Ombro amigo

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Anna saiu mais cedo do expediente e foi até o hospital onde trabalhava a noite para tentar conversar com o psiquiatra. Levou os exames impressos que fez na policlínica. No entanto, os exames que fez no hospital ficavam acessíveis na rede interna. Qualquer médico que tivesse acesso ao prontuário eletrônico do paciente, tinha acesso aos exames.

No consultório do Dr Igor, o psiquiatra, Anna sentou e entregou o resultado impresso dos exames que ela fez na policlínica.

— Por que você fez exames fora do hospital? — Pergutou o médico.

— Por que eu trabalho em outro lugar de manhã e precisava fazer em jejum. Fiz aqui só os que não precisavam do jejum. Aí, eu não quis esperar a semana seguinte para fazer o exame aqui no hospital. Ando muito ansiosa e queria que você avaliasse a minha situação o quanto antes. Depois daquele dia, ainda tive outro episódio de ansiedade.

— Certo! E o que você fez durante esse episódio? — Perguntou o médico enquanto avaliava os exames.

— O médico da policlínica me ensinou exercícios de relaxamento e eu melhorei. Ele também recomendou ioga.

— Embora seus exames estejam alterados, a dosagem dos remédios que eu recomendaria seriam bem baixas. Eu recomendo que você continue com os exercícios de relaxamento. Neste exato momento eu não vou te dar nada porque, pelos seus exames, você está grávida e os remédios são incompatíveis com seu estado. Mas quero te acompanhar. Assim que o bebê nascer, quero que você venha fazer novos exames. Com essa ansiedade, você é grande candidata a depressão pós-parto.

— O quê, doutor? É impossível! Eu uso anel! Eu tenho meu calendário aqui. — Anna pegou o calendário e viu que esqueceu de trocar o anel no último mês. Caiu no meio da confusão da mudança, justamente o período que ela mais teve relações. — Ai, não. Agora, minha vida ficou mais confusa ainda.

— Parabéns! Pela sua reação, você não sabia. Mas não tem problema. Aconselho a diminuir o trabalho que te estressa e aumentar as atividades físicas e de relaxamento, como pilates e ioga. As duas são ótimas para manter corpo e mente equilibrados.

— Está certo, Doutor. Vou seguir seu conselho.

*

Anna saiu do hospital atordoada. Falou com seu superior que não estava em condições de trabalhar e tirou dois dias de descanso. Em seguida, ligou para Angela para desabafar.

— Anna, querida. Como está? Queria mesmo saber de você? — Angela falou empolgada.

— Estou ferrada, Angela. Estou grávida! — Anna desabafou, contou toda a história e Angela ficou calada por um momento.

— O que você vai fazer, Anna?

— Não sei. Com toda essa confusão não tenho idéia. Vou esperar o Leo voltar de viagem pra falar com ele.

— Não fica ansiosa! Um bebê é a coisa mais fofa do mundo! E eu vou ser titia onde quer que você esteja. Se quiser viver uma história de amor com uma família linda em uma ilha paradisíaca você tem todo meu apoio.

— Ai, Angela. Só você pra me fazer rir no meio dessa desgraça.

— Pra que servem os amigos. Né? — Angela falou animada. — Quero te ver. Posso começar a babar meu sobrinho? E comprar um mundo de presentes pra ele?

— Sobrinho? Ele? — Anna riu.

— É. Vai ser uma miniatura do Mestre. Um Aprendiz. Quero ver vc cercada por duas doçuras. Pensa que eu não vejo que o Mestre come na sua mão? Com você ele é tão doce que dá diabetes. Acho que a Donna o dominou.

Angela e Anna gargalharam da brincadeira. Agora, Anna se sentia mais leve. Foi pra casa organizar as coisas e pensar na vida.

MaI Angela desligou o telefone com Anna e entrou uma chamada de Paulo.

— Oi, Paulo. Como vai? — Angela o cumprimentou

— Oi, Angela. As coisas não estão boas. Liguei pra te pedir uma ajuda. — Paulo desabafou.

— Claro! Tem alguma coisa errada com o projeto? O que você precisa?

— Nada de trabalho. Preciso de telefone da Anna.

— Posso perguntar pra quê, se não for muita intimidade? — Angela perguntou amistosamente.

— Preciso dos documentos pessoais do Leo. Ele tem plano de saúde e a gente precisa dos dados. Ele está internado e os pais querem transferí-lo.

— A Anna não está sabendo disso. Ela acha que ele está viajando. O que ele tem? — Angela falou preocupada.

— Ele levou um tiro em uma missão. Está em coma e eu estou o Rio com os pais dele pra ajudar. Eles querem transferí-lo para um hospital melhor.

— Deus do céu! Não vai falar com a Anna, não. Eu estou indo pro Rio. Vocês podem esperar mais um dia? Eu vou até a casa dela e pego os documentos pra vocês. — Angela se desesperou.

— Por que isso tudo? — Paulo não estava entndendo nada.

— Não devia te falar porque não é meu assunto. Mas Anna acabou de saber que está grávida. E ela só descobriu porque está com crises de ansiedade e fez um monte de exames pra poder tomar remédios. Resumido: Ela está ansiosa e depressiva e não pode tomar remédios porque está grávida. Não podemos adicionar desespero nessa receita.

— Que mer.da! Quero dizer, é ótimo! A situação é horrível! — Paulo suspirou. — Acho que a gente pode esperar, sim. Mais um dia não vai fazer diferença.

— Como ele está, Paulo?

— Fisicamente está bem. Tiraram a bala e o corpo, da cabeça pra baixo, está funcionando bem. Só está em coma e ninguém sabe quais serão as sequelas. Ele teve uma parada cardíaca e teve uma concussão. Então, não sabem ainda o que o deixou em coma.

— Espero que tudo corra bem. Eu estou saindo daqui de SP agora. Vou dar uma desculpa pra dormir na casa da Anna.

— Obrigado por se envolver, Angela. — Paulo agradeceu aliviado.

— De nada. A Anna merece essa atenção. A vida não está fácil pra ela.

Angela, que estava em São Paulo, correu para pegar o próximo vôo pro Rio. No aeroporto, passou por uma lojinha e comprou uma lembrancinha qualquer de bebê para Anna. Só para justificar a ida ao Rio. E enviou uma mensagem pra Anna dizendo que estava a caminho e que passaria a noite com a amiga. Recebeu de respostas um monte de corações. Agora, ela só precisava arranjar um jeito de contar o ocorrido pra Anna. 

Donna O poder da atraçãoWhere stories live. Discover now