Violet sabia que não deveria ir no antigo quarto de sua mãe, sabia que seu pai ficaria furioso mas era difícil evitar procurar por ela quando sentia tanta dor. Desceu suavemente as escadas, vestindo sua camisola branca que certa vez fora de sua progenitora. Pelo menos daquela jeito ela matava a saudade que sentia da mãe, entrou no quarto e por um momento pode jurar que a fragrância que ela costumava usar, ainda se fazia presente no ar.
Queria poder ser uma adolescente frágil que corre para a mãe quando as coisas saiam de controle, mas naquele momento o seu único consolo era o quarto que um dia pertencerá a ela e que seu pai havia isolado depois da falecida ter partido.
Estar ali novamente lhe fez ter amáveis recordações de quando era uma menininha e corria para os braços da mãe sempre que chovia. Ela amava tanto que chegava a doer. Para Violet, não havia lugar mais seguro do que aquele, havia virado o seu refúgio.
Querendo reviver as sensações daquela época, se aninhou nos lençóis da mãe, inspirando o cheiro do travesseiro e recordando o perfume de rosas e avelã que ela tinha nos fios dos cabelos.
Depois de um tempo deitada derramando algumas gotas sobre a fronha, se levantou e sorrindo com certa tristeza passou a mão por alguns quadros e móveis que estavam por ali a anos. Só queria sua mãe de volta.
Deslizou seus dedos carinhosamente sobre as teclas do piano da mulher falecida, lembrando-se o quão bem ela tocava e o quanto amava cantar e tocar, era realmente boa.
Lágrimas de saudade começaram a escorrer pelas bochechas de Violet, ela quase podia ouvir a voz doce da mãe ao cantar algum clássico. Ela por sua vez também adorava cantar mas não o fazia desde a perda da mãe já que era algo que as unia e que elas tinham em comum. Logan também era contra pois provavelmente trazia lembranças da esposa.
Com muito cuidado, se sentou e deslizou suavemente os dedos sobre o piano, emitindo uma melodia calma e tranqüilizante. Fechou seus olhos e pensou no sorriso que a mãe costumava ter, fora sua fonte de inspiração.
A medida que a melodia ia surgindo, ela sentiu logo o corpo começando a relaxar e sua expressão ficar mais suave, sentia-se flutuando enquanto os dedos habilidosamente flutuavam sobre as teclas, tocando nelas tão suavemente que mal pareciam serem tocadas.
De longe, ela era admirada secretamente por um garoto que sempre havia feito aquilo desde a infância, amado-a de forma platônica.
- Uau. - Ravi aplaudiu quando a nota foi morrendo e o ambiente foi ficando silencioso, ela permanecia com os olhos fechados desfrutando das emoções. Ele amava aqueles breves momentos em que ela se permitia ser quem realmente era, cheia de luz, ao invés da menina marrenta e fechada com ar misterioso e sombrio.
- Merda... - resmungou Violet ficando sem graça por ter sido vista, ele sorriu de forma marota para aquela rara timidez. - Você não deveria ter visto isso.
Sua fala rude não surtiu o efeito esperado pois ao invés de se afastar intimidado por suas armaduras, ele apenas se aproximou de forma neutra e com os braços cruzados.
- Por que? - se sentou ao seu lado, sem tirar os olhos dela. - Você é maravilhosa, Violet. Quer dizer... - Ficou vermelho e envergonhado de uma forma doce, custando a acreditar que havia dito aquilo em voz alta. - Sua voz é maravilhosa, você é muito talentosa.
- Não exagera. Ela era talentosa, eu sou só... Boa. - murmurou com sinceridade pois sabia que nunca seria como sua mãe.
- Você se parece muito com ela. Sabe disso, não sabe? - Tentou consolar ao perceber o olhar cabisbaixo da garota e aquilo era a verdade, Violet carregava consigo muitos traços da mãe.
- Não... - ela negou olhando para o enorme quadro da mãe preso na parede, elas eram mesmo parecidas fisicamente mas nunca seria metade da mulher que ela fora. Não era nada parecida com a generosa e graciosa Beatrice. - Minha mãe era boa. Um anjo. Enquanto eu sou...
- Enquanto você é tão especial quanto ela foi. - Ravi só queria que ela lhe visse com seus olhos e soubesse o quão incrível era.
- Eu faço coisas tão ruins. - Disse, era difícil se parecer com a gentil mulher que lhe dera a vida quando agia tão cruelmente com outras pessoas. - Não sou uma boa pessoa.
- Pessoas boas também cometem erros, isso não as torna menos boas, só as tornam mais humanas.
Ele tocou a mão dela que ainda repousava sobre uma das teclas, com suavidade. Violet encarou seus dedos conectados com sua pele e instantaneamente teve uma vontade absurda de retribuir ao carinho. Se contendo ela olhou para ele se perguntando como alguém podia ser tão bonito e gentil, como podia nunca ter notado a raridade que era Ravi Carter?
Ele era uma pessoa tão calma, diferente dela que sempre fora a menina problemática. Ela e Ravi eram o oposto um do outro, enquanto ele era calmaria, ela era um furacão, ele tão cheio de luz e vida, ela pertencia a uma escuridão deprimente. Por isso o tinha por perto desde sempre, Ravi lhe iluminava mas sempre como um amigo leal e prestativo. Quando foi que ele cresceu e despertou em Violet sentimentos diferente da amizade?
- O que está fazendo aqui? - seus pensamentos foram interrompidos abruptamente quando uma figura alta apareceu na porta. - Que merda está fazendo aqui?
- Pai... - Violet murmurou tão baixo que eles quase não conseguiram escuta-la.
- Você sabe que não pode entrar aqui. Sabe que esse quarto tem que permanecer fechado, mas que porra! - o homem estava com uma expressão completamente brava, como se estivesse prestes a perder o controle.
- Pai, eu... - Ela se ergueu e encarou o rosto dele mas não o reconheceu naquele momento. Seu pai sempre fora rígido mas naquela situação nem ao menos se parecia com ele. - Eu só queria...
- O que você quer? Torturar a mim? A seu irmão? - Logan se tornará amargo daquele jeito desde a tragédia que levará sua esposa e desde o ocorrido era proibido naquela casa qualquer coisa que a lembrasse. - É isso? Você quer que a gente sofra?
- Senhor Rivers... - Ravi chamou a atenção para ele quando viu que a dor lampejou nos olhos da garota. - Desculpe mas acho que está um pouco nervoso e deveria se acalmar.
- Não se meta nisso, menino. - O homem se virou para ele como uma fera furiosa. - Você não sabe de nada sobre esse assunto.
- Sim, eu sei sim. - afirmou com firmeza mas continuou mantendo sua educação. - Violet sofreu muito com a morte da mãe, eu estava lá com ela. - queria dizer "fazendo o que o senhor deveria fazer." mas achou que não seria bom soar tão rude.
- Oh, eu já entendi o que está acontecendo aqui... - Uma risada amarga escapou dos lábios de Logan quando ele avaliou o jovem parado a sua frente. - Você a ama, não é?
- Eu não sei do que o senhor está falando. - Mentiu, fingindo realmente não compreende-lo.
- Ah, você sabe sim... - Seu sorriso se alargou ainda mais. - Acha que eu nunca notei? O pequeno e prestativo Ravi, sempre cuidadoso com a minha filha malcriada. Sempre rastejando aos seus pés, esperando por qualquer migalha de atenção que ela resolvesse lhe dar.
- Está sendo inconveniente, senhor Rivers. - avisou com sua educação inabalável embora o tom de voz já demonstrasse seu desconforto. - Sua filha e eu somos amigos desde a infância, nossas famílias sempre foram muito próximas, melhor do que ninguém o senhor deveria saber disso.