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— Eu não acredito! — Minha voz ecoou pelo corredor e Daniel me puxou para dentro do quarto com os olhos saltando da órbita.

— Lia! São três da manhã — Sussurrou firme, chamando minha atenção.

Levei as mãos para a boca ao me tocar que as pessoas nos quartos ao redor provavelmente já estavam dormindo. Ricciardo fechou a porta em completo desespero.

— Dani! — A voz vinha de dentro do banheiro e não foi difícil identificar que era de Samantha — Tá tudo bem?

— Sim amor! — Respondeu, com um sorriso nervoso nos lábios — Tudo perfeito!

— Amor?! — Quase gritei novamente, era muita informação em um período muito curto de tempo.

Uma parte de mim não estava nem um pouco surpresa com aquilo, qualquer um podia notar a tensão quando os dois estavam no mesmo ambiente. Porém, a outra parte ainda tinha tudo como uma especulação fantasiosa.

— Vocês dois tão escondendo isso a quanto tempo? — Perguntei, me esquecendo do real motivo por estar ali.

Daniel foi até a cama e fez menção de começar a se vestir, então me virei para a parede entendo o recado.

— Não sei, uns meses? — Murmurou e pude escutar o chuveiro ser desligado.

Fiquei mordendo a bochecha, esperando ansiosamente para ver minha melhor amiga sair pela porta. Queria acusá-la por não ter me contando, mas olhando minha situação atual eu não tinha o direito de cobrar nada.

Samantha apareceu na porta, secando o cabelo com uma toalha e com o corpo já vestido em uma blusa velha que batia em suas coxas. Abriu a boca para falar algo, seja lá o que iria dizer, desistiu ao notar minha presença.

— Emília? — Seu corpo estagnou no meio do cômodo com o semblante confuso.

Ela encarou Daniel, que coçou a barba por fazer e franziu o nariz de maneira engraçada.

— Merda — Murmurou, fechando os olhos quase como uma oração — Não fica brava... — Já estava se desculpando.

Comecei a negar com um movimento de cabeça.

— Sabe, eu já desconfiava — Dei de ombros, evitando me magoar com aquilo.

Um sorriso começou a brotar nos meus lábios e tudo o que pensei foi em qual seria a reação de Hamilton quando soubesse. Não consegui prender o riso intrusivo e mesmo pressionando minha boca numa linha fina, acabei por gargalhar com a situação.

— Insuportável — Sassá revirou os olhos, mas também não evitou o riso, socando meu ombro levemente — Para de rir!

— Você tem que admitir que isso tá bem engraçado! — Apontei para os dois. Daniel também soltou um arzinho pelo nariz — Ah, qual é?! E aquele papo de "eu odeio o Ricciardo ele é tão idiota blá blá blá"? — Fiz aspas com os dedos e imitei sua voz de maneira cômica.

— Ok, você me pegou — Levantou os braços em rendição — Meio que ele não é tão idiota assim — Foi em direção do rapaz, grudando em seus pescoço e deixando vários beijos por todo o seu rosto.

Fechei meus olhos com as mãos e comecei a resmungar.

Eca! Tá bom! Já deu! — Brinquei fazendo os dois gargalharem.

Estava feliz por Sassá. Daniel era um cara legal, ele era do tipo que movia montanhas para te ver bem e não importava qual fosse o problema era um amigo para todas as horas. Sua presença se parecia com um sol radiante, ele arrancava risadas de todos com suas piadas ruins e seu sorriso fácil. Além da humildade e coração enorme, as pessoas gostavam naturalmente dele, sem esforço nenhum.

          

Poderia passar a noite listando suas qualidades, porque realmente eram muitas e não havia ninguém melhor para estar ao lado da minha melhor amiga. De alguma forma fazia muito sentido, um ao lado do outro, era certo.

— Mas, então... — O australiano se pronunciou, agarrando a cintura de Samantha e dirigindo seu olhar para mim — Você está bem? — Seu semblante mostrou-se preocupado.

Realmente, não era muito esperado que eu aparecesse ali durante a madrugada, então eu entendia a confusão em seu rosto.

Tentei não parecer nervosa, lembrando dos motivos pelo o qual eu vim. A imagem de um piloto específico voltando a atormentar meus pensamentos. Por onde eu deveria começar a me explicar?

— Eu nem sei como explicar tudo — Suspirei frustrada. Me joguei na poltrona na lateral da cama e o casal fez uma expressão parecida, intrigados.

— Do começo? — Samantha sugeriu, indo em direção do colchão para se sentar.

A forma que disse como se fosse óbvio, me fez revirar os olhos.

— Eu terminei com o Miles na quinta passada — Revelei, sem me prolongar demais no drama.

Os dois pares de olhos se arregalaram para mim. Vi que Samantha se animou, mas não quis demonstrar, provando o quanto se importava comigo, mesmo que não suportasse meu noivo, fingiu chateação para o caso de eu estar sofrendo com o fim da relação.

— Por essa eu não esperava — O piloto se sentou ao lado da garota, me avaliava como se a qualquer momento eu pudesse começar a chorar — Como você está? — Fui obrigada a rir.

Ah, não! Esse não é o problema — Sacudi a mão, como se aquilo não importasse.

E daí que meu noivado acabou, isso era o de menos!

Sei que não era o que esperavam, fazendo a situação ficar ainda mais embaraçosa.

— No dia da festa, depois do GP do Canadá, eu e Lewis conversamos, ele disse para eu procurar por ele caso mudasse de ideia sobre meu casamento. Acontece que desde Mônaco, minha cabeça tá muito confusa. Quero dizer, eu sabia que ia ser difícil, mas vê-lo se tornou uma tortura com o passar das semanas — Recuperei o fôlego, vendo os dois em minha frente com seus semblantes perdidos.

Expliquei o restante, obviamente os poupando dos detalhes da terça-feira. Contei sobre a nossa discussão por conta do que disse para sua mãe, sobre minha volta para Nova York e a conversa com Miles. As ligações não atendidas, o pequeno desentendimento no motorhome e o episódio recente com a Hadid e George.

Tudo ficou em silêncio por um tempo, eles pareciam raciocinar depois de tudo que contei. Ricciardo fez um som com a boca e seus olhos se focaram no chão, como se buscasse algo para me dizer.

— Que coisa né? — Coçou a lateral do braço, formando uma linha fina com os lábios.

— Pera ai — Sassá franziu o cenho e me encarou— Você tá me dizendo que terminou seu noivado, voltou com o Hamilton e praticamente terminou com ele de novo, em menos de uma semana? — Quase ri, porque dizendo em voz alta parecia cômico.

— Foi ele que praticamente terminou comigo — Pontuei, levantando um dedo em sua direção.

— Que seja! — Se jogou para trás na cama — Eu ainda tô processando — Suspirou, como se sua cabeça fosse explodir.

Os eventos dos últimos dias realmente tinham sido transtornados, então não podia julgar minha amiga por precisar analisar a situação. Acho que uma parte dela estava com vontade de sair cantarolando saltitante pelo quarto, afinal tudo que ela mais torcia era para que eu e o piloto voltássemos, já a outra provavelmente queria me esganar por não ter falado nada. Talvez ela estivesse decidindo qual das duas partes ela deixaria a dominar.

FLASHING LIGHTS - lewis hamiltonOnde histórias criam vida. Descubra agora