Capítulo 29: Você tem um mapa?

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Fedra me olhou por um momento longo e tenso, com os olhos faiscando como se eu tivesse enfiado uma faca no seu coração. Não me importava se estava sendo grosseiro ou não. O melhor pra ela era se manter longe de mim. O melhor pra ela era ir pra casa, onde estaria em segurança. Por décadas eu não soube cuidar nem de mim mesmo.

Não posso arcar com a responsabilidade de lidar com outras vidas também. Mesmo que Sebastian agora fosse uma responsabilidade minha, quando tudo isso acabasse, eu o deixaria em um lugar seguro e confortável, bem longe de mim. Não porque eu não o quero, mas porque sei que ele vai estar mais seguro assim.

Quando ela não disse nada, eu sai do quarto e fechei a porta, escorando minha cabeça na madeira quando fiquei sozinho. Um suspiro pesado cortou meus lábios, com minha cabeça me lembrando de todos os motivos que me fizeram evitar me envolver emocionalmente com qualquer pessoa. Confiança, amizade e amor eram uma fraqueza aqui dentro. Não posso me dar ao luxo disso agora, quando tinha um caminho para sair daqui.

Com os músculos rígidos e a respiração pesada, segui até o escritório de Hunter. Seus homens me observaram quando apareci entre eles, murmurando sobre o dragão, sobre Jonas e sobre Fedra. Ignorei todos eles, mantendo a cabeça erguida e a expressão fria quando bati na porta do escritório daquele mago, repassando cada coisa que precisaria fazer. Não ia apenas passar Hunter pra trás. Iria fazê-lo se arrepender de ter ameaçado Fedra ao tentar me chantagear.

—Olha quem finalmente despertou do sono da morte. —Sadie soltou uma risadinha quando me viu, passando a língua sobre os lábios vermelhos. Não estremeci sobre o olhar faminto dela, sentindo a raiva corroer meu coração quando me lembrei de suas palavras no quarto, quando ainda pensava que eu estava dormindo. —Hunter já estava ficando ansioso.

—A ansiedade é uma inimiga perigosa. —Sibilei, passando por Sadie para entrar no cômodo.

Hunter, como eu esperava, estava sentado atrás da longa mesa de madeira, jogando cartas com Khan. Meus lábios se comprimiram ao ver o campeão dele ali, porque esperava manter distancia dele enquanto estivesse naquele navio. Mas eu não deveria ficar surpreso, quando a sorte nunca está do meu lado.

—Estava começando a me perguntar se deveria ir atrás de você. —Hunter murmurou, sem erguer os olhos para me encarar. Observei ele pegar uma carta e jogar sobre o monte, fazendo Khan sibilar um xingamento baixo. —Nossa saída dos territórios de Jonas foi em grande estilo, sabia? Ele está com merda até o pescoço.

—Ele já notou que Fedra desapareceu? —Indaguei, me aproximando da mesa aos poucos, vendo-o morder o lábio, enquanto analisava as cartas na sua mão para a próxima jogada.

—Pelo que eu ouvi, sim. Mas outra das amantes dele também fugiu no meio da confusão. —Hunter jogou outra carta, soltando uma risadinha para Khan. —Então, como eu disse, ele está com merda até o pescoço. Acho que isso nos da alguma vantagem.

—Fico me perguntando se Jonas é tão ruim na cama, a ponto de uma de suas amantes o trocar por um escravo e a outra fugir na primeira oportunidade. —Khan soltou uma risada maliciosa que fez meu sangue ferver dentro das veias.

Não respondi aquilo, mesmo que minha língua formigasse para que eu a fizesse. Tinha certeza de que Fedra nunca quis se deitar com Jonas, em todos esses anos que passou com ele. Tinha certeza de que ela havia sido violada, sendo obrigada a dormir com ele sempre que Jonas desejava. Era não era sua amante. Ela era uma prisioneira e escrava, tanto quanto eu. Pensar na morta a dando de bandeja para algo assim, fazia meu estômago dar um nó de puro horror e nojo.

—A questão agora é você, Fox. —Hunter prosseguiu, ainda sem erguer os olhos para me encarar, mais concentrado no jogo do que qualquer outra coisa. —Cumpri minha parte do acordo. Você está com a fêmea que queria e não é mais um escravo. Sua vez de me levar até o lugar onde a sereia está e consegui-la pra mim.

—Fizemos uma aposta, sabia? —Sadie se aproximou, me fazendo dar um passo para longe quando suas mãos se aproximaram demais do meu corpo. O sorriso mordaz que ela me deu foi resposta para aquilo. —Khan apostou que você estava mentindo sobre a sereia, apenas para se livrar de Hunter. Eu apostei que você não era burro o suficiente para tentar nos enganar.

—Por favor, prove que eu estou certo, seu merdinha. —Khan sibilou, fazendo Hunter lançar um olhar afiado na direção dele. Confirmar que eu estava o enganando faria Hunter se sentir rebaixado. Ele iria querer me esfolar vivo. Mas ele iria precisar entrar na fila, porque não tinha a intenção de parar agora.

—Pra onde estamos indo? —Questionei, observando Hunter fazer mais uma jogada com suas cartas. Pelo brilho nos olhos dele e pelas cartas que eu via na mão de Khan, o mago estava muito perto de ganhar aquilo.

—Mantive a direção para o Lago de Sangue, que é onde os outros campeões estão indo agora, depois que a fuga do dragão acabou com a diversão deles de ver você ser dilacerado no fosso. —Hunter murmurou, me fazendo comprimir os lábios, enquanto acompanhava todos os movimentos dele, avaliando Khan como se ele fosse mesmo seu inimigo e ele estivesse prestes a enfiar uma adaga na garganta dele. —Eu não queria levantar suspeitas, além de você não ter me dado qualquer direção a seguir.

—Se eu tivesse te dado, você poderia muito bem ir embora sem mim. —Retruquei, vendo Hunter soltar uma risadinha afiada, como se ele gostasse do meu atrevimento naquele momento. —Você tem um mapa? Vamos precisar mudar a sua rota.

Ele fez a última troca de quartas, antes de colocar seu jogo sobre a mesa quando completou os três trios de naipes. Finalmente Hunter ergueu a cabeça e me encarou, um sorrisinho surgindo no canto dos lábios quando Khan xingou e jogou as cartas na mesa depois de ser derrotado.

Ele podia estar jogando com Khan e até mesmo vencê-lo, mas era eu o seu maior oponente. Minhas cartas não eram nem um pouco boas. Mas eu tinha uma jogada escondida embaixo da manga, que me garantiria caminho direto para a sala dos tesouros perdidos.


Continua...

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