22. Ache os Arcanjos. Mate Jordan Benacci

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Corro.

O vai e vem das ondas rasgam a areia enquanto forço um pé à frente do outro. O esforço me faz ficar ofegante, e a dor nas costas não ajuda. Escalo, escorrego, repito o processo. Mais dunas. Mais rápido. Mantenho os olhos fixos à minha frente. Não olhe para trás. Não devo olhar, se eu olhar... Inspira, expira; inspira, expira. Ainda assim eu corro. A dor me consumindo. Eu corro.

Quando os pulmões estão prestes a entrar em combustão e o coração a explodir, uma pedra surge na areia, tropeço. A garota retorna. Ergue-me e apressa-me. Estão chegando mais perto.

Não posso aguentar, e caio novamente. Não consigo mais correr.

Ela se ajoelha para me pegar e olha em meus olhos.

— Está na hora. Rápido, agora!

Está perto. Sem chance de resgate.

— Jamais esqueça quem você é! – Ela grita, segura meus ombros com firmeza e me sacode com força.

Um manto de terror suprime o mar. A areia. Suas palavras, as contusões em meus braços, a dor em meu peito.

É aqui.

Acordei ainda sem saber muito bem onde estou. Está chovendo e mal percebo quando meus pés começam a se mover para fora de onde quer que eu esteja.

Minha mão treme no instante em que me apoio no muro de tijolos. A chuva fria cai com força na minha pele, vinda de um céu que não reconheço. É difícil respirar, difícil entender onde estou. Tudo que sei é esse desejo voraz de caçar Hazel Carter e Jordan Benacci.

Não há tempo. Não sei se tenho minutos, segundos ou até menos que isso até que eu desapareça de novo. Desesperada, começo a vasculhar estas roupas desconhecidas: Um vestido curto e uma jaqueta sem bolsos, entro no quarto no qual acordei, de novo. Não consigo achar uma caneta ou um papel, mas há batons em uma gaveta de maquiagem. Com os dedos trêmulos, tiro a tampa e começo a rabiscar o espelho na parede. É a mensagem que preciso guardar, o único objetivo do qual tenho que me lembrar, depois disso, já era.

Ache os Arcanjos. Mate Jordan Benacci.

Então, posso apenas esperar pelo pior. Mas o pior não vem. Não perco a consciência de novo, não volto para o vazio que existe dentro desse corpo. Acho que estou livre. Finalmente.

Encarei meu reflexo no espelho, me permitindo alguns segundos de felicidade. Encarei meus olhos, que não estavam como o esperado. Eles não estavam totalmente verdes, pelo menos não ainda. A borda da íris estava completamente azul, como um círculo me prendendo. Sempre presa, sempre esperando uma oportunidade de sair. Raiva era só o que eu conseguia sentir, e os fechei com força. Não queria ver isso de novo.

Minha cabeça estava chiando como uma tv com defeito.

— Allyson — Ouço Adam chamar meu nome e me viro assustada.

Claro, é o nome dela.

— Sim?

— Minha nossa, andou dançando na chuva? — Ele abre um guarda-roupa e pega uma toalha, colocando ao meu redor.

Pelo que me lembro, esse lugar é completamente imundo e fede a esgoto. Será que Adam passou tanto tempo aqui que fez um complexo para passar o tempo? Pois tudo o que fazia a usina ser nojenta, desaparecia nessa parte.

— Bom, eu gosto da chuva — Respondi com certa aspereza, estava acostumada com aspereza. Era só o que eu conhecia — Acordei sem me lembrar de muita coisa, me sentindo estranha. Pode me explicar?

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now