A família do meu amigo comemora o carnaval de uma forma diferente

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Poucas vezes fui à casa de Joel. Ele é o meu melhor amigo desde sempre, estávamos juntos no colégio e no final da tarde, ficávamos jogando online até próximo da hora de dormir. Nas raras vezes que estive na sua residência, sua família parecia normal, normal demais... os seus pais quase não falavam e se comportavam de forma robótica, com saudações na entrada, refeições em horários exatos, como se tudo tivesse sido ensaiado. Para piorar, eles observam segundos a mais do que o aceitável e nunca os vi piscar.


Algumas vezes perguntei ao Joel por que os seus pais são tão excêntricos, tentou parecer irritado, falhando miseravelmente. Poderia dizer que estava mais intrigado com o questionamento, e disse que acabou se acostumando. "Sempre foram assim, nunca fizeram nada de errado... é algo que acostumei, e os outros sempre reparam". Eu senti que estava sendo verdadeiro com sua resposta e percebi também o quanto já deve ter refletido o quanto os seus progenitores são diferentes do que os demais.


Nosso assunto sobre sua família voltou quando ele disse que iria participar, pela primeira vez, do carnaval, e a sua família costuma fazer na sua casa. Até então, ele não soube o que acontece no carnaval. Ainda explicou, tentando recordar dos poucos detalhes que recebeu, que acontece tarde da noite, e sua família nunca comentava nada sobre o ocorrido ou o que realmente acontece. Destacou sobre barulhos estranhos e gemidos, depois do cheiro azedo na casa, que permanece por algumas semanas.


Dias antes, Joel disse estar com um pressentimento inquietante sobre a ideia de participar. Eu não queria o deixar sozinho nessa, e nós combinamos que iríamos estar juntos: peguei uma mini câmera que filma ao vivo escondido do meu irmão e entreguei ao meu amigo. Ensinei como funciona, Joel só precisava colocar no cômodo onde iria acontecer o evento. O que fizemos acalmou os seus ânimos, o deixando mais seguro, sabendo que eu estaria por perto, e iríamos compartilhar a experiência juntos.


Ele levou a câmera para um quarto que, até então, "vivia trancado por três cadeados". Já estava gravando ao vivo antes da sua entrada no imóvel, que era "proibida", só para testar como seria a experiência. Ao adentrar no local, notei algumas caixas nos cantos empoeiradas e o que parecia ser algum líquido seco espalhado no chão marrom vinho. Ele comentou sobre o odor forte para mim, tentando cobrir o seu nariz com a camisa. Enquanto ainda mostrava o local para eu ter uma noção, vi uma lâmpada com uma corrente no centro, que foi acionada. Foi fácil encontrar qualquer canto para esconder a câmera, passaria despercebida de qualquer jeito, junto com as teias, algumas madeiras e os eletrônicos dos anos oitenta enferrujados ou quebrados.


Até então, nada me surpreender no lugar, era como qualquer outro quarto que você joga porcarias e esquece que existe.


Depois que disse estar gravando bem e que eu poderia ouvir claramente, desligamos os celulares, pois os seus pais chegariam a qualquer momento. Combinamos que nós entraríamos em contato no horário do evento para iniciarmos mais uma gravação ao vivo.


Estávamos jogando como de costume, até então, ele não mencionou nenhuma anormalidade além do habitual sobre os seus pais. Sem muita esperança de nada e quase dando a hora de dormir, concluímos que o evento poderia ter sido cancelado. Eu disse que ficaria em alerta por qualquer chamada e fui descansar com o tablet ligado nos meus pés.

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