permissão, entro na minha morada, onde já tenho jardim pra cuidar e estendi roupas pra secar. Ele não se afasta, mas está apressado mais que o normal.

Eu quero lento, Jk, quero que seja lento. Ele não acompanha meu ritmo. Segue o próprio, escreve a própria partitura e, percebendo que estamos desconexos e que ele já está fazendo o encerramento, cedo à sua pressa. De praxe, morde o lábio, porém desta vez dói. Não demonstro, pois quero-o do mesmo jeito, doendo ou não.

Ele gosta da minha mão em seu pescoço, de como acaricio-lhe o pomo de adão, do jeito que minha cabeça inclina para o lado, de quando minha língua entra e depois sai como se nada tivesse acontecido. Sinto os estalos que se dão quando ele chupa meu lábio, pois arrepiam meu corpo. Estamos apenas no acostamento, e se alguém nos ver? Quão vergonhoso será? Mas estive esperando esse beijo o dia inteiro. O dia inteiro sonhando com este algodão na minha boca, desmanchando-se na minha língua e trazendo- me sensações doces. Como eu amo cada coisa que ele faz! Mesmo quando bagunça meu cabelo da nuca puxando-o para baixo, eu absolutamente amo.

Quando nos afastamos, nossas respirações cruzam- se, ligam-se, amam-se, casam-se. Minha língua rasteja devagar pelos seus lábios, umedecendo-os. Jk afasta-os no mesmo segundo, pronto para me beijar outra vez. Apenas deixo nossas línguas encostarem-se rapidamente. Beijo-lhe o lábio inferior suavemente, tentando trazer a calmaria. Ele sorri e isso me faz sorrir também.

— Jk — chamo-o, assim que sua cabeça desce e ele passa a encostar os lábios no meu pescoço. — Você ainda vai sair comigo?

— Tudo bem — beija-me delicadamente na lateral do pescoço. — Mas só porque se trata de você e gosto de passar tempo contigo.

Eu sorrio, sem saber o que responder. Pisco os olhos e já estamos nos afastando de verdade. Nem sei quando foi que tirei o cinto, não me lembro disso. Mas não importa. Não falamos mais sobre trabalho, sobre estar sobrecarregado o quanto de ódio Jk está. Estamos em silêncio e, quando o semáforo espirra a frequência mais baixa de luz visível e Jk aos poucos para o carro, sinto sua mão apertar a minha sobre minha coxa e eu olho-o com um sentimento de queimação.

Ele não está olhando para mim, e sim para frente. Aperta a mão ao redor da minha, com os gélidos metais dos anéis contra minha pele quente. Não sei se devo virar a minha palma e capturar-lhe a mão, pois tenho medo de fazê-lo fugir. Ele me deixa hesitante e isso me causa desconforto.

Jogo a cabeça no recosto e fecho os olhos. O carro acelera e mesmo assim tua mão continua sobre a minha. Que isso quer dizer? Estou confuso. Por que ele está fazendo isso comigo quando não é do seu feitio? Ele troca de marcha e isso me causa alívio, pois sua mão desgruda-se da minha e este sentimento de que talvez ele esteja forçando algo que não é, apenas para me agradar, escapa do meu corpo. Mas aqui está ele outra vez, vindo pôr a mãozinha na minha como se precisasse disso para se concentrar no trânsito. A cada oportunidade que tem em dirigir com apenas uma das mãos, joga-se a minha e então escrevo um monólogo mental sobre que diabos está acontecendo com esse homem.

Tudo está tão estranho... E ele não solta. Isso é tão estranho... Porque aprendi a não ter teus carinhos quando preciso, porque sei que não gosta. Mas aqui está ele fazendo isso comigo.

— Assim que chegarmos lá e ficarmos de olho na instalação, vamos comer algo bem gostoso — diz-me quando passamos por um billboard de supermercado.

— Sim, senhor.

Ele sorri para mim ao vira-se rapidamente. Que será que Jk me fará vomitar primeiro: frango frito ou este
amor careta?

Café et Cigarettes • JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora