Capítulo16

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Henrique Moretti

Dói. Dói como um inferno ter precisado me afastar dela de uma forma tão drástica. Doeu ver o olhar dela de tristeza com tudo o que falei, mas eu não posso me dar ao luxo de pensar tanto nela dessa vez, eu precisava falar.

Guardei tudo por tanto tempo, fiz tanta compartimentação de sentimentos que eu acabei explodindo e colocando tudo para fora.

Tanto eu quanto ela acabamos o resto do percurso de viagem em silêncio, não havia nada mais que pudesse ser dito, eu precisei aceitar que ela nunca pretendeu ficar comigo a serio, e eu não posso mais suportar viver assim.

Descemos do avião e o Thiago juntamente com sua irmã Angélica já já estavam nos esperando, ambos encostados no carro preto de vidros blindados.

- Vocês devem ser Beatrice e Henrique, estou certa?- A mulher perguntou e eu assenti confirmando.

Ela é bastante bonita e aparentemente simpática também, me olha com um sorriso estonteante estampado no rosto.

- E você quem é mesmo?- Beatrice questionou de forma um pouco rude.

Achei desnecessária a pergunta, afinal ela estudou os arquivos tanto quanto eu, e parte principal da papelada era sobre os integrantes da família dos comandantes da Argentina.

- Angélica. - Respondeu com um sorriso um pouco menos entusiasmado que o primeiro.

Thiago interrompeu a interação confusa e desconfortável antes que ficasse pior e nos mandou entrar no carro, as nossas malas vão no carro de trás junto com um dos soldados por questão de logística de espaço e conforto, é claro.

A casa é bem afastada do centro comercial, perguntei ao Thiago a respeito disso por que esse é o nosso primeiro contato um com o outro, então preciso me inteirar das coisas ainda. Ele disse que basicamente esse afastamento se dá ao desejo de privacidade, assim como na Itália a família Fontenelle é insistentemente perseguida por curiosos, entusiastas e repórteres, já perdi as contas de quantas vezes eles acabaram indo parar em colunas de fofocas, ao que parece aqui eles enfrentam o mesmo problema.

Demoramos cerca de trinta minutos para chegar na casa, mas o tempo foi razoavelmente agradável para colocar as ideias em ordem.

- Henrique, posso te mostrar o nosso centro de treinamento?- Angélica questionou e eu sorri agradecendo e um pouco receios de parecer mal educado ao recusar a oferta, mas eu tenho um proposito para essa viagem e não posso me perder.

- Talvez outra hora, eu e a Beatrice temos que fazer um estudo pratico da cidade e de todo território de vocês para saber os últimos lugares em que o Nicco esteve.- Respondi e ela ficou aparentemente triste.

Não vi razões para isso afinal de contas ela nem mesmo me conhece.

- Eu poderia ajudar.- Angélica se ofereceu prestativa, eu iria aceitar a ajuda por que ela conhece o território mil vezes melhor que nós, mas a Bea acabou sendo mais rápida.

- Não precisa.- Respondeu.

Franzi a testa confuso mas deixei passar, peguei as minhas malas e as da Beatrice e acompanhei o Thiago para o andar dos quartos, por praticidade eu pedi para ficar no quarto ao lado do da Beatrice e ele teve uma ideia ainda melhor, nos colocou nos quartos mais antigos da casa, eles tem uma porta em comum interligando ambos.

Vai ser uma tortura ter ela a apenas uma porta de distância sem poder fazer nada a respeito.

- Vamos ver o mapa agora?- Beatrice perguntou e eu confirmei. Quanto antes começarmos melhor.

- Deixei um em cima da sua cama Henrique, e sinta-se a vontade para dispor das minhas tropas se for preciso.- Respondeu apontando para o rolo em cima da cama.

Eu prontamente agradeci e ele se retirou nos deixando sozinhos. Primeira vez que ficamos a sós em um quarto depois que terminamos definitivamente, não faço a menor ideia se eu tenho força o bastante para isso.

- Faça a sua magica.- Falei para a Beatrice, a melhor rastreadora de toda a Itália.

- Aquela vaca está bem oferecida, não acha?- Perguntou enquanto tira do dedo um anel e um colar do pescoço.

Não sei como ela faz esses cálculos de probabilidades, mas sempre fico encantado em como ela consegue ser precisa em cada um deles.

- De quem você está falando?- Perguntei verdadeiramente confuso, não me lembro de ninguém que possa ser chamada de vaca.

- Daquela ridícula da Angélica, não se faça de bobo. Ela só faltou abanar o rabo para você.- Beatrice disse aparentemente constrangida demais para olhar para mim, então começou a andar de um lado para o outro procurando por uma caneta.

Senti um pequeno sorriso surgindo em meu rosto mas me obriguei a deixa-lo de lado. Me obriguei a pensar que isso é só mais uma tática dela agora que me afastei.

Passei longos e dolorosos três anos correndo atrás dela, rastejando aos seus pés desejando só um pouco de atenção e tudo o que ela fez foi me chutar.

Isso não é o tipo de coisa que alguém que sentiria um ciúme genuíno faria, não é?

Ciúmes é coisa de quem ama, eu vivo morto de ciúmes dela... Mas não vou me dar ao trabalho de acreditar nela.

Não agora que sou eu quem está decidido a seguir com a vida, mesmo que doa.

- Ela é bonita e atraente, não vejo qual seria o problema caso ela estivesse mesmo interessada.- Retruquei dando de ombros ignorando o quanto as palavras me soaram ridículas.

Eu não quero nenhuma outra, mas ela não precisa ficar sabendo disso.

- O que foi que você disse?- Perguntou com um olhar mortal enquanto segura com força uma caneta recém encontrada.

- Disse que temos que nos preocupar com a missão, delimite o nosso raio de busca por favor e vamos descansar da viagem, eu estou exausto.- Respondi prestando atenção inteiramente no mapa.

Beatrice não está nem um pouco acostumada a não ter suas vontades atendidas, claro que ficou chateada mas decidiu não demonstrar e deu de ombros focando na sua função.

Ótimo, melhor assim.

Não quero cair na besteira de ficar falando maravilhas de outra mulher para ela apenas em uma tentativa desesperada de fazer ela sentir algo por mim, mesmo que seja raiva.

Ela fez um grande circulo no mapa, delimitando o nosso raio de busca e diminuindo as possibilidades de falha em pelo menos 60%, para nós diminuiu o trabalho para menos da metade.

- Quando vai querer começar as buscas?- Ela perguntou me encarando, eu sendo o chefe da segurança cabe a mim decisões táticas de ação.

- Talvez nós precisemos de uma equipe de apoio.- Comentei ponderando a respeito da oferta do Thiago sobre disponibilizar as suas tropas.

Não preciso de muitos homens, apenas uns quatro ou seis devem bastar para fazer o serviço divididos em duplas, mas vou conversar com ele antes, não quero abusar da hospitalidade.

- Se aquela oferecida for, talvez não volte.- Beatrice disse em tom de aviso e eu revirei os olhos.

- Bom descanso para você também Beatrice.- Falei abrindo a porta para que ela vá para o seu próprio quarto.

Ela saiu contrariada ao perceber que eu a estou pondo para fora, mas ao menos respeitou.

Se ela soubesse que para mim não existe nenhuma outra além dela...

Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Where stories live. Discover now